Vamos falar de insultos disfarçados de perguntas “jornalísticas”. Recentemente, houve um jornalista que, sem meias palavras, chamou a Isaías Samakuva de “um mais velho sem juízo e ultrapassado no tempo”. Ora, vamos lá! Eu fico aqui a imaginar o que se passava pela cabeça desse jornalista… talvez pensasse que estava a fazer uma crítica construtiva? Mas, convenhamos, há uma linha muito ténue entre criticar e simplesmente faltar ao respeito. A entrevista da Rádio Essencial a Samakuva foi a pior entrevista dos primeiros 6 meses de 2024.
Agora, imaginemos o cenário inverso: o jornalista, no seu ambiente natural, a redacção. Alguém chega e diz-lhe na cara: “Olha, tu és um jornalista sem juízo, ultrapassado no tempo, e com tendência para o disparate!” Como é que ele reagiria? Será que ficaria contente, agradecido pela “crítica construtiva”? Ou será que, como qualquer ser humano normal, sentiria o sangue a ferver e a vontade súbita de reagir? Os jornalistas da Rádio Essencial deveriam saber que uma crítica bem feita não precisa de ser ofensiva.
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Vamos lá, que a liberdade de expressão é uma conquista preciosa, mas isso não dá licença para transformarmos uma entrevista num campo de batalha verbal. O problema é que alguns confundem liberdade de expressão com “liberdade para ofender”. Não é bem assim que funciona. Criticar é uma coisa; insultar é outra completamente diferente.
Da próxima vez que este “jornalista” pensar em soltar um desses “mimos”, talvez seja melhor respirar fundo, contar até dez e perguntar a si mesmo: “Será que eu gostaria que dissessem isso de mim?”. A resposta provavelmente será não. E se for sim, bem, aí é caso para uma boa introspecção ou, pelo menos, para uma pausa no café, que pode estar a precisar de um “reset.
A liberdade de expressão deve ser usada com classe e juízo. E, se a ideia for criticar, que seja com argumentos sólidos e não com ofensas baratas. Afinal, o que se ganha em insultar um “mais velho”? Todos os jornalistas presentes naquela entrevista estiveram mal com excepção do P.I. e do moderador.
Por outro lado gostaria de dar crédito onde é merecido: Isaías Samakuva, o homem que entrou na cova dos leões, sabendo muito bem que os leões tinham passado a semana toda sem comer. O cenário era claro: jornalistas hostis, com perguntas encomendadas e preparadas, afiadas como facas. Eles estavam prontos para fazer o trabalho sujo, mas, ao que parece, subestimaram o preparo do mais Velho Samakuva.
A coisa foi tão épica que parecia um daqueles filmes em que o herói entra numa sala cheia de inimigos, todos armados até os dentes, e sai sem um arranhão. Eles nunca irão esquecer aquela “entrevista” pelas piores razões.
Não há dúvida de que esses “jornalistas” tinham passado noites em claro, a ensaiar e preparar a entrevista na esperança de deixar Samakuva sem saída. Mas ele, com a calma de quem já viu de tudo nessa vida, respondeu a cada um com toda a tranquilidade e serenidade.
Em certos momentos, parecia até que ele estava mais preparado para as perguntas do que os próprios “jornalistas”! Eles vinham com as encruzilhadas, e Samakuva, sem perder a compostura, ia respondendo como se estivesse a brincar de esconde-esconde.
É preciso ter muita coragem para enfrentar uma emboscada assim e sair por cima. Samakuva mostrou que, no jogo de palavras, ele é mestre. Os jornalistas tentaram, insistiram, mas no final das contas, quem saiu vitorioso foi o homem que enfrentou o fogo cruzado e não se queimou. Samakuva provou que, às vezes, a melhor defesa é simplesmente estar bem preparado e não deixar a pressão fazê-lo perder a calma.
Quando se fala em entrevistas, espera-se um certo nível de preparação, profissionalismo, e, pelo menos, uma tentativa de manter uma linha coerente de perguntas e respostas. Mas a “entrevista” feita pelos jornalistas da Rádio Essencial a Isaias Samakuva foi tudo menos isso.
O mais interessante é que os tais “jornalistas” nem se deram ao trabalho de disfarçar bem o seu papel. Aquilo parecia mais uma reunião de militância do que uma entrevista. Se calhar pensaram que, com as luzes do estúdio e os microfones, ninguém iria notar. Mas, convenhamos, até um cego veria o quão óbvia era a agenda que traziam debaixo do braço. No final das contas, o que vimos não foi uma entrevista, mas sim uma demonstração clara de que, em Angola, até os “jornalistas” têm as suas filiações partidárias bem marcadas.
Mas fica a lição: da próxima vez, talvez valha a pena tentar disfarçar um pouco melhor. Ou pelo menos, tentar fazer perguntas que não pareçam saídas directamente do manual do partido. Eram 7 ou 8 “jornalistas” e às vezes levavam 15 minutos para fazer uma pergunta simples.
Aquela entrevista acabou por se transformar num espectáculo deprimente, onde a tentativa de hostilizar Samakuva saiu pela culatra. Se a intenção era colocar o político em apuros, o que conseguiram foi o contrário: expuseram a falta de profissionalismo da própria equipa de “jornalistas”.
Se este é o nível que as entrevistas da Rádio Essencial vão manter, temos razões para estar preocupados com o que ainda virá nos próximos seis meses. Mas, por agora, fica registado: a entrevista a Isaías Samakuva é, sem dúvida, a pior “entrevista” de 2024.
Imaginemos se Samakuva tivesse decidido brincar um pouco com a situação durante aquela entrevista desastrosa. Com a paciência que lhe é característica, ele poderia ter sugerido, com um sorriso irónico, algo como: “Meus caros, da próxima vez que me convidarem, tragam logo 20 jornalistas! Assim, pelo menos, fazemos disto uma verdadeira conferência de imprensa em vez de uma emboscada.”
Samakuva deve pedir aos jornalistas da Radio Essencial para serem mais directos e objectivos nas perguntas na sua próxima entrevista. Levar 15 minutos para formular uma pergunta é um pouco exagerado. Gastar palavras retira o essencial e a objectividade da entrevista.
E vamos acreditar que, no segundo semestre, a competição por este título fique um pouco mais acirrada, quem sabe com um mínimo de dignidade jornalística. O povo já sabe toda a verdade. Assumam-se que são “jornalistas” partidários.
Folha 8
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