A Mentira tem Pernas Curtas - Carlos Kandanda



O aforismo da “mentira tem pernas curtas” significa que, um mentiroso, mais cedo, ou mais tarde, é sempre desmascarado. Porque, a verdade é implacável, por mais que seja amordaçada ou ocultada, mas sempre virá à superfície. 

Nesta lógica, digo que, sempre é bom que haja o debate contraditório para que seja possível pôr tudo em pratos limpos, de modo que, o público tenha a oportunidade de distinguir entre a verdade e a mentira. Felizmente, a mentira não se defende e quem insta os outros mentir, é um mentiroso muito perigoso, que pretende mergulhar os outros no abismo. Diante os factos é melhor calar-se do que enganar o público.


No meu Artigo anterior, publicado no Club-K.Net no dia 13 de Agosto de 2024 abordei na profundidade a problemática dos nossos sofistas, individualidades cultas e bem posicionadas na sociedade angolana. Infelizmente, eles estão imbuídos de espirito egocêntrico, sectário e antidemocrático. Usam muitas astúcias para apenas enganar e induzir as pessoas em erros gravíssimos com a intuição de dividir e reinar, de modo a eternizar-se no Poder.


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Ainda lembro-me que, durante o Consulado do Presidente José Eduardo dos Santos a Oposição e a Sociedade Civil foram bastante persistentes na denúncia da existência da corrupção galopante que se fazia sentir dentro dos Órgãos do Estado. Porém, os “estrategas” do regime negavam categoricamente a existência da corrupção no país. Como afinal de contas a mentira tem pernas curtas, a corrupção cresceu de tal forma que se tornara impossível ocultá-la.


Como tal, houve a obrigação de formaliza-la através da Teoria do «capitalismo primitivo», defendida por Presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos, na cerimónia oficial da inauguração da Nova Sede da Assembleia Nacional, no dia 10 de Novembro de 2015. Dali para diante o nosso País viveu o drama de saques sistemáticos e desenfreados dos Cofres do Estado pela nomenclatura do Governo e do Partido no Poder.


Neste momento o nosso País está mergulhado na crise socioeconómica profunda. O Estado (Executivo) está à beira da falência, sem ter capacidades de governação. Na verdade, o nosso País nunca esteve nesta condição miserável da desgovernação, da pobreza extrema, da fome, do saque sofisticado do erário, da aparição de empresas monopolistas, da partidarização extrema da mídia pública e do reforço do regime corrupto e autoritário. Enfim, tudo está em rebuliço.

Mesmo diante esses factos contundentes, ainda há indivíduos que temam em manter-se na retórica, instando os ditos “estrategas” para ocultar os factos, recorrendo aos estratagemas do passado, do capitalismo primitivo, da era do malogrado José Eduardo dos Santos, os vulgarmente chamados, «marimbondos». Neste respeito interessa-me dizer que, eu não sou economista, versado nesta matéria. Contudo, não sou cego, nem sou surdo, incapaz de ouvir ou de ver as coisas. Na verdade, eu sou de origem rural, que cresceu nas aldeias e acompanhava os Mais Velhos como cultivavam a terra, faziam a gestão da colheita e tomavam as medidas de austeridade. 
Com isso queria dizer o seguinte: referente aos atrasos no pagamento dos salários, a Ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, no dia 14 de Agosto de 2024, a margem da Reunião do Conselho de Ministros, perante a mídia, deu algumas explicações sobre as causas dos atrasos que têm sido registados. Como por exemplo, cita: 
“As receitas fiscais arrecadadas têm sido automaticamente consumidas pelo serviço da dívida. A maior parte dela é titulada, de modo que o sistema automaticamente debita a nossa conta. E a medida que a nova receita vai entrando, nós vamos seguindo com o processo de pagamento.” Fim de citação.


