Nos tempos, quando apenas era conhecido pelo que escrevia nos jornais ou se ouvia nas rádios, LITERALMENTE ARREDIO DAS REVISTAS E TELEVISÕES, muitos imaginavam que eu fosse um senhor mulato, todo grandalhão, cheio de carrões, que entrava e saía do Futungo de Belas, o primeiro centro do poder de José Eduardo dos Santos, quando lhe apetecesse.
Além de já ter sido obrigado a mostrar documentos para provar quem era em várias ocasiões, certo dia cheguei a levar uma «estiga» geral numa batida por dizer que eu era eu. «Olhem este gajo a dizer que é o Salas Neto», berrou o engraçadinho que parecia ser o chefe da malta que lá encontrei, antes de lançar uma gargalhada toda sarcástica, que daria lugar a uma sessão de verdadeira chacota contra a minha pessoa. Embora algo embaraçado pela constragedora situação, no íntimo estava ao mesmo tempo contente por confirmar que o meu nome, afinal, tinha um bom peso na «sociadade», como diz o coiso.
Os «chacoteadores» eram trabalhadores da Lito Tipo, que davam as suas escapadelas para chuparem umas birinaites na tasca que um casal de brancos portugueses improvisara nas ruínas da antiga loja então acabada de ser desconfiscada, ali no beco do Pingão, a caminho da sede da Sonangol, estávamos em meados dos anos 90, quando aquele nosso ministro da Justiça todo pimpão, que parecia ter engolido Luís Vaz de Camões junto com José Maria Relvas, passara a dar estranhas facilidades a antigos colonos para que reavessem das mãos do Estado as propriedades que haviam abandonado na fuga em 1975.
Na altura, os gajos tinham contacto com o Salas Neto que eles imaginavam «mustiço» e grandalhão por via duns artigos que assinava, como empregado da Movimento do João Melo, num jornal do Fundo de Apoio Social que, editado por essa agência, era impresso naquela tipografia, ali nas redondezas do botequim do arrojado e desenrascado casal de nguetas, antes de se mudar para as talatonas.
Essa idealização romântica já se esfarelou desde que passei a me enfeitar no pequeno écran da televisão uma vez ou outra e aparecer nas revistas e jornais, sendo que agora surgiu uma outra fantasia: afinal, há gente que, diante da minha suposta elevada estatura literária, modéstia à parte, não acredita que eu viva num subúrbio tão grotesco como o Bairro Indígena, no mal-falado distrito «salobro» do Rangel, onde sou quase vizinho do Ti Borito, gajo que continua a morar no seu «Pica-pau», apesar de ser muito mais importante do que bué desses nguvulos, portanto, com estatuto para ir viver em zonas mais chiques da cidade e não no pantanal em que se converteu o emblemático RA. Mas, como será vontade do homem acabar os seus dias ali mesmo, o problema é já só dele sozinho.
Continua a haver pessoal a ser «chacoteado» por dizer que convive comigo, incluindo na «placa dos traiçoeiros», que alguém até já inventou que se situa nas imediações da «viação e trânsito», na baixa da cidade, uma vez que, sendo a «mutamba» do Salas Neto, é impossível que ela esteja sedeada numa rua tão reles como a C-6.
Quem me contou estas últimas conversas foi o puto Beibi, um técnico de frio meu vizinho, que disse ter sido zombado por um amigo seu, em casa de quem montava há dias um aparelho de ar condicionado, quando disse que eu era morador da rua dele no Bairro Indígena e que até chupava comigo umas biritas às vezes. O madié, que por acaso é um meu grande fã, pois até tinha no chalé os dois livros meus, não foi na conversa do Beibi. Para azar dele, a Unitel não o deixou falar com a minha pessoa ao telefone, quando tentou ligar para confirmar que é das minha scunfiança. Ficou de trazer o meu fã ao balande. Venha, mano.
Sem mais curvas, entrando no puro assunto, é assim: todos os CIDADÃOS que consideram que é escandaloso que eu viva ou continue a viver no Bairro Indígena deviam assinar em conjunto um requerimento ao presidente João Lourenço, para que ele ORDENE AOS SERVIÇOS COMPETENTES NO SENTIDO DE ME SER «atribuída» em condições de pagamento favoráveis uma residência nas Talatonas entre as que foram confiscadas aos marimbondos. Porque não?
A acontecer, gostava que fosse a «maçã» do bilionário do asfalto, o coiso, que dizem ser uma maravilha de casa. Mas, parece que vou ter de procurar outra, se é que ainda sobrou alguma, porquanto, como me sabularam, a do Quim tipo já terá sido atribuída a um juiz. Se for verdade, espero bem que não seja precisamente o magistrado que lhe julgou. Seria um escândalo mui brutal. Atenção, que a gula mata!
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