Os fakires são ascetas da tradição islâmica, adeptos da renúncia aos bens materiais e da resistência à dor. Angola também tem os seus fakires: Os aposentados! Passar à reforma em Angola é o mesmo que ser promovido à condição de indigente. A aposentadoria é um verdadeiro “perrengue”. Os angolanos têm medo da reforma. Humilha-os. Retira-lhes a dignidade social e econômica. Têm mais medo da reforma que da morte. Por quê? Porque o valor das pensões é baixo. Os pagamentos são feitos de forma excessivamente atrasada. Detalhe: Há angolanos que trabalharam por mais de trinta anos e não têm pensão.
A reforma obriga os angolanos a aderirem ao fakirismo. São obrigados a renunciar aos bens materiais. Sem querer, todavia. São forçados a resistir à dor da fome. Sem querer, todavia . São impelidos pelas circunstâncias a diminuírem o número de refeições por dia. Todavia, sem querer. São obrigados a desfazer-se do patrimônio acumulado ao longo da vida para sobreviver. A diferença é que os fakires angolanos não se deitam sobre camas de pregos e não perfuram o corpo. Muito menos andam sobre brasas ou pregos. Os fakires originais meditam e entoam cânticos místicos. Já os angolanos resmungam em mesas de bar. Descontam as suas frustrações na família. Essa é a diferença. Ponto! Travessão! Mudanca de linha! Abrir parágrafo!
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A aposentadoria em Angola é um verdadeiro “perrengue”. Os angolanos têm mais medo da reforma do que da morte. Há famílias em que a licença de um parente para a reforma é um azar maior do que o óbito. Ninguém está preparado para ir à reforma em Angola. Ninguém gosta. Em funções, tem-se mais expedientes e oportunidades para viver com mais ou menos dignidade.
O Executivo deveria levar a sério a falta de segurança social. O futuro de um reformado é incerto. É inaceitável que alguém que tenha passado mais de cinquenta anos a trabalhar não usufrua de sua contribuição. Uma derrota dos cinquenta anos da independência nacional. Uma vergonha para o Governo. Um descaso criminoso. O Governo leva mais a sério as questões partidárias do que a previdência social. Conclusão: Angola é um Estado desprovido de protecção social por deixar seus cidadãos desamparados na velhice. Há desprezo maior?
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