As motivações que levaram o líder do MPLA, João Lourenço, a reunir-se com os Primeiros-Secretários dos Comités de Ação do Partido, na segunda-feira, 26 de agosto, foram impulsionadas pela necessidade de responder publicamente à posição de três veteranos do partido. Esses veteranos se reuniram com Lourenço e o informaram que têm um candidato para disputar as eleições partidárias no congresso de 2026 e, posteriormente, para as eleições gerais de 2027.
Lourenço soube que os mais velhos eram favoráveis a um congresso com múltiplas candidaturas, chegou-lhe também a informação de que o mais entusiasta dessa tese seria o ex-ministro da Segurança de Estado e ex-secretário-geral do MPLA, Paulo Julião "Dino Matross", que, em entrevistas públicas, nunca escondeu a sua posição de abertura democrática dentro do partido no poder. Lourenço teria convocado Matross pela primeira vez na sede da Presidência da República, dizendo-lhe que este estava a falar mal dele para outras pessoas. No encontro Matross negou as acusações imputadas pelo Presidente.
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Numa segunda ocasião, Lourenço pediu ao diretor do seu gabinete, Edeltrudes Costa, que voltasse a contactar Dino Matross para mais uma reunião, desta vez assistida por dois outros veteranos. Nesta segunda vez, Lourenço foi mais incisivo, e em resposta, o antigo secretário-geral disse-lhe abertamente que, tendo em conta que João Lourenço não poderá concorrer nas eleições de 2027, os mais velhos do partido decidiram apoiar outro candidato para ser escolhido num congresso extraordinário.
Apesar de não terem mencionado quem seria o candidato dos mais velhos, sabe-se que há, neste momento, três quadros do MPLA apontados como futuros concorrentes ao congresso: o general Higino Lopes Carneiro, o engenheiro António Venâncio e o antigo Presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, sendo este último o mais temido por João Lourenço, embora nunca tenha anunciado publicamente essa intenção.
Descontente com o que ouviu, João Lourenço, que também procura alternativas para manter o seu poder após o término do seu mandato, reuniu-se com sua equipe, tendo sido delineado um plano para desencorajar a tese de um congresso com múltiplas candidaturas.
A estratégia incluiu a circulação de textos acusando Dino Matross de liderar uma eventual candidatura de "Nandó" e insinuando que um congresso com várias candidaturas seria sinônimo de "desestabilização do partido". Paralelamente, foram convocados os primeiros-secretários dos comités de ação do partido (CAP) para uma reunião em que cada distrito pudesse se fazer representar pelos primeiros-secretários dos CAP. Foi preparada uma militante do CAP 47, Ana Campos Miguel, ligada ao Primeiro-Secretário do MPLA em Luanda, Manuel Homem, para levantar questões relacionadas às candidaturas.
Ana Campos Miguel foi colocada na reunião, em detrimento do primeiro-secretário do CAP, identificado por "Quintas", para colocar as questões. Depois do discurso de abertura e do momento de perguntas e respostas, ela pediu a palavra para questionar quais eram as orientações da direção quanto ao movimento de candidaturas que estava a surgir no seio do partido.
Quando João Lourenço pegou no microfone para responder as questões previamente concertadas, explicou aos militantes o conteúdo da primeira e segunda reunião que teve com o general Dino Matross, na Presidência da República. Explicou que, no primeiro encontro, Matross negou as acusações de que estaria a influenciar militantes sobre o tema. No entanto, depois, chegaram-lhe informações mais concretas que o levaram a chamar novamente o antigo secretário-geral para uma reunião, na qual estavam presentes outros dois veteranos do partido, cujos nomes não foram revelados.
Aos militantes, João Lourenço afirmou que o MPLA tem estatutos que devem ser respeitados e que ainda não foi convocado nenhum congresso eletivo partidário. Proferiu palavras duras contra Dino Matross, seguindo o seu discurso de abertura, em que insinuou que o próximo presidente da República poderia ser um jovem, deixando a entender que, para 2027, será ele a escolher alguém para ficar no poder, mas com ele na liderança do MPLA, a comandar. "Vamos, por isso, continuar a apostar nos nossos jovens, prepará-los e dar-lhes todas as oportunidades de ascenderem até onde suas capacidades permitirem, inclusive para a assumpção do mais alto posto de Presidente da República", disse João Lourenço.
Lourenço também deixou claro que não está alinhado com uma eventual candidatura de Higino Carneiro, insinuando a existência de uma ligação entre os dois, ao que foi categórico em afirmar que quem propaga isso é "mentiroso".
Foi somente no final dos trabalhos que os quadros perceberam que o propósito da reunião foi atacar membros do partido que tencionam apoiar candidaturas que não sejam da preferência do líder.
Após a reunião, uma equipe de apoio à direção do partido começou a distribuir textos de opinião nas redes sociais atacando Dino Matross.
Em resposta, um comunicado atribuído aos veteranos do MPLA afirma que "é com grande desagrado que tomamos conhecimento das acusações infundadas e das insinuações levianas que têm circulado a respeito das posições e ações do Camarada Dino Matross dentro do nosso glorioso partido. A recente entrevista que concedeu está a ser utilizada de forma maliciosa pela equipe do Palácio e, infelizmente, transformada em arma de ataque por aqueles que parecem estar mais interessados em promover divisões do que em buscar a unidade do MPLA."
O comunicado prossegue, afirmando que "é importante esclarecer que as alegações de que o Camarada Dino Matross está a conspirar contra o Presidente João Lourenço são totalmente falaciosas. Esses ataques não só desrespeitam a sua longa história de militância, como também ignoram os princípios fundamentais que regem a nossa organização política. O que realmente está em causa é o respeito pelos estatutos do MPLA, que são claros em relação à promoção de múltiplas candidaturas e à democracia interna."
Os veteranos enfatizam que "defender a democracia interna e o direito dos militantes de escolherem os seus líderes é uma obrigação de todos nós, e acreditamos que o Camarada Dino Matross não deve mudar a sua posição em decorrência de pressões ou intimidações. A verdadeira força do nosso partido reside na diversidade de vozes e na livre escolha dos seus membros. Contrariar isso seria uma traição aos ideais que todos nós defendemos."
O comunicado termina lamentando "ver algumas vozes recorrerem a ataques pessoais em vez de se engajarem em um debate construtivo sobre as nossas visões para o futuro do MPLA e do nosso país. Em vez de buscar soluções e propostas que possam unir o nosso partido, preferem lançar insultos e promover divisões", deixando claro que "o Camarada Dino Matross nunca foi, nem será, um defensor da fragmentação; defende sim que todas as vozes dentro do MPLA sejam ouvidas e que cada camarada tenha a liberdade de expressar as suas opiniões sem medo de represálias.
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