O empresário do regime do MPLA, que é luso-angolano, Álvaro Sobrinho, antigo CEO do Banco Espírito Santo Angola (BESA), é suspeito de ser o beneficiário efectivo de três companhias angolanas que terão recebido de forma não justificada um total de 433 milhões de dólares do banco. Também aqui é caso para dizer: nada de novo. Por alguma razão o MPLA está no poder desde 1975.
A
esta soma juntam-se 182 milhões de dólares que Álvaro Sobrinho terá
recebido em nome próprio através de duas empresas offshore, num total de
615 milhões de dólares (499 milhões de euros) que teriam sido
originalmente concedidos pelo BESA como empréstimos a empresas.
Continuamos na fase em que o empresário se limita a honrar o ADN do
regime que o criou.
A
suspeita é noticiada pelo Expresso na edição de hoje e baseia-se em
documentos obtidos pela revista alemã Der Spiegel e partilhados com o
semanário português no âmbito de um consórcio internacional de
jornalismo de investigação.
Da
documentação constam extractos bancários, e-mails e ficheiros Excel que
indicam movimentos como um depósito de 277 milhões de dólares em
dinheiro vivo numa conta do BESA, cuja verba seguiu depois para outras
entidades. Ou o levantamento de quase 50 milhões de dólares em numerário
de uma companhia controlada por Álvaro Sobrinho, e o depósito de cerca
de metade desse valor, no dia seguinte, a 17 de Julho de 2012, numa
conta da Ocean Private – segundo escreve o Expresso, esta operação é
referida em e-mails entre o empresário e um familiar seu, com Sobrinho a
assumir a responsabilidade pela mesma.
O
buraco financeiro de 5,7 mil milhões de dólares detectado em 2013 no
BESA, recorde-se, teve um forte impacto nas perdas do BES em Portugal,
tendo sido um de vários factores a conduzir o Grupo Espírito Santo (GES)
ao colapso em 2014.
Agora,
e com base na documentação recolhida pela revista alemã, o Expresso
sugere que centenas de milhares de dólares terão acabado em entidades
controladas pelo antigo presidente executivo do BESA.
A
fortuna pessoal de Álvaro Sobrinho tinha sido objecto de perguntas
durante a comissão de inquérito parlamentar ao colapso do BES, quando a
deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua considerou o volume
patrimonial do gestor incompatível com a remuneração de um alto quadro
bancário. Na altura, Álvaro Sobrinho recusou responder, considerando o
assunto do foro pessoal.
Na
mesma comissão, em 2014, a deputada do CDS-PP Cecília Meireles também
perguntou a Sobrinho se tinham sido levantados 525 milhões de dólares do
BESA, e se tal operação seria comum. “Olhe, eu vou dizer o seguinte:
nem bancos americanos têm tanto cash… É um absurdo”, respondeu na
altura.
No
Parlamento, Álvaro Sobrinho disse ainda ser “impossível” ter concedido
créditos a entidades a si ligadas enquanto administrador do BESA, de
onde foi afastado do controlo executivo em 2012.
Em
Portugal, Sobrinho detém 29,9% da SAD do Sporting, segundo dados de
2016 da CMVM, e foi proprietário dos jornais Sol e i (estes últimos
investimentos através da offshore Pineview Overseas, sediada no Panamá).
Desde
pelo menos 2011 que Álvaro Sobrinho é investigado por suspeitas de
irregularidades na altura detectadas pelas autoridades angolanas,
relativas a transferências cruzadas entre o antigo quadro do GES e um
empresário português.
Em Portugal, as suspeitas da
prática de crimes de abuso de confiança qualificada e de burla
qualificada por parte de Álvaro Sobrinho levaram por três vezes ao
arresto de bens do empresário, de familiares seus e da empresa Grunberg
Portugal, por si detida. O arresto de bens acabou por ser sempre
levantado por decisão do Tribunal da Relação de Lisboa.
Em
Fevereiro, e segundo confirmou a Procuradoria-Geral da República de
Portugal, uma empresa de Sobrinho foi alvo de buscas no âmbito da
Operação Lex, em que o juiz desembargador Rui Rangel (também ele
luso-angolano e que revogou um dos arrestos de bens aplicados a Álvaro
Sobrinho) é suspeito de ter vendido decisões judiciais. Contudo, e até à
data, Sobrinho não é arguido neste processo.
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