Cuando Cubango Venceu- Sousa Jamba



Ontem, no debate entre Adriano Sapinala e figuras empenhadas em sustentar que a UNITA enfraquecera por falhas de Adalberto Costa Júnior, um adversário, inflado de presunção, atirou-lhe a frase que julgava decisiva: “Se tivesses nascido em Luanda, como eu, ouvirias melhor antes de falar.” Repetidamente sublinharam que Sapinala não nascera na capital, reclamando um privilégio hereditário, como se a proximidade das avenidas conferisse autoridade sobre o campo e a razão. O subtexto era claro: como ousas tu, vindo do Cuando Cubango, contrariar-nos? Cala-te, ajoelha, e aprende com o nascido em Luanda!


Ensinei em Washington, na Califórnia, em Oxford, onde a pedra antiga retém o passo de sucessivas gerações; atravessei salas no Brasil, Peru, Espanha, Alemanha, Irlanda, Eslovénia; levei a mesma inquietação à Costa do Marfim, Libéria, Sudão do Sul, Quénia, Uganda, Tanzânia; ensinei em Luanda, Huambo, Kuito, Luena, percorri Angola, e falei no Pacífico. Posso afirmar que a capacidade intelectual cada vez menos depende do sítio onde se nasce; o espírito, quando quer elevar-se, não reconhece fronteiras.


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Sapinala nasceu no Cuando Cubango, vem de gente estudiosa ligada à minha família; o seu avô materno, ainda vivo, foi aluno do meu pai, homem de Manico que chegou ao prestigiado Colégio Diogo Cão. Conheci Sapinala por volta de 2004; a primeira coisa que me disse foi que dedicava o tempo aos livros. Ontem, essa afirmação ganhou corpo; o homem nascera no interior profundo durante a guerra, mas aprendera a demorar-se nas ideias; enquanto alguns, por terem nascido na capital, confundiam naturalidade com mérito, ele trazia a disciplina do estudo, a sobriedade de quem sabe que pensar exige paciência.


Tenho encontrado alunos brilhantes em todas as províncias; o que lhes falta, se falta, não é talento, é a possibilidade de ler e aprender a pensar com método. Luanda, com a concentração dos meios de comunicação, fabrica ilusões; por ela passam figuras de brilho breve, impostores de retórica fácil, indivíduos de capacidade limitada que, por estarem perto das câmaras, ganham visibilidade imerecida. O debate de ontem expôs esse vício; Naice Zulu, o rapper, ficou longe do nível de Sapinala; intelectualmente pobre, irrequieto, interrompeu quando não lhe cabia, lançou proclamações bombásticas, gabou-se de ser mais capaz que os dez melhores quadros da UNITA, como se a fanfarronice compensasse a falta de substância; havia ali vulgaridade sem defesa, ausência de autoconsciência, a crença de que possuir um microfone é o mesmo que possuir uma ideia.


Sapinala manteve-se sereno; escutou como quem trabalha; falou sem pressa, com o peso justo das palavras; desmontou, frase a frase, a espuma dos outros com a força da clareza; quando a poeira assentou, percebeu-se que a vitória lhe pertencia por ter restituído ao debate a dignidade da razão.


Aquela noite podia ter sido uma radiografia séria da UNITA; podia ter-se discutido a eficácia das estruturas internas, a relação entre a presidência e os delegados provinciais, se a faculdade de o líder nomear delegados não cria dependências que corroem os princípios do partido; podia ter havido apelo à transparência financeira, com orçamento, rubricas, comprovativos; e cabia perguntar se as alianças de Adalberto Costa Júnior obtêm assentimento das estruturas competentes, que mecanismos de deliberação existem, como se comunicam ao militante comum. Podia ter-se examinado a operação presente do partido e se esse desenho, traduzido em governo, produziria decisões céleres e justas; e, porque muitos repetem que faltam programas, era a ocasião de abrir cadernos, citar metas, prazos e custos; ficou, porém, visível que alguns não haviam lido o que criticavam, e que Naice Zulu desconhecia o Projecto Mwangai, contra o qual se insurgiu com ardor.


Alguns críticos de Adalberto Costa Júnior dizem ter-lhe escrito a pedir audiência sem receber resposta; fazem disso prova de falta de democracia; ainda que a agenda de um líder seja impiedosa, o silêncio institucional alimenta suspeitas; por isso importa fixar canais claros e responsabilidades visíveis. Mais inquietante é a impaciência de quem deseja entrar no partido já no topo; há quem se convença de que a casa está cheia de tolos e que antiguidade e trabalho não contam; por terem nascido na capital supõem-se investidos de direito natural ao comando; esses delírios de grandeza são fumo que tolda a vista.


Perdeu-se uma oportunidade porque o ruído abafou a razão; a vaidade tomou o lugar do exame. A seriedade, como a inteligência, não tem morada certa; nasce onde há livros e paciência; prova-se quando se prefere a substância ao espetáculo; e o país, que precisa de programas e instituições, saberá distinguir o brilho falso da luz que serve.


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