90 ANOS DE SAVIMBI NAO COMOVEM OS OCS's- SEVERINO CARLOS

 


Jonas Savimbi faria hoje 90 anos. Para comemorar a data mais de metade da direcção da UNITA -- com o líder Adalberto Júnior à cabeça -- se deslocou à Lopitanga, aldeia natal na provincia do Bié onde estão  sepultados os restos mortais de Savimbi.

 Para estranheza geral, ou nem tanto assim, este facto não suscita dos órgãos públicos de comunicação social (OCS's) a mesma cobertura entusiástica e inflamada que recentemente dedicaram à divulgação da criação da Fundação Jonas Malheiro Savimbi. 


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É caso para dizer que o líder-fundador da UNITA continua numa condição de proscrito aos olhos do regime angolano. Percebe-se que foi com o fito de levar, com mais artificialismo do que outra coisa, a dissensão ao interior da organização do galo negro que o regime "autorizou" que a fundação fosse criada por estes dias. 

Mas percebe-se, também, que tão cedo não haverá a mesma magnanimidade e indulgência se o caso for uma condecoração póstuma a Jonas Savimbi ou outro tipo de homenagem como a atribuição de um monumento ou nome de rua. 

Controversa ou não, uma personagem histórica da dimensão de Jonas Savimbi  sem dúvida deveria merecer que as autoridades tivessem a coragem de reflectir sobre o assunto. 

Mas deveriam reflectir de forma integral e genuína, e não estarem, aqui e ali, como que a deixar cair da mesa restos de comida aos cães. Savimbi, tal como Agostinho Neto e Holden Roberto, liderou a luta pela independência de Angola e merece que se lhe faça esta distinção e deferência. 

Alguém já veio a público sugerir que se as hostilidades e animosidades ainda forem muitas, se os espíritos ainda se inquietam quando se ouve o nome de Jonas Savimbi, então que se leve o assunto a uma discussão apropriada e de foro nacional. 

Parece-me não haver foro mais adequado que não seja a Assembleia Nacional, onde já vi os deputados serem chamados a reflectir sobre uma petição no sentido de se autorizar homenagear uma personalidade estrangeira.

Pelo menos este foi o caso do intelectual e político caribenho Aimé Césaire, aquando da sua morte em 2008. Os deputados do MPLA, que chamaram a si a iniciativa, acharam importante e oportuno homenagear esse membro da Diáspora Africana que defendeu intrepidamente as raízes africanas, tendo, ao lado de Léopold Senghor, dado impulso à corrente da Negritude.


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