Mercado da Mabunda: um exemplo de progresso, mas com algumas reticências- Carlos Alberto



A reabertura do Mercado da Mabunda, após cinco meses de obras, representa um avanço concreto no reordenamento do comércio informal em Luanda. Mas, para que o investimento não se transforme em propaganda, será necessário garantir transparência na gestão, manutenção das infra-estruturas e dignidade contínua para quem lá trabalha.

Durante anos, o Mercado da Mabunda foi sinónimo de desorganização, insalubridade e informalidade. Vendedores ao relento, peixes em decomposição ao sol, lixo acumulado e um ambiente impróprio para qualquer actividade digna. Muitos prometeram requalificá-lo — poucos agiram. A verdade é que o novo rosto da Mabunda, reinaugurado recentemente, marca uma viragem que merece ser reconhecida.


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Com mais de 500 bancadas de betão, zonas de escamação com dezenas de posições, câmaras frigoríficas para conservação de pescado, casas de banho públicas, esquadra policial interna e um espaço coberto de mais de 3 000 metros quadrados, o novo mercado apresenta-se como uma infra-estrutura de referência para o comércio informal reordenado. A venda do peixe ganha novo rosto. Os próprios vendedores, antes instalados em condições precárias nas ruas adjacentes, reconhecem a mudança: agora têm condições mínimas de higiene, segurança e organização. O cliente agradece. O ambiente respira melhor. E a economia local ganha estabilidade.


É justo, portanto, admitir que o governador de Luanda, Luís Manuel da Fonseca Nunes, fez aqui o que muitos não conseguiram. Sem grandes discursos, sem grandes "teorias de comunicação", sem palanques ornamentados, com mangas arregaçadas, mostrou que governar também é resolver problemas concretos. A nova Mabunda é um símbolo do que pode ser feito quando há vontade, competência e foco na resolução de questões que afectam o quotidiano do cidadão comum.


Mas há reticências que não deviam existir


A primeira preocupação é a ausência de dados públicos sobre o investimento realizado. Quanto custou a requalificação? O governador não respondeu à pergunta da jornalista da TV ZIMBO em relação aos custos. E a jornalista devia ter insistido. O seu trabalho é mesmo questionar. Não é fazer propaganda. Houve concurso público? Que empresa foi contratada? Foram seguidos critérios de fiscalização independente da obra? O silêncio sobre o valor investido fragiliza a transparência do processo e pode abrir margem a especulações legítimas sobre a gestão dos fundos públicos.


Além disso, o verdadeiro desafio começa agora: manter. Estruturas físicas bem-feitas são apenas o primeiro passo. É necessário assegurar a limpeza diária, a manutenção das casas de banho, o bom funcionamento das câmaras frigoríficas e o respeito pelas regras de uso dos espaços. Quem irá fiscalizar o uso correcto das bancadas? Quem controla os pequenos esquemas que muitas vezes emergem nesses espaços — como taxas indevidas, favoritismos e especulação de lugares? Se o Estado não se mantiver presente, o caos pode voltar.


Por fim, há que olhar para o impacto social do projecto. Os vendedores que não conseguiram vaga foram integrados noutro local ou voltaram para a rua? Há um plano para os que ficaram de fora? Que política pública existe para garantir que o reordenamento comercial não se transforma numa nova forma de exclusão social?


É por isso que o balanço, embora positivo, não pode ser acrítico. A nova Mabunda é uma conquista. Mas, como tantas outras obras em Angola, corre o risco de se transformar num “elefante branco” caso não haja acompanhamento sério, prestação de contas e participação comunitária na sua gestão. Acima de a inaugurar, há explicações públicas que se impõem. 


Governar é requalificar, sim. Mas é também ouvir, manter e esclarecer. A reabertura do Mercado da Mabunda pode ser um exemplo — ou mais um ensaio. Cabe ao Governo Provincial de Luanda mostrar, nos próximos meses, que este não foi apenas um momento de propaganda, mas o início de uma nova forma de gerir os mercados e servir as populações.


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