Desafios da Inclusão no Teatro em Angola vs. Combate ao Capacitismo e o Tokenismo



Na última quarta-feira, 27/03, foi celebrado o Dia Mundial do Teatro.


Em Angola, a efeméride não contou com momentos celebrativos por aí além, como já vêm ocorrendo há muitos anos, eventualmente devido à falta de apoios de toda ordem. É um facto que, nesta terra de Ngola Kiluanji kya Samba, esta arte ainda é um parente, se não um vizinho, desprezível, tal é a falta de política é acções públicas que a tenha em conta. 


Vem Ministro da Cultura, sai Ministro da Cultura - junta-se ministério com outro, separa-se ministério do outro - “nada que se vê”, e os agentes da arte ficam “xinini”, “num zwelam” coisa com coisa. Tubanga kebi(vamos fazer como?), se quem tem “O”, tem de “teketar”, o então no dikano(boca) vai entrar só moscas.



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Bem, vou mbora também “se calar”, fiz só um à parte, escrevo este artigo para falar doutro mambo. Já não está aqui quem escreveu!


Mas uma coisa é verdade: o Dia Mundial do Teatro, todos os anos, oferece uma oportunidade única, nunca aproveitada, para se reflectir sobre a inclusão das pessoas com deficiência neste importante meio artístico. 


Apesar de uns avanços zitos, coxitos mesmo, na nossa sociedade em direção à igualdade e à diversidade, pelo menos do ponto de vista da “zwelação”(fala), o teatro ainda enfrenta desafios significativos em relação ao capacitismo e ao tokenismo, perpetuando barreiras que impedem a efectiva e plena participação e representação das pessoas com deficiência. Não é porque “às vezes”, é mesmo verdade!


Contexto Histórico: 


Historicamente, o teatro tem sido um reflexo da sociedade, mas também tem desempenhado um papel activo na formação de atitudes e percepções. Fala aí, mestre Alberto Sanzala, é mentira?


Infelizmente, a representação das pessoas com deficiência no teatro tem sido limitada e muitas vezes estereotipada, refletindo preconceitos arraigados e perpetuando normas capacitistas. Venham ainda aqui, Sebastião Constantino Sac e Tundavala Júnior!


Capacitismo no Teatro


O capacitismo, ou seja, a discriminação e o preconceito contra pessoas com deficiência, ou em razão da deficiência, muitas vezes se manifesta no teatro de várias formas. Desde a falta de acessibilidade física nos espaços teatrais até a exclusão sistemática de actores e actrizes com deficiência nos elencos e nas equipas criativas(direcção, encenação, produção, etc), o capacitismo continua a ser um obstáculo significativo para a plena participação e representação.


Pense nas casas de teatro em Angola e nos personagens representados por actores e atrizes com deficiência, vai já “ver” uma coisa.


Tokenismo no Teatro


Além do capacitismo, o tokenismo também é uma questão importante a ser abordada. 


O tokenismo ocorre quando as pessoas com deficiência são incluídas no teatro de forma superficial, apenas para atender a uma cota ou parecer inclusivo, sem realmente dar-lhes protagonismo significativo. 


Quantos actores com deficiência representam numa peça, em dez, quinze ou vinte exibidas num mês, em três ou seis meses, ou num ano? E não menos importante, que personagens representam(quantos protagonistas)?


O vejo têm sido maioritariamente, quando acontece(pouquíssimas), representações superficiais e pouco autênticas, o que perpectua estereótipos e mina os esforços genuínos de inclusão, que têm sido feitos, sobretudo, por associações e activistas de defesa e promoção dos direitos das pessoas com deficiência, entre as quais se inclui o autor deste texto.


Desafios e Oportunidades


Superar o capacitismo e o tokenismo no teatro exige um compromisso sério com a inclusão genuína e significativa. Isso requer a implementação da legislação específica(vide lei de cotas para analogia), políticas e acções práticas que garantam a acessibilidade física e a representação autêntica dos actores e das actrizes com deficiência em todos os níveis da produção teatral, e das artes cênicas em geral. Nisso a Associação Angolana de Teatro tem responsabilidades acrescidas.


Além disso, é fundamental envolver activamente as pessoas com deficiência no processo criativo, dando-lhes espaço para compartilhar as suas experiências e perspectivas únicas.


Saibam que a inclusão das pessoas com deficiência é um compromisso do Estado angolano(o Estado somos todos nós), que ractificou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência(CDPD) em 2013, tendo se tornado Estado parte em 2014, e tem responsabilidades ao nível dos ODS, de “não deixar ninguém para trás”.




É fundamental reconhecer os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência no meio artístico e assumir o compromisso com a inclusão, igualdade e equidade.


Somente através do combate ao capacitismo e ao tokenismo será possível criar um teatro verdadeiramente inclusivo, onde todas as vozes são ouvidas e todas as histórias são valorizadas.


Diga não ao capacitismo e ao tokenismo no teatro angolano, e sim à inclusão.


Nada sobre nós sem nós

Nada sem nós é inclusivo 

Inclusão é também conosco 

A cultura faz-se também com inclusão 


Por: Adão Ramos, activista, defensor e formador dos direitos das pessoas com deficiência e actor.


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