O bairro Rangel é um dos musseques mais antigos de Luanda, ao lado do Sambizanga e Marçal. Este assentamento surgiu ainda no período colonial, marcado pela ausência de infraestruturas integradas, limitando o acesso a serviços essenciais e dificultando o ordenamento urbano adequado.
Crescimento Demográfico e Expansão Habitacional
Com a independência de Angola, o Rangel experimentou um crescimento demográfico significativo, acompanhado por um aumento expressivo de habitações. Originalmente, a área era densamente arborizada, com predominância de eucaliptos, árvores reconhecidas pela sua capacidade de absorver águas subterrâneas. No entanto, a expansão habitacional descontrolada levou ao desmatamento dessas árvores, alterando drasticamente o equilíbrio hidrográfico da região. Como consequência, o bairro passou a enfrentar problemas crônicos de umidade, tanto em períodos secos quanto chuvosos.
Problemas Hidrográficos e Saneamento
Atualmente, o Rangel possui mais de dois milhões de residências, sendo que cada uma depende de fossas sépticas individuais. Isso significa que existem aproximadamente dois milhões de escavações sobre um terreno cujo lençol freático se encontra muito próximo à superfície. Essa realidade tem contribuído para a contaminação do solo com dejetos e águas residuais, gerando sérios riscos para a saúde pública e comprometendo a qualidade de vida dos moradores.
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A Urgência da Regeneração Urbana
A situação do Rangel assemelha-se a um autocarro com capacidade para cem pessoas, mas que transporta três vezes esse número. A superlotação compromete a mobilidade, o conforto, a ventilação e até mesmo a segurança. De forma semelhante, a densidade populacional e a falta de infraestrutura adequada no bairro têm causado um colapso urbano, com sérias implicações para o ordenamento territorial.
Propostas para a Regeneração
Para reverter esse cenário, torna-se necessária uma regeneração urbana profunda e planejada, que considere:
1. Reflorestamento Controlado: Reintrodução de árvores nativas que auxiliem na absorção das águas subterrâneas, mitigando a umidade excessiva do solo.
2. Sistemas de Saneamento Integrado: Implantação de redes de esgoto modernas, substituindo as fossas sépticas individuais para evitar a contaminação do solo.
3. Infraestrutura de Drenagem: Construção de sistemas de drenagem pluvial para controlar inundações e reduzir a saturação do lençol freático.
4. Planeamento Habitacional Sustentável: Redefinição do ordenamento urbano para acomodar a população de maneira organizada e sustentável.
5. Preservação dos Traços Históricos: Manutenção das características culturais e históricas do bairro, preservando a memória coletiva da comunidade.
A regeneração do bairro Rangel não é apenas uma questão de infraestrutura, mas um resgate da dignidade e da qualidade de vida de seus habitantes. Com um plano urbano bem estruturado e políticas públicas eficazes, é possível transformar o Rangel em um exemplo de desenvolvimento sustentável e inclusão social em Luanda.
A grande riqueza do Rangel reside em suas águas subterrâneas, que hoje causam transtornos, mas que, se bem aproveitadas, podem representar uma oportunidade para impulsionar o desenvolvimento local. O Rangel pode e deve ser regenerado, preservando sua história e criando um novo horizonte para seus moradores.
José Cabanga- Arquitecto e urbanists, natural do Rangel.
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