Na memória coletiva de muitos que cresceram nas ruas do Bairro Operário, uma figura se destaca: a prostituta de origem cuanhama, que se tornou um ícone nas noites da cidade. Mesmo sendo criança na época, recordo com clareza as escapadas da escola, apenas para testemunhar a movimentação frenética dos soldados portugueses em suas horas de folga.
Os brancos, muitos deles jovens do exército, perambulavam entre o Bairro Operário e o Marçal, à procura de companhia. O cenário era animado, com uma competição visível entre eles, todos disputando a atenção daquela mulher que se destacava pela beleza. Seu corpo, com curvas que pareciam montanhas, atraía olhares e desejos.
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Era fascinante observar o desfile de mulheres, tanto negras quanto brancas, todas aguardando o sinal de um cliente. Os soldados, muitos deles longe de suas namoradas e esposas em Portugal, trocavam palavras de forma peculiar, substituindo o "V" pelo "B". “Vinho” tornava-se “binho”; “vêm” transformava-se em “bindes”. Essa maneira de falar revelava um pouco da identidade deles, perdida em terras distantes.
A cuanhama, cuja pele era da cor de uma meia cafuza, era a mais procurada. Sua presença no bairro não era apenas física; ela simbolizava um tempo e um espaço em que as relações eram complexas e carregadas de histórias. Anos depois, soube que ela havia se casado com um ex-soldado que se tornou general no MPLA, recebendo um novo nome e uma nova vida, mas sem esquecer suas raízes.
Essas memórias não são apenas sobre a prostituição, mas sobre a dinâmica social de uma época, onde o desejo, a guerra e a busca por identidade se entrelaçavam nas noites do Bairro Operário. A história dessa mulher, e de tantas outras, permanece viva, ecoando nas lembranças de uma geração.
Fernando Vumby
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