QUALQUER SEMELHANÇA COM O MPLA NÃO SERÁ MERA COINCIDÊNCIA

 


“Na Sociologia Política sobre a África existe o conceito de Estado falhado.

Eu nunca gostei dele. Ele é usado para descrever e até para a explicar a incapacidade dos países africanos de se desenvolverem, garantir a segurança e de respeitarem os direitos dos seus cidadãos. 

O que sempre me incomodou neste conceito foi o erro categórico que está na sua base. Falando bem, o Estado não existe em África. O que existe é um processo de construção do Estado e isso que não faz sentido dizer que algo em construção falhou. É como proclamar uma criança de 7 anos como adulta e ao constatar que ela não se comporta como tal dizer que ela é uma adulta falhada.

O espectáculo gratuito que a nova FRELIMO tem estado a apresentar ao país e ao mundo e, acima de tudo, os níveis inquietantes e assustadores de despreparo, de desorganização e de perplexidade levam-me a rever a minha posição e a dar algum benefício de dúvida ao conceito Estado falhado. Eu continuo a não comprar o conceito, mas há aspectos do próprio vocabulário que me parecem pertinentes. Apesar de que o Estado em África não existe, pelo menos em termos sociológicos, a ideia de Estado existe e em função dela que, em princípio, os governantes formulam os seus projectos políticos e procuram dar substância a essa ideia de Estado. E é justamente aqui onde está o problema. A nova FRELIMO está a falhar ao Estado; ela abandonou o projecto de construção do Estado e colocou o bem colectivo refém dos interesses particularistas . Pelo menos por manifesta incompetência deixou que isso acontecesse. Não é alheio a este estado de coisas o facto de a reprodução da elite política no nosso país depender do controlo do Estado. Isto tornou a FRELIMO extremamente atraente aos olhos de oportunistas que se juntaram a ela não pela comunhão de ideias, mas sim pelas oportunidades que ela oferece. Isto, aliado à cultura política da organização, que, na essência, é hostil ao debate de ideias e tende sempre para o culto da personalidade, criou o espaço ideal para que os carreiristas ganhassem maior protagonismo em detrimento dos membros verdadeiramente comprometidos com a ideia, apesar de tudo.


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O resto é o que temos visto, consubstanciado na lista (de candidatos a Presidente da República) de que se fala e que é uma verdadeira afronta à inteligência de qualquer um de nós. Não obstante, pode não fazer muito sentido neste momento concentrar muita atenção nos nomes, ainda que os próprios membros da FRELIMO tenham interesse numa boa candidatura. O problema, na perspectiva do bem colectivo, já não é quem vai potencialmente liderar Moçambique, mas, sim, se a organização que propõe essa candidatura ela própria inspira confiança.

Como simpatizante confesso da FRELIMO admito com profunda mágoa que neste momento o maior obstáculo à realização do projecto da independência é a própria FRELIMO. Moçambique não vai dar certo com essa FRELIMO. Não é de perfil de candidato que se precisa, mas sim do perfil de quem propõe o candidato e que propõe o candidato neste momento é alguém que está a falhar ao Estado.

Não é normal que um partido político com responsabilidades governamentais há 50 anos não seja capaz de escolher o seu candidato sem grandes problemas. Não é normal que a escolha daquele que vai liderar o maior partido político do país e com fortes possibilidades de também vir a ser Presidente da República não seja feita na base da discussão de ideias e de projectos. Escolher um candidato não é apenas procurar a pessoa mais adequada. É usar o processo para fazer um exame dos ideais, de onde o Partido se encontra em relação a eles e, naturalmente, do seu próprio funcionamento como partido (...)

À saída da sessão do Comité Central as televisões registaram imagens de pessoas que abandonavam o local em veículos luxuosos e totalmente indiferentes à condição do país que dizem governar. É confrangedor ver um partido com gente decente, inclusive formada, transformar uma disputa pela liderança num concurso de misses em que o que conta não é necessariamente o que as pessoas têm na cabeça, mas sim de quem são amigos e até que podem servir para cancelar uma outra candidatura.

Moçambique não é um Estado falhado; está a ser falhado por uma organização que virou sombra de si própria e se tornou num palco triste e feio de exposição de vaidades.

O continuado e disciplinado silêncio indecente daqueles que a partir de Janeiro de 2025 querem liderar as coisas constitui, nestas circunstâncias, um atestado triste e assustador do que lhes espera.

Este é o momento para alguém que os tem no lugar colocar em risco a sua candidatura para sacudir o partido e os seus membros fazendo-lhes ver que faltam 5 minutos para a meia-noite.

Estamos mal. Muito mal!”.

Correio Angolense/ Elísio Macambo, sociólogo moçambicano  

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