A notícia da morte de Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” espalhou-se com chamas no bosques ressequidos pelo Kacimbo prolongado. Não fosse o caso, de Angola e os Angolanos viverem, durante meio século sob um regime de perpétuo Kacimbo.
O regime de infâmia e impiedade de nome: MPLA!
Tombou um dos maiores construtores desse regime!
De facto, Nandó e o regime se confundiam de tal forma que o regime preexistia em Nandó, do mesmo modo que era personificado em Eduardo dos Santos, Kundy Paihama, Pedro Maria Tonha Pedalé, Ludy Kissassunda e tantos outros que o tempo levou e vermes devoraram, apoteoticamente, nos respectivos sepulcros.
Na verdade, dos vermes diz-se ser tão vorazes quanto se vingavam pelas muitas vítimas que sucumbiram nas mãos dos implacáveis e sinistros defuntos servidores do regime.
Mas “ó morte, onde está a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”
O que ficou mais do que provados é que nem as missas com homilias empoladas do sumo sacerdote vermelho, nem os discursos hipócritas de eulogia e tão pouco as torrentes de lágrimas trazem os mortos de volta ao convívio humano.
PRIMEIRO MOVIMENTO: MISSA DE CORPO PRESENTE
A missa foi celebrada pelo Cónego Apolónio Graciano, que tudo fez para anunciar certezas muito intimistas como “irmãos e irmãs, estou certo que estas horas o Nandó já descansa na presença de Deus Pai!”
Mas qual Deus é este de que Padre Apolónio se refere? Seria o mesmo Deus das Aventuranças, dos Injustiçados, dos que têm fome de pão e sede de justiça…?
Nandó, para muitos viveu como morreu e morreu como viveu. Não há registo públicos que ele tivesse algum dia, publicamente, denunciado o regime do MPLA. Em contrário, defendeu-no:
“O mais importante é trabalharmos todos para a unidade e estabilidade do partido, para garantirmos a vitória em 2027!”
Antes defender a unidade e estabilidade do regime, do que fomentar um ambiente de competição politica democrático, transparente, livre, justo sem a fraude eleitoral.
O homem do regime sempre vive e morre em nome do regime? Sem contrição não há redenção na Cidade de Deus!
Qual é o custo da estabilidade e unidade do regime? Não tem custo nenhum, teria respondido, desde que a vitória em 2027 seja garantida! Quer dizer, o fim justifica tanto a delapidação desenfreada do estado e as riquezas de todos como a empobrecimento dos Angolanos pelo regime! De qualquer forma, que seja feita a justiça Divina pelas vítimas do regime!
SEGUNDO MOVIMENTO: EULOGIA AO CAMARADA NANDÓ
O segundo movimento do adeus à Nandó deu-se no Pavilhão Protocolar da Presidência da República.
Curiosamente, a Presidência de João Lourenço está a transbordar da cidade alta, para a cidade baixa. Os facistas vivem da expansão da grandeza necrófila artificialmente imposta pela força das armas do centro para às zonas periféricas de indigência e precariedade.
É desta grandeza necrófila que o rei-sol angolanizado vai expelindo as suas larvas de iniquidade:
Corrupção, fome, miséria e desemprego passam a ser males relativos, desde que tocados pelos raios solares da cidade alta! Esta passou a ser a forma mais fácil de combater o que está mal na governação desastrosa do rei-sol.
Ou seja, quer combater a corrupção? Então, promova o nepotismo e clientelismo!
Quer acabar com a pobreza multidimensional e aproximar os cidadãos dos serviços públicos essenciais? Crie mais províncias e municípios!
Quer acabar com a malária e mortalidade infantil? Construa hospitais terciários de referência!
Quer aumentar a qualidade de ensino e do capital humano? Invista na mono-docência e gaste sempre menos na educação!
Todavia, a peculiaridade e a atipicidade do rei-sol angolanizado está em viver na redoma dourada e fechada do seu paraíso artificial, erguido do peso das dívidas soberanas ocultamente bilionárias.
