Pandemia da Covid-19 afugenta “clientes” de prazeres sexuais

A saia amarela é justa e atrapalha a ginga no caminhar da moça que abandona um grupo de 13 mulheres e vem, às pressas, em minha direcção. Eu a aprecio pelo retrovisor direito do carro, enquanto ela ajusta as pontas de baixo do referido vestuário feminino e apruma o decote na blusa branca de alças.


Trabalhadoras de sexo dizem que nos últimos meses está difícil “facturar” devido à Covid

Em dois minutos, ela faz os cerca de dez metros e alcança o carro em que me encontro, parado ali nas imediações do Povoado, na Avenida Comandante Jika, no Distrito Urbano do Kilamba. Encosta-se à porta lateral do lado contrário ao que estou e faz ecoar sobre o interior do veículo uma voz cheia de sensualidade: “Olá, marido”, cumprimenta-me.
Sem rodeios, pergunta-me o que quero: “Uma rápida, com todos os acompanhantes ou algo mais simples?” Não entendo a linguagem dela, no seu todo, inicialmente, mas interpreto-a e respondo que a quero conhecer antes.

Enquanto conversa comigo, outros carros vão parando atrás do meu, mas, num ápice, a maioria arranca e parte sem nenhuma trabalhadora de sexo no seu interior. Embora as amigas estejam a atender os novos possíveis clientes, Noémia, baptizo-a assim, não desvia a atenção àqueles. “Diz algo, fofo. Vou fazer-te um bom trabalho, que não te vais arrepender”, insistiu a moça.
Nesse momento, um carro faz uma pequena paragem em frente ao meu. Ela solta-me e vai às correrias para lá. Mas, volta rápido à conversa comigo, para saber se já terei tomado alguma decisão. “O tempo é dinheiro, amor. Tens de te decidir. Sou boa, gostosa e ainda em dia, além de fazer bom trabalho”, detalha-me uma série de competências, como que a vender o seu peixe.
Para confirmar o que acaba de me dizer, a jovem, 26 anos, mãe de uma menina de seis anitos, dá três passos para trás e convida-me a apreciar os seus atributos físicos, enquanto rodopia. Com cerca de 1,70 metros de altura, Noémia tem a pele e olhos atraentes, tão brilhantes, que nem a noite consegue ofuscar.

São passados cinco minutos. A minha decisão tarda a chegar e a moça aborrece-se um pouco. Tenta ir-se embora, quando a chamo de volta. Asseguro que aceito ficar com ela, por uma “rápida”, desembolsando 3.500 kwanzas. Ao ouvir isso, Noémia abre a carteira, que tem pendurada no ombro esquerdo, tira o batom e repassa o vermelho lindo nos lábios.
“Se quiseres o carro no quintal, pagas mil kwanzas ao guarda, e se deixar aqui na rua é só 500, que é o valor do quarto”, explica-me as modalidades, para acrescentar que um acto com sexo oral e anal é mais caro, mesmo que seja para “uma rápida”.
Fico a pensar no preço e, pelas qualidades por ela avançadas, sugiro algo mais ousado. Para essa modalidade de deixar o local e ir a uma hospedaria/pensão, por uma hora de sexo, a moça pede-me sete mil kwanzas.

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“Se quiseres uma noite simples são 15 mil e, se for com sexo oral e, até, anal, arranja-me 35 mil kwanzas”, diz num tom a implorar que eu aceite, nem que seja “uma rápida”, por dois mil kwanzas, dada a escassez de clientes, nos últimos dias.
No momento em que Noémia ia contar-me sobre a fraca procura de clientes, desde que se prorrogou, pela segunda vez, o Estado de Emergência, por causa da pandemia da Covid-19, Sandra (nome fictício, também), uma colega de labuta da primeira, vem avisa-la que têm de sair do local, que a patrulha da Polícia está a caminho.

