A Moral da Revolta Não É a Violência- Sousa Jamba



Um áudio viral de uma jovem angolana denunciou validamente as contradições de dirigentes do MPLA como Thomas Bica, que defendem sistemas públicos em Angola mas vivem no estrangeiro, educam filhos em escolas europeias e usam saúde externa. Contudo, o discurso resvala perigosamente para a violência como solução.


As expressões específicas que atravessam a linha ética incluem ameaças diretas como “99% dos homens do MPLA iriam presos e seriam fuzilados por mim”, “se eu me encontrar com Tomas Bicas em Lisboa, alguém vai correr”, “alguém vai sangrar”, “alguém vai levar chapada”, e “ou você vai me dar chapada na cara, ou eu vou te dar chapada na cara”. A jovem apela explicitamente aos “métodos dos congoleses na França” onde “dirigentes são apedrejados, são surrados”, declarando “está na hora” de implementar essas táticas.


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Esta atitude é contraproducente e parece destinada ao exibicionismo por várias razões: primeiro, a retórica inflamatória e violenta incita hostilidade em vez de fomentar diálogo, alienando potenciais aliados. 


Segundo, faz generalizações e exageros sem evidência (como afirmar que 99% dos homens do MPLA seriam executados), minando a sua credibilidade. 


Terceiro, foca-se em ataques pessoais (“estúpido”, “bandido”) em vez de crítica substantiva aos sistemas, reduzindo o argumento a espetáculo. 


Quarto, demonstra hipocrisia ao criticar quem vive no estrangeiro enquanto ela própria está em Portugal, Braga,  e planeia viajar a Lisboa. 


Quinto, oferece apenas indignação sem soluções construtivas ou reformas práticas. 


Finalmente, o tom dramático e as ameaças repetitivas sugerem que está a representar para uma audiência, priorizando o espetáculo sobre a substância.


De facto, muitos destes ativistas que criticam os dirigentes do MPLA por terem filhos na Europa partilham sociologicamente características com aqueles que criticam. As pessoas no interior de Angola não têm a opção de obter vistos ou ir ao estrangeiro - estão presas em Angola, têm de trabalhar em Angola, têm de fazer Angola funcionar, têm de criar soluções inovadoras para resolver os problemas do país. Não podem pagar nem têm conexões. 


Quando se vai ao estrangeiro, normalmente todo o processo de imigração envolve ir para algum lugar onde se encontra uma comunidade que pode ajudar - seja em Lisboa, Braga, Porto, Roterdão ou Londres. Estes são pessoas com um perfil sociológico específico no contexto angolano, que também denota um grau de privilégio, ao contrário daqueles no interior para quem sair de Angola não é uma opção.


Esta abordagem despolitiza a causa legítima, transformando exigência de responsabilidade em vingança personalizada. A história angolana já mostrou os perigos da raiva institucionalizada, criando cicatrizes profundas e cultura de medo.


Quanto à minha experiência: deixei Angola em 1976, vivi fora até 1983, mas em 1984 adiei uma bolsa na McGill University (Canadá) para regressar. Vivi dois anos na Jamba com a UNITA, passei fome no mato por um ideal de resistência nacional. Apesar de discordar posteriormente de vários aspetos da UNITA, nunca deixei de querer contribuir para Angola.


Em 2016, mudei-me dos EUA para Camela, Angola. As condições eram precárias e básicas - não tínhamos telefones até o falecido Segunda Amões organizar uma torre de transmissão especial que nos deu internet muito rápida. 


Foram construídas casas em locais remotos; eu tinha uma casa moderna onde muitos amigos me visitavam. A aldeia transformou-se; vimos Camela passar de nada para algo que nos deu muito orgulho. Em 2001, em Miami  Florida, num edifício caro e enorme com Segunda Amões, perguntei-lhe se seria possível ter algo assim em Angola. Ele respondeu: “Isto foi construído por pessoas, podemos fazê-lo se tivermos vontade.” Era isso que estávamos a fazer em Camela.


O que mais me impressionou foi a diversidade harmoniosa: pessoas da UNITA, MPLA, Casa-CE, católicos, testemunhas de Jeová, crentes tradicionais; todos coexistiam. Falávamos pouco de política porque estávamos interessados em implementar projetos. Cada um, à sua maneira, pode pensar em como ajudar o país do seu pequeno canto.


O ativismo exige coragem, lucidez e ética. A jovem representa a frustração crescente da diáspora face à hipocrisia das elites - sentimento válido que não deve ser ridicularizado. Mas evidencia também um dilema: como criticar o sistema sem reproduzir os seus vícios de intolerância e ameaça?


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