Esse mesmo pavilhão, onde jazia em câmara ardente Nandó, é epítome dos endividamentos insaciáveis do rei-sol, que se revela querer ficar na cauda da história como um imperador com pé de barro!
Foi neste pavilhão em que discursos empolados foram feitos pelos camaradas do regime e cânticos líricos foram executados com improvisada mestria. Mas a quem interessam em momentos de luto e dor os excessos laudatórios? Nem ao rei-sol e muito menos a Nandó tudo isso junto fazia sentido algum!
O momento prestava-se muito mais ao desdém e ironia protocolarmente presidenciais!
“O camarada Nandó contribuiu para o fortalecimento e afirmação do nosso partido na sociedade Angolana”, ressaltou o Comunicado do MPLA lido pelo Deputado Pedro Neto.
Outrossim, acrescenta-se a sua “militância no MPLA se confundia com o sentido patriótico.”
O momento mais marcante, porém, foi protagonizado pelos filhos do malogrado, que partilharam os valores de um ‘pater família’ dedicado e amigo dos seus amigos. O poder do testemunho límpido e sem filtros teria até arrancado lágrimas de comoção dos corações de pedregulho.
Teria apenas faltado nesta cerimónia a voz dos moradores do condomínio do Nandó, como exemplo de eventuais impactos positivos do seu serviço público na vida dos angolanos.
Mesmo assim os eventuais beneficiários da acção filantrópica de Nandó teriam murmurado a sua gratidão longe do espalhafatoso pavilhão.
Quem diria um defunto inauguraria o Pavilhão Protocolar da Presidência de uma forma que até melhor exalta o auge da necrofilia política nos dia de hoje.
TERCEIRO MOVIMENTO: ÚLTIMA MORADA DE NANDÓ
À escassos metros da entrada de cemitério Alto das Cruzes, havia um punhado de jovens vestidos com camisolas novas da JMPLA, o braço juvenil do MPLA. Captava qualquer atenção a forma como devoravam o pão embranquecido que lhes foi ofertado. O rosto do jovem se perdia em cada dentadura feroz que desferia ao pedacinho de pão!
Certamente, se lhes perguntassem o porque que estavam aí a fazer saberiam apenas dizer que estavam pelo pão. Mas era um pão que lhes era dado em troca da militância. Neste caso, possivelmente, tiveram que ouvir e engolir a seco o duro anátema do regime:
“Se queres pão ou emprego, então vista-se de JMPLA!”
E que melhor forma foi essa de homenagear o Nandó, cuja “militância no MPLA se confundia com o patriotismo”, como se afirmou atrás!
Mesmo já à entrada, lá do lado direito do cemitério, estavam as senhoras da OMA. No meio reconhecia-se uma médica. Meio embaraçosa, quereria ela dizer “não liga isso aqui…Só estamos mesmo aqui para defender o pão nosso de cada dia!”
Já no cemitério, os lugares para se estar naquele sol abrasador eram muito raros. As tendas eram reservadas. O rei-sol não veio ao cemitério, mas o sol radiante inquietava a todos.
Muitos procuravam a sombra natural das poucas árvores que ainda restam no Alto das Cruzes, a fim de se resguardarem dos raios solares. Mesmo aqui foi possível aprender uma lição da generosidade das árvores do cemitério que abrigam e acolhem, verso uma realidade de impetuosidade imperial que rejeita e priva os cidadãos de bens básicos.
Chegou o momento do sepultamento de Nandó. Ao Padre Apolónio Graciano coube proferir o rito da encomendação do corpo do malogrado seguido da deposição da urna no jazigo.
Tudo estava consumado!
O movimento para o julgamento final se iniciava com este apelo silencioso, discreto e perfurante para os Camaradas:
- “Amai os Angolanos!”
“Sede Construtores de uma Angola, verdadeiramente, democrática, livre, justa, próspera, solidária, plural, segura, reconciliada e pacífica!”
SERVINDO A CIDADANIA ACTIVA!
Por Paulo Faria
Docente e Deputado
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