O dia 10 de dezembro de 2024 promete ser emblemático. Não só por marcar o julgamento dos generais Leopoldino Fragoso do Nascimento, o célebre “Dino”, e Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, o imponente “Kopelipa”, mas também por coincidir, estrategicamente, com a suposta data de fundação do MPLA, o partido no poder desde a independência. Essa escolha, longe de ser uma coincidência, carrega uma mensagem política cifrada e revela mais sobre os bastidores do poder do que o próprio processo judicial.
Nesse cenário, o papel de Fernando Garcia Miala, chefe dos Serviços de Inteligência e Segurança do Estado e braço direito de João Lourenço, não pode ser ignorado. Para Miala, o julgamento não é apenas um evento político estratégico, mas uma oportunidade pessoal de revanche. No passado, foi ele quem sentou no banco dos réus, acusado de crimes que muitos consideram fabricados. Foi julgado, condenado e humilhado publicamente. Na época, Kopelipa era o “todo-poderoso” que pairava acima de tudo e de todos, arquitetando os bastidores do regime como uma figura quase intocável.
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Hoje, os papéis se inverteram. Miala, de réu a executor, vê seus antigos carrascos enfrentarem a máquina judicial que ele agora ajuda a operar. Para ele, o julgamento é mais do que simbólico: é a oportunidade de ajustar contas com aqueles que um dia representaram o ápice da opressão no sistema de poder do MPLA.
O julgamento acontece num contexto em que João Lourenço enfrenta o peso da velha guarda do partido, que tem sido uma sombra incômoda sobre a sua liderança. Com o tão aguardado congresso do MPLA se aproximando, as tensões internas se intensificam. Processar Dino e Kopelipa, dois dos principais pilares do sistema que sustentou o MPLA por décadas, parece um golpe de mestre contra Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”, Higino Carneiro, Dino Matross ou mesmo Boa-vida Neto. Mas o que está realmente em jogo? Justiça ou intimidação?
João Lourenço, desde que assumiu o poder, construiu sua imagem de combatente da corrupção em cima de julgamentos simbólicos que pouco ou nada alteraram a essência do sistema. Não é à toa que a escolha da data do julgamento cai no aniversário do MPLA. Ao mesmo tempo que se presta homenagem à história do partido, a mensagem é clara: quem ousar desafiar a nova ordem será tratado como “corrupto” ou “dissidente”.
O julgamento em si tem todos os ingredientes de um espetáculo político. A escolha da juíza Anabela Valente para presidir o caso, o envolvimento de figuras mediáticas como os generais e a notoriedade da empresa CIF asseguram atenção pública. Porém, o foco principal não está nos crimes alegados, mas no simbolismo. João Lourenço quer mostrar que nenhum dos velhos guardiões do MPLA está acima do alcance de sua agenda de poder.
E não apenas João Lourenço, mas também Miala, cuja ascensão à posição de destaque foi marcada por sua resiliência e sobrevivência política. O julgamento é, portanto, uma mensagem dupla: para o público, um suposto compromisso com a justiça; para o MPLA, um lembrete de que a velha guarda está no radar da nova liderança.
Este processo sinaliza mais uma tentativa de João Lourenço de consolidar seu domínio e de Miala de reescrever seu lugar na história. Kopelipa e Dino representam o passado, mas também a resistência ao presente. O julgamento, ao mesmo tempo em que intimida a velha guarda, serve como um aviso claro aos possíveis desafiantes da liderança. Enquanto isso, a plateia assiste, dividida entre o ceticismo e a esperança de que algo de fato mude.
No final, o julgamento do dia 10 de dezembro pode ser mais um evento cuidadosamente coreografado do que uma busca genuína por justiça. Para os angolanos, permanece a pergunta: este é o início de uma verdadeira transformação ou apenas mais um espetáculo para desviar a atenção dos verdadeiros problemas do país? O MPLA, que celebra neste mesmo dia seu aniversário, parece mais preocupado em preservar seu legado de poder do que em responder aos anseios de mudança de seu povo. Enquanto isso, Miala observa dos bastidores, finalmente vendo seus velhos algozes experimentarem o peso da balança que outrora desequilibraram em seu desfavor.
Por Hitler Samussuku
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