Sustento de casa
e suporte escolar
O carro da ronda policial passa e, sob o sinal dos seguranças de lojas e outros serviços ali por perto, num ápice, as jovens, na sua maioria, de nacionalidade congolesa, regressam e remarcam os postos à berma da estrada.
Os acenos para os automobilistas são a sua marca. E, desse gesto de esticar os braços para a estrada, que muitos homens param as viaturas ou chegam apeados, para “comprar o corpo” dessas mulheres, por horas ou minutos de prazer, ou melhor, de sexo.
“Por noite, quando as coisas estão nos bons dias, não levo menos de 30 mil kwanzas para casa”, diz-me Sandra, que rejeita dar-me o endereço da residência e/ou o número de telefone. A cifra pode duplicar e, às vezes, triplicar, caso consiga uns três clientes, para sessões rápidas, e mais outro, para passar a noite, como concorda Noémia.
Sandra é finalista do ensino secundário, num colégio privado, onde estuda Ciências Económicas e Jurídicas, enquanto Noémia não passou da 10ª classe, depois de abandonar os estudos, há oito anos, quando descobriu estar grávida da filha, que, infelizmente, está sem o apoio do progenitor.
Quando terminar os estudos médios, Sandra, 22 anos e ainda sem filhos, mas órfã de pai, desde os seus 11 anos, pretende frequentar o curso de Direito, para realizar o sonho de ser advogada. Já a amiga Noémia quer ver a filha crescer saudável e inteligente, no sentido de ajuda-la a sair da vida que leva actualmente.
“Minha mãe sabe que trabalho numa lanchonete, mas, mesmo que ela descubra o que faço, não consigo ainda parar esse trabalho porque é o que ajuda em casa e a pagar a minha formação”, justifica Sandra, moça de tom de pele morena e de cabelos longos.
As duas mulheres sabem o preconceito que podem sofrer, caso as pessoas próximas descubram que são prostitutas, mas, enquanto novas oportunidades de emprego não surgem acreditam que “é a vender o nosso corpo que sustentamos a família”.


Alternativa era as imediações do Camama que também “fecha as portas”
O dia de Noémia e de Sandra, na Avenida Comandante Jika, no Kilamba, não está favorável. São 21h20 e, entre as 15 colegas, só duas já conseguiram embolsar algum dinheiro, com o atendimento de um cliente cada, para sessões rápidas.
“Aqui, a situação está mal. A Covid-19 nos levou os clientes. Antes, podíamos atender umas seis pessoas por noite, mas, agora, há três dias, nem um único caso conseguimos. Estamos a passar fome”, reclamam as jovens. Como alternativa, elas pensam partir para outras zonas de actuação; o Camama e o Calemba II.
Pela gentileza das jovens, aliás, por ter ocupado parte do tempo delas com conversas, eu ofereço-me a dar uma boleia às novas amigas, até à zona da Loja de Registos do Camama. Mas, pelo que se vê, o local de concentração das trabalhadoras de sexo está às moscas.
“Essas devem ter trocado de lugar, por causa da Polícia ou, então, abandonaram o trabalho, por medo da Covid-19”, desconfiam as duas mulheres. A partir de tal argumento, pergunto se elas não têm algum receio de contaminação dessa pandemia. “Está amarrado! Deus é por nós, porque não estamos a roubar ninguém”, rematam.
Parto, com elas, para o Calemba II. Na rua que liga o Triângulo ao Estádio 11 de Novembro, elas pedem para ficar. Antes de descerem do carro, agradecem o meu gesto e prometem que, um dia, caso eu volte, oferecem uma rodada de graça.
“Dá-nos ainda uns dois mil para os teus filhos, amor. Não queres o nosso trabalho, mas podes ajudar as tuas irmãs”, apelam. Pedido aceite e entrego uma nota de dois mil kwanza à Noémia, para partilhar com Sandra. Agradeço pela amizade e, depois, vejo-as mergulhadas num novo grupo de mulheres, também, composto por muitas congolesas.
O cenário é praticamente o mesmo que se verifica no Kilamba, mas as mulheres dali não arredam pé. “Vai com Deus, fofinho”, despedem-se. E, assim, deixei-as ali, prontas para mais uma noite de desafios. Dar prazer e levar homens ao delírio, em troca de valores monetários.

Saiba mais sobre este assunto, clicando neste link https://youtu.be/GesgYnkzVcY

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