General Simione, Presente 26 Anos Depois- Jaime Azulay



A fotografia foi tirada por mim há vinte e seis anos, estávamos sobre o tabuleiro esventrado da ponte do rio Membia, no Andulo, rodeados por um traiçoeiro campo de minas. A atmosfera cheirava a pólvora e a ferro queimado. O ruído surdo das bombas e tiros ecoava não muito longe, misturados com o rumor das tropas que avançavam. 


Eu estava lá, não como espectador, mas como parte viva dos acontecimentos, a reportar o curso da história de Angola. E não foi fácil, como se pretende fazer crer agora. Muitos fugiram, até vestidos de mulher.


A máquina fotográfica tremia-me nas mãos, mas o momento era aquele e o dedo zinha de pulsar o botão do clique. Foi o instante crucial em que ela captou firme a imagem que ficará para sempre. No centro está o general Simione Mucune, em plena operação militar, a apontar o dedo como se transmitisse ao tempo que o medo não tinha morada por ali.


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Era o Bie, era 21 de Outubro de 1999, era o Andulo. 


A guerra rugia como uma fera ferida nas matas e nos corações dos angolanos. Simione, nascido no Cunene, filho da terra dos guerreiros Kwanhamas, tinha o olhar de quem carrega a missão nos ossos e o destino nas veias. 


Nessa hora crítica para o destino da Pátria, o seu gesto condensava tudo o que Angola era naquele momento, um país ferido, mas que continuava de pé. Angola cansado, mas ainda capaz de sonhar com a paz.


Dois dias depois, o destino rebentou debaixo do seu veículo. Duas minas, a segunda de grande potência, calaram a sua voz e espalharam pelo chão da pátria o silêncio de um herói.


Eu próprio fiz o anúncio da tomada do quartel-general do líder das FMU, pela Radio Nacional as 13h  com uma entrevista  exclusiva ao próprio general Simione através de um telefone satélite emprestado pelo então CEMG João de Matos e depois pela TPA, as 20h30. Passem os anos que passarem essa é uma realidade que ninguém conseguirá ocultar, embora o tentem por diversas vezes.


No meu íntimo, o que mais me doeu anunciar, dois dias depois, foi a morte de um homem que eu admirava profundamente e acreditava que o dever vinha antes de qualquer medo.


Simione era desses militares raros, que combinavam a coragem física com a rígida disciplina moral. Tinha a firmeza de quem não recuava perante o perigo e a serenidade de quem sabia as razões por que lutava. 


Naquele memorável Outubro de 1999, em plena “ Operação Restauro”, Simione surpreendeu a África e o mundo, pela sua determinação e pela sua entrega, duas virtudes que se tornaram bandeira para todos os que combateram ao seu lado, desde Kussumua, Mambi, Liassaka, 

Gonga e tantos outros que também tombaram no cumprimento da missão de defender o Bie.


Hoje, ao olhar novamente para esta fotografia icônica e que está exposta na galeria dos Mártires da Guerra do Kuito, não surge apenas um homem fardado. Vislumbro um símbolo da nossa luta. Vejo um verdadeiro irmão de trincheira. Sinto dentro de mim  a eternidade de um gesto simples. Aquele dedo estendido para a frente, como a apontar para um futuro de Paz que ele próprio ajudou a conquistar com a dádiva da sua própria vida.


Esta crónica é para ti, general Simione Mucune!


E também para a tua filha e minha sobrinha Simiona, a menina que mal pegaste ao colo e quase não chegaste a conhecer, mas pediste que herdasse o teu nome e a tua luz. Simiona tinha apenas seis meses quando partiste.


Que ela saiba para sempre, que o seu pai foi um guerreiro da dignidade, um combatente da esperança, um homem inteiro que a história não conseguirá jamais esquecer, passem os anos que passarem.


General Simione Mucune, Presente!


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