A Falência do Socialismo Real e a Ascensão da Extrema Direita (Onde se fala no surgimento do neo-liberalismo de esquerda) - Jaime Azulay



Num recente artigo na imprensa, João Melo afirma que a actual ameaça da extrema direita e do fascismo, é internacional, organizada e articulada e que nenhum país escapa a essa ameaça. Melo aponta como causas da referida ascensão, a dificuldade de renovação do campo político conhecido como “esquerda”. 

 

De facto, a renovação do campo político conhecido como "esquerda" tornou-se um desafio importante e requer reflexão crítica, diálogo construtivo e a busca por novas abordagens que possam ser conectadas com as demandas e preocupações das sociedades contemporâneas.

 

Melo utiliza a expressão “neoliberalismo de esquerda” de forma provocadora por causa da contradição aparente que desperta  o uso combinado dos dois termos, sabendo nós que o neo-liberalismo é tradicionalmente associado às correntes politicas de direita, enquanto a esquerda tende a defender politicas mais intervencionistas do Estado na redução das desigualdades sociais. Contudo, a realidade mostra  em alguns contextos, a existência de partidos de esquerda a adoptarem politicas económicas mais alinhadas com o neoliberalismo, como medidas de austeridade fiscal, privatizações, flexibilização das leis trabalhistas, entre outras. A efectivação dos direitos sociais assume a mesma dignidade e prioridade dos direitos políticos.



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O articulista sustenta que o “ caldo de cultura fundamental dessa ameaça é o neoliberalismo, a que também podemos dar outros nomes, como capitalismo extremista, hiper-capitalismo, capitalismo financista, capitalismo de casino ou capitalismo tecno-financeiro”, conclui.

 

Achamos oportuno e interessante o artigo em causa, uma vez que ele reflecte um debate relevante sobre a ascensão da extrema direita e do fascismo em contextos políticos contemporâneos, todavia, lamentamos o facto do distinto escritor e jornalista angolano ter limitado as suas análises dos impactos desse fenomeno ao contexto europeu (Portugal) e Americano (Brasil) sem qualquer referência a sua repercussão no continente africano. Muitos países africanos que estavam sob regimes de inspiração comunista ou socialista durante a Guerra Fria. Após o desmoronamento do bloco soviético, mudanças políticas e ideológicas aconteceram em muitas nações africanas e isso não pode ser descurado.

 

A dificuldade de renovação do campo político de esquerda, após a ocorrência de impactantes eventos como a queda do Muro de Berlim e a falência do "socialismo real" baseado na ideologia leninista-estalinista, tornou-se num tema  discutido por académicos, analistas políticos e líderes de movimentos progressistas.

 

De facto, eventos como a queda do muro de Berlim, a desintegração da União Soviética e o colapso dos regimes comunistas da europa do leste, no final do século XX, tiveram um impacto profundo no cenário político global. Foi de facto, o fim do chamado “ socialismo real” de cariz leninista-estalinista.

 

Isso levou a uma reconfiguração ideológica e a busca por novas formas de expressão do pensamento de esquerda, especialmente num contexto onde o neo-liberalismo passou a ganhar força. Há, de facto, uma evidente  tensão entre as tradições da esquerda e as pressões para ela adoptar medidas economicas consideradas alinhadas com o pensamentgo neo-liberal. Em linguagem terra-a-terra, podemos afirmar que a esquerda e o neo-liberalismo são, tradicionalmente considerados como opostos ideológicos.

 

A dificuldade em redefinir e revitalizar a agenda política de esquerda, pode ter contribuído para abrir lacunas e criar insatisfações que foram exploradas por movimentos populistas de direita, dando espaço a ascensão da extrema direita e do fascismo, em algumas partes do globo.

 

A ascensão dos movimentos políticos de extrema-direita não pode ser atribuída exclusivamente à situação de declínio da esquerda. Há uma série de factores sociais, económicos, culturais e históricos que também desempenham papéis significativos nesse fenómeno complexo.

 

Igualmente, estamos perante uma realidade que não é exclusiva de ocorrer em contextos não africanos. Em muitos países africanos, a queda do Muro de Berlim e o colapso do bloco soviético também tiveram impactos significativos nos regimes políticos e nas ideologias dominantes. Muitos países africanos estavam, sob regimes de inspiração comunista ou socialista durante a Guerra Fria. Após o desmoronamento do bloco soviético, houve mudanças políticas e ideológicas em muitas nações africanas, incluindo no nosso país, com o fim da República Popular de Angola e do regime de partido único.

 

A análise dos movimentos políticos de extrema direita agindo em contextos africanos requer uma compreensão aprofundada das realidades locais e das dinâmicas históricas e contemporâneas que moldam esses fenómenos. Os últimos acontecimentos que provocaram o retorno de regimes militares por intermédio de golpes de estado em alguns países do continente berço devem ser analisados e compreendidos.

 

Devemos referir que a ascensão da extrema direita e do fascismo pode assumir formas diferentes em contextos africanos, influenciada por dinâmicas políticas, sociais e históricas específicas do continente. Ela pode manifestar-se com outras questões como o nacionalismo étnico, a xenofobia, o autoritarismo e as desigualdades sócio-económicas, entre outros factores.


A Linha identitária da extrema direita 


As linhas identitárias da ideologia de extrema direita variam de acordo com o contexto histórico, cultural e político em que se manifestam, mas podem incluir algumas características comuns: i) Ênfase na identidade nacional, associada a uma visão exclusivista da cidadania e depertença à nação, frequentemente acompanhada por sentimentos anti-imigração e xenofobia. ii) Tendência a apoiar estruturas de poder fortes, centralizadas e hierárquicas, com pouca tolerância à oposição política ou à diversidade de opiniões. iii) Defesa de valores tradicionais em relação à família, gênero, sexualidade e moralidade, muitas vezes associada a posturas contrárias aos direitos LGBTQ , ao feminismo e a outras formas do chamado progressivismo social. iv) Uso de retórica simplista e emocional para mobilizar o apoio popular, frequentemente criando divisões entre "o povo" e "as elites" e promovendo um discurso “anti-establishment”. v) Tendência a promover a exclusão ou discriminação com base na origem étnica, religião ou raça, muitas vezes por meio de discursos que demonizam ou desumanizam grupos específicos.

vi) Oposição à integração global e a organizações internacionais, frequentemente associada a uma visão proteccionista em relação à economia e a um nacionalismo económico.

 

Contudo, de referir que tais características não são absolutas nem exaustivas. Diferentes movimentos ou partidos de extrema direita podem enfatizar os traços identitários, uns em detrimento de outros. 


As ideologias políticas são dinâmicas e podem evoluir ao longo do tempo, em resposta a novas circunstâncias políticas e sociais.


Bibliografia 


1. "A Maldição do Neoliberalismo" (2018) - Editora Civilização Brasileira

   Autor: João Pedro Stedile

2. "O Neoliberalismo História e Implicações" (2015) - Editora Unesp

   Autor: David Harvey

3. "Neoliberalismo e Pós-Modernidade" (2017) - Editora Vozes

   Autor: David Harvey


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