O DIA EM QUE O JORNALISTA SILVA CANDEMBO TREMEU- SEVERINO CARLOS



Amigo da primeira hora, tal como eu, o jornalista Silva Candembo também faz anos hoje, 18 de Abril. 

Tenho-o como o melhor jornalista desportivo de Angola. Quero dizer jornalista-jornalista mesmo e não comentador ou relatador de jogos. 

É um tipo que joga a toda a largura do terreno no seu métier. Nunca o vi tremer diante de nenhum adversário, por mais durão que seja. 

Minto. Uma vez eu o vi tremer que nem varas verdes, como se diz. Foi diante do recém-falecido guarda-redes Alfredo Napoleão Brandão, nas nossas lides conhecido como o “Inacebível” ou o "Patatices". 



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Creio que estávamos em 1986 e e eu e o Candembo trabalhávamos no Jornal Desportivo Militar. Tínhamos (temos) a mesma sigla (SC), com a qual assinavamos sobretudo textos curtos como as caixas, ou mesmo peças maiores em certas situações menos comuns. 

Um dia desses Silva Candembo e s colegas cobriram um derby entre o Petro de Luanda e o Primeiro de Agosto, pontuável para o Girabola. Candembo assinou uma das peças apenas com as iniciais do seu nome: SC. No conteúdo da caixa o jornalista atribuía ao keeper  militar um erro que veio a resultar, fatalmente, em golo (creio que decisivo) a favor da equipa tricolor. 

Para quem não conhecesse o estilo de escrita, a sigla SC tanto poderia significar Silva Candembo como Severino Carlos. E quem incorreu nessa confusão foi exactamente  o guarda-redes Napoleão. Ele pensou que fosse eu o autor da peça em questão.  

A redacção do JDM funcionava no mesmo edifício, localizado  no Rio Seco,  que também acolhia, simultaneamente, as sedes do Comité Desportivo Nacional Militar (CODENM) e do clube central das Forças Armadas, Primeiro de Agosto. Tanto que era muito comum, naquela época, ver-se naquele recinto jornalistas, atletas e dirigentes desportivos em animadas conversas e tertúlias. 

Era uma quinta-feira de manhã, um dia depois da edição do JDM ter saído à rua, o que sucedia, religiosamente, às quartas-feiras. A manhã estava tranquila e o pessoal do JDM encontrava-se em plena faina na redacção. E, claro, lá estavam os dois SC, Severino Carlos e Silva Candembo. 

A certa altura ouviu-se, como um trovão, um gutural “Quem é o SC?”. E vimos a irromper pela sala adentro o guarda-redes Napoleão Brandão. Tudo indicava que ele vinha justamente para um atemorizador acerto de contas com o jornalista responsável pela peça que desagradaram terrivelmente o guardião militar. 

“Quem é o SC?”, voltou a ouvir-se a voz tonitruante de Napoleão, desta vez já posicionado no centro da sala, enquanto agitava nas mãos um exemplar do JDM dobrado exactamente na página com a crónica fatídica.

 Para os  jornalistas, o Keeper tinha, obviamente, um porte físico atlético e que impunha todo o respeito. Esta percepção era maior em relação ao nosso colega Silva Candembo, que naquele caso estava consciente, de que era o verdadeiro SC e tão procurado autor da peça que trazia o guarda-redes militar profundamente irritado. 

Sucede, porém, que Napoleão fazia a pergunta ameaçadoramente, mas tinha os olhos fitos em mim, Severino Carlos. 

“Quem é o SC?”. A terra voltou a tremer num sismo de não sei quantos graus na escala de Richter. 

Pelo canto do olho vi Silva Candembo a suar por todos os poros e, esgueirando-se pelas paredes da sala, procurava desesperadamente a saída. Felizmente, para ele, o SC pretendido era outro.

Curiosamente, eu, o visado, é que me mantive tranquilito da silva. Como dizem os portugueses, conhecia de ginjeira o Napoleão Brandão, só de acompanhar os bastidores da equipa militar ou da Selecção Nacional. Sabia que por detrás daquele homem grandalhão residia na verdade um ser simpático, gentil e manso.

E assim foi. Enquanto o Silva Candembo se foi esgueirando até se ter escapulido completamente da sala, não tardou e Napoleão Brandão, que não viu a fuga empreendida pelo jornalista, baixou todo o arreganho que trazia. Limitou-se a dar a sua versão do que se passara no terreno. E o que se seguiu foi uma explicação hilariante. 

 “Eu estava na pequena grande área. Quando saí e fui para a grande área grande, já o Antoninho tinha curvado”, explicou o Keeper, somando mais uma das muitas simpáticas calinadas que dele coleccionamos. 

 Lá fora, enquanto isso, Silva Candembo respirava de alívio.


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