A gestão dos mercados de Luanda continua a levantar preocupações devido à falta de higiene e condições precárias para vendedores e consumidores. Os produtos alimentares, especialmente aqueles perecíveis, estão expostos ao lixo, representando uma ameaça à saúde pública, enquanto as políticas governamentais não conseguem lidar com o problema de forma eficaz.
Nos mercados formais e informais da capital angolana, alimentos são vendidos em meio ao lixo, agravando os riscos de doenças. Filomena Bartolomeu, vendedora no mercado do Kicolo, lamenta as condições em que trabalha: “As moscas alimentam-se dos produtos que vendemos. Ainda assim, somos obrigadas a pagar entre 200 e 500 kwanzas diários aos fiscais, sem que haja qualquer melhoria nas condições de higiene. Não temos outro lugar para vender e é daqui que tiro o sustento para os meus quatro filhos.”
Além da falta de condições sanitárias, Filomena destaca a importância do seu negócio: "A minha casa e a educação dos meus filhos vêm deste mercado. É o único local onde posso ganhar a vida, mas as condições são extremamente precárias.”
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A Saudade do Mercado Roque Santeiro
Outro aspecto central nas queixas dos comerciantes e residentes é a nostalgia pelo antigo mercado Roque Santeiro, um dos maiores mercados informais de África, que foi encerrado há mais de uma década. Muitos veem essa decisão como um erro que prejudicou a economia informal e deixou milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade.
Um comerciante anónimo, residente no bairro São Paulo, criticou a falta de visão do governo: “O fechamento do Roque Santeiro deixou um vazio enorme. O mercado movimentava mais de um milhão de dólares por dia, e hoje, o que resta é uma eterna saudade pela pujança financeira e pela capacidade de empregos que gerava.”
Graciete Damião, empresária que iniciou a sua trajetória como vendedora no Roque Santeiro, também critica a falta de soluções adequadas após o encerramento do mercado: “O governo criou o Mercado do Panguila para os antigos vendedores do Roque Santeiro, mas a distância e a falta de clientes tornaram o local inviável. Muitos vendedores preferem enfrentar a informalidade e a corrupção dos fiscais para continuarem a trabalhar nos mercados locais.”
A Falta de Higiene e Organização
O lixo acumulado nos mercados é uma queixa recorrente entre os vendedores e moradores. Manuela Miguel, outra vendedora, relata que, além da falta de condições para o comércio, os mercados são usados como balneários públicos: “Os seguranças cobram para as pessoas entrarem à noite para defecar nas áreas dos mercados. É revoltante ver que, de manhã, encontramos fezes nos locais onde deveríamos vender. Essa falta de organização e higiene está a destruir os nossos negócios.”
Graciete Damião vai além, questionando a competência do governo em gerir os mercados: “Se há lixo por toda a cidade, o que podemos esperar dos mercados? As administrações locais não fazem o trabalho de limpeza necessário, e nós, comerciantes, sofremos as consequências.”
Um Problema Antigo
O docente universitário Daniel Pascoal Nguelengue acredita que esses problemas são reflexos da má gestão do país. Para ele, a estratégia de “Trabalhar Mais e Comunicar Melhor”, defendida pelo governo, não está a surtir efeito: “O executivo não está a conseguir administrar o país. O lixo nos mercados é apenas um sintoma da extrema miséria em que o povo vive. O governo continua a não investir no ser humano, nas áreas essenciais como saúde, educação, habitação, saneamento básico e acesso a água e energia.”
Nguelengue ressalta que, apesar das condições adversas, muitos comerciantes continuam a operar nos mercados, buscando uma forma de sobreviver. “É triste, mas muitos encontraram estabilidade financeira mesmo vendendo em condições deploráveis, em meio ao lixo e à falta de higiene. Isso reflete o espírito de sobrevivência em meio à miséria que o povo angolano carrega.”
A falta de infraestrutura e políticas públicas eficazes para lidar com o comércio informal em Luanda continua a prejudicar os comerciantes e os moradores da cidade. O lixo nos mercados, a corrupção dos fiscais e a ausência de alternativas para os vendedores são apenas alguns dos muitos desafios enfrentados diariamente.
As vendedoras e empresários clamam por uma solução que inclua a criação de mercados organizados, limpos e seguros, onde possam trabalhar sem colocar em risco a saúde dos consumidores e suas próprias condições de vida. Para muitos, como Graciete Damião e Filomena Bartolomeu, a sobrevivência depende da venda informal, mas a falta de higiene e a desordem nos mercados representam um obstáculo que o governo precisa enfrentar com urgência.
Elias Muhongo
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