MAIS 400 DETIDOS: QUEM PAGA A FACTURA DO VANDALISMO? - Carlos Alberto



A Polícia, que se mostrou incompetente num primeiro momento - e, na verdade, deu azo a todas as consequências -, vem agora apresentar um balanço preliminar: mais de 400 cidadãos detidos, cerca de 25 lojas vandalizadas, cerca de 20 autocarros vandalizados, 3 agências bancárias vandalizadas, 3 caixas automáticas (ATM) destruídas e 4 mortos. Estes dados ainda pecam por defeito, porque o balanço não é conclusivo. O silêncio do Presidente da República e do MPLA, que sustenta o Governo, persiste, como se a ausência de explicações fosse uma estratégia de contenção política.


A verdade é esta: há um país que está a rebentar pelas costuras e há um povo que não vê luz no fundo do túnel. A reacção do Estado, mais uma vez, é repressiva. Não quiseram ouvir-nos/ler-nos. Nós escrevemos sobre os perigos. Não há explicações públicas convincentes, não há responsabilização de quem falhou na prevenção. E agora? Agora temos mais de 400 novos detidos a juntarem-se à já crónica superlotação das cadeias angolanas - e o número continua a crescer, porque as vandalizações continuam hoje, 29 de Julho, em vários pontos de Luanda e na província de Icolo e Bengo. Há relatos de lojas saqueadas no Sequele e, em algumas zonas, ouvem-se tiros disparados para o ar para dispersar cidadãos que tentam invadir estabelecimentos comerciais.


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O mais grave, porém, é que não se trata apenas de vandalismo gratuito, mas de actos motivados pela fome, pelo desemprego e pela incapacidade das famílias de sustentarem as suas necessidades básicas. Armazéns e supermercados como o Arreiou e o Kero estão a ser invadidos principalmente para saque de produtos alimentares, e não de bens de luxo. A crise social explodiu - e, ao que tudo indica, quem tem fome perdeu o medo.


Este cenário contrasta com o que aconteceu em 2022, no período eleitoral, quando, apesar do elevado nível de tensão política, com os resultados eleitorais, a Polícia Nacional, então sob comando do Comissário-Geral Arnaldo Carlos, conseguiu conter os ânimos e evitar convulsões sociais graves. Hoje, com uma nova liderança policial, no Comando-Geral, e um novo ministro do Interior, a realidade é o caos. Não se viu estratégia, não se viu capacidade preventiva, nem se viu liderança. O que se viu foi apenas reacção tardia e repressão descoordenada.

É uma incompetência da Polícia Nacional e do Ministério do Interior sem precedentes. E nós já alertávamos que a Polícia não estava no bom caminho. 


Mas há uma pergunta que poucos se atrevem a fazer: quanto custa ao Estado manter estes detidos? E quem se está a beneficiar deste modelo de encarceramento que prende, gasta e nada resolve?


Se cada recluso custa, em média, 50 dólares por dia ao erário - com base na taxa oficial de câmbio do BNA (28 de Julho de 2025), 1 USD = 911,955 kwanzas  - então cada preso custa 45.597,75 kwanzas por dia. Multiplicando pelos 400 detidos, o Estado terá de gastar 18.239.100 kwanzas por dia.

Por mês (30 dias), a factura sobe para 547.173.000 kwanzas.

E se estes cidadãos permanecerem presos durante um ano inteiro, o Estado pagará 6.566.076.000 kwanzas - mais de 6,5 mil milhões de kwanzas.


Tudo isto, apenas para manter encarceradas pessoas que talvez tenham sido apenas o rosto da frustração colectiva.

Mais de 6,5 mil milhões de kwanzas por ano para prender os desesperados. E menos de nada para resolver o desespero.


Mas o mais irónico - e revoltante - é isto: a mesma Polícia Nacional que falhou na prevenção, que ignorou os alertas e que permitiu que o caos se instalasse, sem qualquer exoneração visível até agora, será precisamente a instituição a receber mais orçamento para manter, vigiar e alimentar os novos detidos.

Ou seja, premia-se a negligência com mais recursos públicos, enquanto se continua a cortar na Educação, na Saúde e no apoio social. Assim funciona o sistema.


E há ainda uma outra dimensão que o Governo parece esquecer: os investidores, nacionais e estrangeiros, que estão a perder os seus bens no meio do saque e da desordem.

Quem responde pelos prejuízos causados nos supermercados, nas lojas, nos armazéns e nos estabelecimentos comerciais? Os empresários têm seguro? E quem não tem?

Será o Estado capaz de apoiar os que investiram no país? Ou esses investidores serão abandonados ao prejuízo?

Como se pode falar em atracção de investimento estrangeiro, se não há estabilidade interna, não há protecção efectiva à propriedade privada, nem confiança institucional?


O investimento foge do medo. E hoje, em vez de garantir segurança ao investimento, o país está a oferecer caos e incerteza.

 

E o SINSE? 


Onde está o Serviço de Informações e Segurança do Estado (SINSE) no meio disto tudo?

Como é que o principal órgão de informação estratégica do país não conseguiu prever esta crise social? Como é que não alertou o Presidente da República nem articulou com os demais órgãos do Estado uma resposta antecipada e eficaz?

Não é também isto um fracasso de Inteligência?

Num país onde se investem milhões na estrutura dos serviços secretos, o mínimo que se exige é antecipação e leitura de sinais sociais. Se o povo chegou ao ponto de invadir supermercados por fome, onde estava o SINSE? A ouvir? A calar? A proteger quem?


Num país onde se despedem professores, onde faltam medicamentos nos hospitais, onde a juventude está sem emprego, onde existem escolas públicas a funcionar sem carteiras nem casas de banho, como se explica este modelo de prioridade orçamental? Como se justifica este desvio absurdo de recursos para manter prisões lotadas enquanto as políticas de prevenção social falham em toda a linha?


Por detrás destes números, existe uma máquina de encarceramento gerida pelo Ministério do Interior, cujos tentáculos estendem-se às direcções provinciais dos Serviços Prisionais, aos comandos da Polícia Nacional e aos corredores onde se decide quem deve continuar preso - muitas vezes, sem julgamento e sem culpa formada.


Até quando vamos ignorar esta equação perversa: prisões cheias = cofres públicos abertos para alimentar esquemas de enriquecimento ilícito?


A vandalização de bens públicos e privados deve ser condenada, sim. Mas ignorar o contexto social, económico e político que a provoca é apenas adiar a próxima explosão.


E há mais uma pergunta que precisa de resposta:

Quando é que o Estado vai parar de reagir apenas com cacetete, algemas, gás lacrimogéneo e balas reais, e começar a governar com políticas públicas que tratem os angolanos como seres humanos e não como números de processo?


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