Na minha inferência, fiquei com a ideia de que, o Tesouro Público esteja delapidado, carece de fundos de reservas. O Estado esteja bem apertado, não deve ter liquidez suficiente para fazer a cobertura das Despesas Púbicas devida aos Serviços da Dívida Pública, que é enorme, e que drena a “maior parte das receitas” do Estado. 
Se esta dedução estiver correcta, então isso representa o seguinte: ou o Estado está na fase da falência, ou a crise económica é inventada, apenas para ocultar o saque do Erário Público. Ao contrário, como seria possível um Gestor Público, com receitas exíguas vai esbanjar avultadas somas de dinheiros nas viagens constantes, com grandes delegações, com três aviões de luxo; fazer turismo supérfluo nas Ilhas luxuosas; hospedar-se em hotéis de luxos; autointitular-se de Campeão da Paz; circular com avultadas somas de dinheiros; promover grandes jantares em Lisboa; gastar tantos dinheiros nos lóbis diplomáticos para a promoção da imagem pessoal; enfim, dar-se ao luxo de transportar carros protocolares superluxuosos de Luanda para a Cimeira da Uniao Africana, em Addis Ababa? Enquanto o Governo Etíope, o Anfitrião, colocou a disposição de todas as delegações os meios de transporte. Dando assim o grande Show de Grandeza, como fazia o Rei Alexandre Magno da Macedónia. 
Enquanto o povo que lhe elegeu não é a “prioridade” do Estado; deixa-lhe a passar a fome, viver miseravelmente e comer nos contentores de lixo. Pois, na afirmação da Ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, nas entrelinhas, a “prioridade” do Executivo é a Dívida Pública, «que é titulada e que debita automaticamente todas as receitas que entram na conta do tesouro público». Essa é a verdade dita pela Ministra das Finanças. Logo, interrogo-me, onde estará o Patriotismo e a Boa Governação?
Além disso, a Ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, numa certa altura, no passado, afirmava que, uma boa parte da Dívida Pública era «fictícia». Como sabemos, a aplicação dos Créditos da China, por exemplo, não foram transparentes, os investimentos feitos não deram resultados desejados e as obras realizadas foram descartáveis. Acima de tudo, houve excessivas sobrefaturações e desvios enormes de capitais, desencaminhados ao Exterior, sobretudo aos Paraísos Fiscais. Tudo isso está bem documentado no Luanda Leaks (715,000 documentos) e no Escândalo BESA. Paradoxalmente, tem sido esta Dívida Pública Fictícia que está a «desfalcar» os Cofres Públicos.

Em síntese, na nossa sociedade angolana existe a gente que pensa que o povo é ignorante e é estúpido – não tem «olhos de ver». Logo, na sua visão, este povo pode ser manipulado facilmente pelos “estrategas” do Partido no Poder. Felizmente, os tais que pensam assim devem estar enganados. Porque, os angolanos de ontem não são os mesmos angolanos de hoje, que passaram por este período doloroso da repressão, da humilhação, da exclusão, da pobreza, da fome, da injustiça social e do enriquecimento rápido e ilícito dos governantes e da nomenclatura do MPLA.


Portanto, os que persistem a bater nesta mesma tecla ficarão atolados no pântano. Dizia um sábio, o fascismo não se reforma. Quando tentar reforma-lo, cai e desfaz-se. Isso significa que, somente as mudanças do regime e do sistema político que permitem proceder às reformas profundas do Estado, que garantem a sustentabilidade da Boa Governação. Não é viável o mesmo regime fazer reformas reais e profundas do sistema que ele próprio ergueu durante 45 anos, e o qual sustenta o seu poder autocrático e corrupto.


Neste âmbito, as pessoas esquecem que na vida social não existem coisas eternas. É uma ilusão pensar assim. Vejamos, todos os Grandes Impérios, de todos os tempos, terminaram por entrar em colapso e surgiram logo novos poderes e novos sistemas políticos. Esta é a lógica da natureza. Portanto, seria ridículo e absurdo tapar o sol com a peneira, ou travar o vento com as mãos.


As pessoas devem saber que na democracia plural as mudanças são normais, são legais, são frequentes, são regulares e são incontornáveis. As mudanças são as que impulsionam o progresso, a inovação, o crescimento económico, a boa governação, a prestação de contas, a solidez das Instituições dos Estado, a separação dos poderes e o desenvolvimento socioeconómico sustentável. As mudanças não são um apocalipse, como alguns sectores sofistas pretendem incutir na mente das pessoas. Pelo contrário, as mudanças abrem o novo horizonte que permitem olhar para o além, num ambiente de irmandade e de convivência entre os angolanos, na dignidade e em pé de igualdade.


Em suma, as mudanças democráticas trazem consigo a prosperidade para toda gente, concedem oportunidades iguais, abrem largos espaços aos mercados internos e externos e tratam toda gente na base da cidadania, do mérito, da meritocracia, da igualdade, da equidade e da solidariedade. As mudanças acabam com a hegemonia, com os monopólios, com o sectarismo, com a exclusão social, com nepotismos e com a privatização do Estado. As mudanças libertam a sociedade do jugo do partido-estado e concedem a toda gente os mesmos direitos, as mesmas liberdades e os mesmos deveres – com dignidade.

Enfim, é este «protótipo» de Angola que todos almejamos, que a UNITA sempre defendeu com unhas e dentes; que ela continua a defender até hoje; e que há-de-defender para sempre. É a nossa «meta estratégica», traçada em Muangai no dia 13 de Março de 1966. PARA FRENTE SEMPRE.


Luanda, 16 de Agosto de 2024.

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