“Kito” Rodrigues, o ex-ministro que mais mandava depois de JES na década de 80


 

 Na década de oitenta,  não havia depois do Presidente José Eduardo dos Santos, quem mais mandasse no regime, que não fosse o antigo ministro do interior,  Manuel Alexandre Duarte Rodrigues “Kito”.   Gozava de  forte  prestigio externo. O falecido Presidente de Moçambique, Samora Machel tinha simpatia  por ele e a   dada altura  os americanos  acreditavam que ele era a figura que poderia um dia endireitar Angola. O seu poder terminou  na sequencia de uma cabala montada pelo então Coronel Zé Maria que o acusara de tentativa de  “golpe de Estado” contra JES.


No período pós Independência, Alexandre “Kito” começou por fazer parte do Estado Maior das FAPLA como chefe adjunto da segurança do exercito.  Foi ele quem deu a cara pelo MPLA a quando ou depois da intentona de 27 de Maio de 77, na qualidade de  porta-voz das FAPLA e do governo. Coube-lhe  a leitura do comunicado anunciando a captura do então Major Alves Baptista “Nito Alves”, acusado de ser o mentor do suposto “golpe de Estado”, contra Neto.


A quando do desaparecimento físico de Agostinho Neto,  Alexandre Rodrigues “Kito” jogou um papel preponderante para que José Eduardo dos Santos   fosse o escolhido provisório até  ao próximo congresso do MPLA.



Fisioterapia ao domicílio com a doctora Odeth Muenho, liga agora e faça o seu agendamento, 923593879 ou 923328762


Henrique "Iko" Teles Carreira e Lúcio Lara, dois influentes membros do MPLA, na altura, eram  os substitutos naturais de Agostinho Neto por conta   da sua trajectória na fundação do movimento, porém convictos que seriam  rejeitados por serem mestiços/brancos,  propuseram  os nomes de Pedro Maria Tonha “Pedale” ou Pascoal Luvualu.  Contudo,  devido às  limitações académicas  de “Pedale” e Luvualu, e também por outras questões, as duas propostas foram preteridas vigorosamente por  Alexandre “Kito” e seguidas  por outros membros do BP  do MPLA que constituíam  um grupo de 10 elementos.


Alexandre Kito e outros “negros” no Bureau Político  de então vincaram pé,   numa “guerra” que durou alguns dias a discutirem até encontrarem quem seria o substituto de Neto. O seu grupo acabou por colocar  JES provisoriamente no poder em detrimento de uma  possível marioneta da ala de  “Iko” e Lúcio Lara. Assim JES ficou  presidente. 


José Eduardo dos Santos,  por outro lado soube lhe ser grato.  Em finais de 1979 nomeou–lhe  para o cargo de Secretário de Estado da Ordem Interna.  No ano  a seguir, fez-lhe  Vice-Ministro da Ordem Interna até  se tornar no titular do cargo, em Julho de 1980.


Manuel Alexandre Duarte Rodrigues que ostentava a patente de coronel a mais alta no exercito, na altura, se tornou no mais poderoso  ministro do regime a época.  O seu protagonismo como “segunda figura do regime”, era  verificado nas ações do próprio JES. Sempre que o Presidente saísse  para as visitas de Estado ao exterior, era  “Kito”, o então ministro do interior que o substituía nas ausências.


Em Dezembro de 1988,  JES indicou-lhe para integrar   a delegação governamental que negociou  o Acordo Tripartido na cidade de Nova Iorque, acordando com a retirada das forças estrangeiros do conflito angolano, levando, consequentemente, à independência da Namíbia e à democratização da África do Sul, culminando com o fim do regime do Apartheid.


Foi também nesta  altura que os americanos passaram a manifestar admiração  por ele e ao mesmo tempo identificaram-lhe qualidades que os levaram a acreditar que estariam diante do elemento que poderia trazer a paz e mudar Angola.


 As  intrigas e o afastamento 


As primeiras insinuações  contra “Kito” surgiram no seguimento do prestigio externo que estaria a ter, sobretudo a elogios  do então Presidente Moçambicano, Samora Machel que  considerava-lhe um quadro extraordinário. 


Outra insinuação  de que estaria a actuar de forma independente, foi quando o então Ministro comprou o primeiro “Gulfstream”, um jacto executivo de luxo que viria a ser posteriormente motivo de polémica.  Aludia-se que teria comprado sem a autorização de JES.  O  referido jacto  foi comprado com  ajuda de um nigeriano radicado nos EUA,  António Deinde Fernandez que tem relações estreitas com JES. 


O  “Gulfstream” serviu para apoiar JES,  e  usado para apoiar  tanto a  delegação angolana como a cubana nos acordos de Nova Iorque.


 Em Maio de 1989,  Manuel  Rodrigues Alexandre “Kito” seria afastado do cargo de Ministro do Interior,  no seguimento de acusações de um relatório assinado pelo  então coronel António José Maria, a época Secretário do Presidente da República para os Assuntos de Defesa e Segurança  que o acusava de ter formado uma força especial para tentativa de um suposto “golpe de Estado” contra o Presidente José Eduardo dos Santos.  O relatório de Zé Maria escrito com ajuda de dois assessores cubanos insinuava  que as referidas forças especiais (que mais tarde vieram a se chamar Policia de Intervenção Rápida) , encontravam-se estacionadas em Cabinda.


Um antigo ministro  do regime, António Jacinto (já falecido) ficou  desiludido com “Kito” por este não lhe  ter mostrados os documentos que poderiam jogar em favor da sua defesa    perante uma comissão de inquérito  conduzida por um membro do gabinete presidencial, Nito Teixeira. Os documentos em posse de “Kito” atestavam autorização do Presidente da República para criação  das “forças  especiais”, que deveriam  inicialmente intervir  em Cabinda devido aos problemas causados pela   FLEC.    


As  provas documentais  atestavam igualmente  que a formação das então chamadas “forças especiais da policia” (Actual PIR) era da competência exclusiva do ministro do interior  através das verbas do seu pelouro e que, bastava o mesmo comunicar ao  BP  do MPLA e ao  Presidente da República.


A época  quem de facto mandava no país era um colégio (BP do MPLA)  chefiado por JES e por “Kito” por  ter sido o homem que ajudou Dos Santos  a chegar ao poder após a morte de Neto.  A queda de “Kito” foi  também  vista, em meios restritos do regime,  como produto de uma intriga do então coronel Zé Maria que quis vingar-se dele  por motivos passionais.


Ao ser afastado, o ex- Ministro  do Interior   manteve-se  como membro do BP do MPLA  ficando ali até a realização do congresso que não o reconduziu. Passou a ser somente coronel do exercito que era a patente mais alta na aquela altura nas FAPLAS, até ter sido  sido enviado como embaixador na África do Sul em 1994.


Desde então as relações entre o Presidente  JES e o mesmo deixou de ser a mesma coisa. Em Janeiro de 2013, o ex-Chefe de Estado indicou-lhe membro do Conselho da República, posição que acumula com as funções de embaixador de Angola  na Namíbia.

Club-K

Lil Pasta News, nós não informamos, nós somos a informação 

Postar um comentário

0 Comentários