Savimbi ficou muito nervoso com Nzita Tiago, porque ele me convidou para ser presidente da FLEC em plena Jamba

*Nzita Tiago na Jamba

O comandante Café e outros, como o meu sobrinho Franque, o Rafael, o Danda, o Filipe, chegaram à Jamba em 1986, mobilizados em Kinshasa pelos camaradas Kile e Abel Chivukuvuku, então nossos representantes naquele país irmão. O presidente da FLEC-FAC, Nzita Tiago, visitou a Jamba, tendo pedido a formação de quadros seus como instrutores militares para irem treinar as FAC. O pedido foi aceite e no seu regresso a Kinshasa enviou para a Jamba 15 quadros bem seleccionados, qjr receberam primeiramente um treino militar e depois se especializaram como comandos. Depois de formados, apareceu pela segunda vez o presidente Nzita Tiago. Desta vez, trazia uma proposta estranha para Savimbi: que se sentia velho e estava a pensar no Puna como seu substituto na liderança da FLEC. Savimbi respondeu-lhe:

— O Puna está aqui presente. Pode falar com ele directamente.
Diante desta situação, fui respondendo com alguma serenidade, mas sem tergiversar:
— Como é que eu posso dirigir a FLEC, uma organização de que nunca fiz parte desde a sua criação?

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E a história parou por aí. Nzita, estabelecido em Kinshasa, faz uma declaração em que dizia que a UNITA estava ligada aos sul-africanos. Savimbi, irritado, mandou desarmar o grupo que já estava pronto para partida. Os rapazes entraram em pânico, e isso forçou-me a ir ter com Savimbi para persuadir a não prejudicar os miúdos, pois não tinham de pagar pelas declarações de Nzita Tiago, e que diante daquela situação, talvez fosse melhor assumir uma atitude de pai. Em resposta, mandou-me enquadrar os rapazes em vários órgãos do partido, menos nas Forças Armadas. Foi assim que o Veras foi enquadrado na VORGAN, e os outros no liceu de Likua e na Escola de Formação Agrícola, como professores.

Depois da nossa saída da UNITA, Tony Fernandes e eu, durante a primeira viagem que fizemos aos Estados Unidos, incluindo Paulo Tchipilica, e nas visitas tanto ao Congresso como à Câmara dos Representantes, levantámos o problema de Raúl Danda e de Jack Filipe, feitos cativos na Jamba, bem como do grupo de 14 militares da s FLEC-FAC, enviados por Nzita Tiago para a formação militar (um deles tinha morrido de paludismo) e do meu próprio filho, Samba N'Zau Puna. Depois dos contactos dos americanos com Savimbi, estes foram postos em liberdade. Estava à vista que se não tivéssemos feito essa intervenção, a retaliação contra os cabindas que ainda restavam na Jamba seria inevitável, por causa da nossa deserção. Mas o meu filho ficou retido ainda por mais tempo e só veio a aparecer em 2002, depois da morte de Savimbi; nesta altura, eu era ainda embaixador de Angola no domínio do Canadá e estava de férias em Luanda.

Num desses dias, aparece um trabalhador do hotel a dar-me a feliz e tão esperada notícia de que se encontrava na recepção um familiar meu, de nome Samba. Surpreendido, fui logo à recepção, onde me deparo efectivamente com o meu filho. Fique sem palavras! Deus é mesmo grande, salvou-o depois de tantas peripécias por ser filho de um reaccionário. Entendem agora o porquê do Mal Me Querem? Enfim, para mim contou o tê-lo visto ainda vivo.

*"Mal Me Querem" — Autobiografia de Miguel N'Zau Puna.

Saiba mais sobre este assunto, clicando neste link https://youtu.be/bq5VA5tNIAw

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