A MATÉRIA QUE LEVOU GRAÇA CAMPOS À PRISÃO- SEVERINO CARLOS



Hoje já se pode fazer esta revelação de bastidores: a fonte da matéria que levou o director do Semanário Angolense a passar cerca de dois meses como "inquilino" da cadeia de Viana, corria o ano de 2007, foi um alto dirigente do MPLA. 

Graça Campos foi detido arbitrariamente, numa altura em que nem sequer haviam sido cumpridas as peças processuais e as fases do referido julgamento.

Embora não o tivesse assinado, fui eu quem escreveu o artigo em causa, em torno de uma denúncia contra Paulo Tjipilika. Ministro da Justiça na altura em que a matéria foi publicada, Tjipilika era acusado de, nessa  condição, traficar influências e promover,  irregularmente, o retorno de bens imóveis que haviam sido confiscados pelo Estado angolano logo após a independência do país a seus antigos proprietários portugueses.


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 Mas, na tarde em que eu e Graça Campos fomos ter com a fonte que forneceu os dados da denúncia, no seu escritório à baixa de Luanda, estávamos longe de pensar que o desenlace seria a estrepitosa prisão de GC.

 Ao longo destes anos, eu particularmente tenho-me interrogado sobre o que teria sucedido se tivesse aposto no texto a minha assinatura. Sempre tive a percepção de que o regime não teria ido tão longe. O alvo era realmente Graça Campos, e Paulo Tjipilika foi simplesmente o "cavalo de Troia" de uma investida -- mais uma de várias tentativas -- com a qual se pretendia intimidar e pôr em sentido o Semanário Angolense.  

Em nome da verdade e da justiça, o jornal foi uma pedra atravessada no caminho do regime. Defendia, com alma e coragem, os mais lídimos interesses da pátria, pondo em sentido a autocracia governante. 

A matéria saiu exactamente no dia 6 de Março de 2004, véspera do primeiro aniversário do Semanário Angolense. Junto com a polémica matéria acerca do processo de confiscos e desconfiscos que deu pretexto à prisão de Graça Campos, aproveita-se, já agora, para dar uma vista de olhos a um texto evocativo do aniversário do jornal, escrito pelo sociólogo Paulo de Carvalho (actualmente também é deputado), em reconhecimento do seu valioso contributo no panorama da comunicação social dessa época.


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