Embora o dólar esteja praticamente estacionado acima dos 820 Kz há vários meses, o BNA aponta que não há nenhuma medida administrativa para segurar o kwanza, mas economistas discordam e argumentam que o câmbio que é praticado não resulta do funcionamento real de mercado.
Embora o dólar esteja praticamente estacionado acima dos 820 Kz há vários meses, o BNA aponta que não há nenhuma medida administrativa para segurar o kwanza, mas economistas discordam e argumentam que o câmbio que é praticado não resulta do funcionamento real de mercado.
No primeiro trimestre deste ano moeda nacional recuou 0,5% face à moeda norte-americana ao passar de 828,8 Kz em Janeiro para os actuais 832,6 Kz, de acordo com cálculos do Expansão com base nas estatísticas do Banco Nacional de Angola (BNA).
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A taxa de câmbio está praticamente parada há vários meses, desde que ultrapassou a barreira dos 820 Kz por dólar em Junho, após ter depreciado cerca de 39% em cerca de um mês. Desde o fim desse choque cambial, em Junho, a moeda nacional apenas depreciou 1% em relação ao dólar.
Ainda assim, apesar da relativa estabilidade que tem-se verificado no mercado cambial desde finais de Junho do ano passado, o Kwanza nunca valeu tão pouco como hoje. Embora o dólar esteja praticamente estacionado acima dos 820 Kz há vários meses, passando por períodos de grande escassez de divisas no mercado cambial, o banco central defende-se afirmando que não há qualquer medida administrativa para segurar a moeda nacional e que a taxa de câmbio que é praticada actualmente resulta da procura e oferta do mercado cambial.
Esta justificação não pega junto dos especialistas do sector, que discordam e argumentam que o câmbio que é praticado no mercado formal não resulta do funcionamento real do mercado (procura e oferta), ou seja há ali uma "mão invisível" do BNA. Ainda assim, a aparente "acalmia" deve-se ao facto de o mercado estar a habituar- -se com o novo normal, já que os bancos comerciais passaram a ter acesso apenas a cerca de 600 milhões USD por mês, resultantes da queda substancial da oferta de moeda estrangeira que se registou no passado, quando em 2022 a média de vendas mensais de divisas foi de 1,2 mil milhões USD.
Associado a isto está também o facto de o Tesouro ter voltado a abrir a "torneira", depois de ter estado praticamente ausente do mercado cambial desde o primeiro semestre do ano passado. Em Fevereiro passado, o Tesouro disponibilizou 300 milhões USD que foram adquiridos na totalidade por 19 bancos comerciais em apenas duas horas, revelando, assim, que continua a haver muito mais procura por divisas do que oferta. Entretanto, com uma procura tão elevada, a pressão sobre o mercado cambial deve continuar, ao contrário do que apregoou o governador do banco central, de que o mercado cambial deve permanecer estável no curto prazo.
No entanto, essa pressão não é, depois, reflectida na taxa de câmbio, o que levanta suspeitas sobre um eventual travão do BNA para evitar que a moeda nacional continue a depreciar. No ano passado, o kwanza depreciou 39% face ao dólar, com o afundanço a ter início a 12 de Maio e apenas a abrandar a partir de 28 de Junho, considerado um período infernal para o País, que combinado com a diminuição dos subsídios à gasolina, provocaram uma escalada nos preços.
Assim, desde os finais de Junho do passado para cá, a moeda nacional tem depreciado ligeiramente quase a uma média mensal de 1 Kz por dólar, o que apenas acontece porque o banco central pôs fim, embora não seja oficial, à flexibilização cambial iniciada em 2018, que resultou de um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para que esta instituição multilateral avançasse com um programa de apoio financeiro ao País.
"Na prática, o BNA em nenhum momento deixou de administrar os limites cambiais pela estreitíssima proximidade das taxas dos bancos comerciais em relação à taxa de referência", aponta o economista Carlos Lumbo, acrescentando que "o BNA acabou por expor mais claramente as inferências administrativas ao passar imediatamente a manter a taxa de câmbio artificialmente baixa", tal como aconteceu em 2022, ano marcado pelas eleições gerais, quando o Governo apreciou artificialmente a moeda nacional ao inundar o mercado com as divisas provenientes das receitas fiscais que resultaram da alta de preços do barril de petróleo nos mercados internacionais. Isto potenciou o aumento das importações, o que permitiu a queda dos preços dos bens de consumo em ano eleitoral.
Assim, Carlos Lumbo considera que se o BNA não interferisse no mercado cambial, a taxa de câmbio oficial estaria mais próxima da taxa praticada no mercado paralelo, que neste momento está acima dos 1.000 Kz por dólar, ou seja, por cada "nota verde" de 100 USD está a custar 102.000 Kz, no mercado informal.
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