Quando falamos sobre a geopolítica da fome, muitos podem pensar em escassez de alimentos causada por desastres naturais, mudanças climáticas ou até guerras. Mas em Angola, a fome é mais do que uma tragédia humana; ela é uma ferramenta política. Desde a independência em 1975, o país tem sido governado pelo MPLA, que mantém o poder há quase cinco décadas. Durante esse tempo, a fome tem sido uma constante na vida de milhões de angolanos – uma constante que não é fruto do acaso, mas sim parte de um plano estratégico cuidadosamente orquestrado para assegurar a continuidade do regime.
Sob o governo do MPLA, Angola foi sendo moldada por uma economia rentista, com base em seus vastos recursos naturais, como o petróleo e os diamantes. No entanto, essa riqueza nunca se traduziu em melhoria substancial para a maioria da população. Pelo contrário, serviu como combustível para a elite política, enquanto a maioria do povo angolano continuou a viver na pobreza, com muitos enfrentando a fome diariamente.
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A fome em Angola não é apenas um subproduto da má governança; ela é deliberadamente mantida como uma forma de controle. Um povo faminto, fraco e dependente do Estado é muito mais fácil de subjugar. A fome limita a capacidade de resistência, enfraquece o espírito de revolta e empurra as massas para a dependência de ajuda governamental. É nesse contexto que o MPLA perpetua sua estratégia, utilizando a escassez de alimentos como uma arma silenciosa de opressão.
É preciso entender que, para o MPLA, a fome não é um problema a ser resolvido, mas uma ferramenta de manutenção de poder. O regime angolano consolidou uma economia de dependência, onde o acesso a alimentos e bens básicos é controlado por estruturas que favorecem a elite no poder. Quando o Estado é o principal provedor, ele transforma a distribuição de alimentos em uma moeda política. Programas de ajuda alimentar, ao invés de atenderem às necessidades reais do povo, são muitas vezes distribuídos em troca de lealdade política. As regiões que demonstram oposição ao governo enfrentam escassez ainda maior, enquanto os leais ao MPLA são favorecidos.
Essa geopolítica da fome tem raízes profundas. Desde os primeiros anos pós-independência, a guerra civil angolana (1975-2002) foi usada como pretexto para desviar recursos das populações civis. Mesmo após o fim do conflito, o MPLA manteve sua estratégia de dividir o país entre os que têm e os que não têm, sempre garantindo que o acesso aos recursos essenciais fosse usado como alavanca política. A promessa de estabilidade, de um governo forte e centralizado, foi vendida ao mundo enquanto o MPLA controlava rigidamente as oportunidades econômicas e mantinha as regiões periféricas e rurais em estado de carência crônica.
Enquanto a elite do MPLA desfruta de uma vida de luxo, com fortunas construídas sobre as exportações de petróleo, diamantes e outros recursos, a população luta para garantir o básico. A miséria e a fome atingem milhões de angolanos que vivem em zonas rurais e nas periferias das grandes cidades. Segundo dados internacionais, a insegurança alimentar em Angola é alarmante, com mais de metade da população enfrentando algum grau de escassez de alimentos.
Além disso, a falta de investimentos na agricultura, em infraestrutura básica e em programas sociais sustentáveis perpetua a dependência das importações de alimentos, um mercado controlado por poucos com ligações estreitas ao partido no poder. O governo do MPLA, ao invés de priorizar a segurança alimentar, prefere manter uma economia baseada em monopólios e concessões políticas que enriquecem seus aliados, deixando o povo à mercê da fome e da pobreza.
Ao longo dos anos, o MPLA demonstrou que a fome, longe de ser um desafio a ser combatido, é uma arma poderosa em suas mãos. Um povo faminto e sem esperanças de um futuro melhor não se organiza, não protesta e, sobretudo, não ameaça o poder estabelecido. A opressão é reforçada pelo medo da fome, pela desesperança que se instala em cada casa que luta pela sobrevivência. A fome, como o regime sabe bem, é uma forma eficaz de desmobilizar a sociedade civil, reduzir a resistência e, ao mesmo tempo, consolidar o controle sobre as massas.
É nesse cenário que o regime angolano se sustenta. A fome é usada como um instrumento de chantagem política. Promessas de desenvolvimento rural e de combate à pobreza são feitas em época de eleições, mas logo esquecidas após as urnas serem contadas. A estratégia é clara: enquanto a população estiver ocupada lutando para comer, não terá forças para questionar o regime. A miséria se torna, assim, um aliado poderoso do governo, que a utiliza para manter o povo submisso e desarticulado.
Angola é um país de imenso potencial, com recursos naturais abundantes e uma população jovem e cheia de esperança por mudanças. No entanto, enquanto o MPLA continuar a explorar a fome como uma ferramenta de controle político, qualquer progresso será superficial. Para que Angola tenha um futuro onde a fome seja erradicada, é necessário não apenas uma mudança de governo, mas uma transformação estrutural na forma como os recursos do país são distribuídos e como as políticas públicas são implementadas.
A verdadeira independência de Angola, aquela sonhada por seus heróis fundadores, só será alcançada quando o povo puder viver livre da fome e da opressão, com a dignidade que merece. Enquanto isso não acontecer, a geopolítica da fome continuará a definir os rumos do país, mantendo o povo acorrentado e o poder nas mãos de poucos.
Por Hitler Samussuku
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