Recordar Valentim Amões: Como a estrutura genealógica do clã influencia o carácter e visão para os negócios dos seus membros

 




FAMÍLIA ABENÇOADA E JACOBINA

A família sempre ocupou lugar e papel determinantes nos negócios criados por Valentim Amões. Moral da história: eles serão sempre o que, no léxico da gestão empresarial, se designa por “parent company”. De facto, o seu ADN é de ordem genealógica. Mas há, em meio a tudo isso, um factor mais determinante a modelar toda a estrutura empresarial, o modo de realizar os negócios e, consequentemente, o sucesso. A isso, Sabino Amões, um dos irmãos mais novos do falecido empresário, a caminho dos 50 anos, classifica como um dom e bênção dos céus. “Somos uma família abençoada por Deus”, enfatiza.


Para entender tudo isso, é necessário seguir o fio condutor da linhagem dos Amões, descendo até ao patriarca dos patriarcas – o bisavô Camela –, que foi o soba e fundador da conhecida aldeia. A partir dele há um conhecimento e um saber seculares que foram passando de geração a geração. Camela foi alguém que mais do que a inteligência natural teve sobretudo o que se pode classificar como um dom para organizar ideias e as fazer frutificar com espírito de liderança. Ele influenciou de forma hegemónica a vida na aldeia, que a sua figura passou a ser a sua referência máxima. Tanto que o incipiente aglomerado, que inicialmente se chamava Lufefena, acabaria rebaptizado com o nome de quem, à época, era o mais ilustre e representativo dos seus habitantes: Camela, ou tão-somente o grande patriarca do clã Amões.



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O bisavô de Valentim Amões chegou a ter 36 mulheres! Um harém que não estava ao alcance de qualquer homem, mesmo a partir de critérios de avaliação em conformidade com os cânones antropológicos de África. Naquele tempo, a vida em si na aldeia já não era fácil. E muito mais difícil ainda se tornava tendo-se a responsabilidade de gerir uma aldeia inteira e um tão grande número de agregados familiares que constituía o patriarcado. 


Mas o avô Camela conseguiu tamanho feito com a sua invulgar sabedoria. Para tanto, ele apostou num programa baseado no trabalho do campo, atribuindo a cada família, e sob a responsabilidade da respectiva esposa, uma parcela de terra para cultivo. Vivendo as esposas praticamente juntas num espaço demarcado por anexos, no final o produto da lavoura era guardado num celeiro único a que tinham acesso todas as famílias. Isto fazia com que a vida do clã fosse sustentada pela junção de toda a produção resultante do trabalho conjunto das famílias. Parte da produção servia para alimentar o clã e o excedente destinava-se à permuta e ao comércio. Um processo controlado, obviamente, pelo próprio patriarca que aplicava, entretanto, parte dos proventos na aquisição e acumulação de bois, galinhas, cabras, etc. 


Outra particularidade do patriarcado estava no facto destas famílias fazerem as refeições a partir de uma só panela. Isso proporcionava equidade na alimentação de todas as famílias, fazendo com que nenhuma ficasse de fora em razão, por exemplo, de uma menor produtividade. Por outro lado, o patriarca pernoitava com as esposas usando um muito peculiar esquema de rotatividade que resultava também num controlo mais equitativo do próprio processo de natalidade no clã. 


ABONO DE FAMÍLIA 

E ESCOLA DE VIDA 


Dezasseis anos após a morte de Valentim Amões, os irmãos menores recordam-se, com grande apreço, de sua faceta altruísta e espírito de partilha. “Somos o que somos hoje graças a ele”, assegura Sabino Amões, o quarto dos irmãos. Formou-se em pilotagem em Portugal à expensa do empresário que fez do futuro dos seus familiares mais chegados – de filhos a irmãos e sobrinhos – uma questão de honra. Aliás, o grande grupo empresarial que criou funcionou, para muitos deles, como uma verdadeira escola de vida e, consequentemente, como uma rampa de lançamento para a criação dos seus próprios negócios. 


No início dos anos noventa, Sabino, Moisés e Prata Amões foram enviados para Portugal. Nessa altura, Segunda Amões já se encontrava a fazer os seus estudos na Rússia, para onde seguiu ainda ao tempo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Em Portugal, Sabino formou-se em pilotagem, Moisés em gestão e Prata em direito.  


Mas foi Segunda Amões, que na Rússia se licenciou em Geologia, quem melhor encarnou o espírito inventivo e a veia empresarial de Valentim Amões. Não é por acaso que, antes de morrer, ele se tornou patrão do grupo empresarial ASAS, detentor de um portefólio de negócios em diversas áreas. Depois da morte de Valentim, foi Segunda Amões quem segurou firme o testemunho e impulsionou o empreendimento da aldeia de Camela.

 

“Aproveitem o máximo enquanto posso”, dizia Valentim Amões aos seus irmãos, incentivando-os a prepararem o futuro por via da formação académica que ele sempre esteve predisposto a custear. E todos eles trataram de agarrar a oportunidade que o irmão lhes proporcionava. Mas, curiosamente, Sabino Amões, apesar de ter o seu brevet bem guardadinho (está habilitado a tripular helicópteros), acabou por não seguir a pilotagem como carreira profissional. Falou mais alto a propensão para os negócios que os Amões têm impregnada no sangue. De modo que também veio a ser “sugado” para o mundo empresarial, criando os seus próprios negócios.

Severino Carlos 

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