Zé-Tó, o líder da “União” cuja expressão na língua Umbundo é OMUNGA - José Gama in Memória



É oriundo de uma família originaria de Portugal que imigrou para o litoral  de Angola a época colônial e que se fixou  na cidade portuária do Lobito, onde o mesmo  nascerá, um dia após o natal de 1962. Foi registrado como José  António Martins Patrocínio mas no circulo intimo é tratado por Zé-Tó. 


A quando a invasão de forças sul africanas no sul de Angola, a sua família desmarcou-se do Lobito, via terrestre  até chegar Luanda. A época, o  pai foi buscar um irmão seu que fazia anos a 13 de Novembro daquele ano e que estava na frente do Balombo ao lado das  FAPLA. Foram informados que a UNITA vinha do Huambo com carros blindados para tomar Lobito. No dia em que fugiram, José  Patrocínio fez parte de um grupo de miúdos que,  ajudou a encher sacos de areia para fazer protecção das ruas. O seu pai teria dinamitado o  morro do Pundo para protecção da cidade  até serem alertados por  Artur “Pepetela” e pelo  Comandante  Monty  que  teriam mesmo de abandonar aquela cidade. A fuga deu-se de  madrugada.


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Após o retorno, da normalidade administrativa da província, José   Patrocínio , regressou ao Lobito e em 1978 seguiu  para o Huambo para dar seguimento aos estudos. O ano da revisão do sistema de ensino em Angola (surgimento do PUNIV) apanha-lhe ai. Na altura eram obrigados a ter três opções para os pretendidos cursos e o mesmo escolherá  arquitectura, oceanografia e como última opção  agronomia. Na realidade a faculdade do Huambo não oferecia curso de arquitectura, e a segunda opção (oceanografia) apenas existia, o   curso médio que era no  Namibe. Não teve outra ilusão  e  embarcou para o curso de  agricultura. Tinha apenas 16 anos.

No Huambo, viveu em varias casas  até chegar  ao  lar/internato.  Esteve também  na casa do "Sapo" da IV região militar.

Enquanto estudante universitário começou a trabalhar  dando aulas  no  Liceu Cte Dangereux do Huambo. Trabalhou também no  Centro de documentação do instituto de investigação agronômica (IIA)  na Chianga. Esteve  também na TPA-Huambo a colaborar como  realizador e locutor. Não recebia salário. Fazia parte do seu contrato, uma  troca de favores. Ao invés de lhe darem  salário, a TPA-Huambo fazia ligação de energia para um lar que ficava perto dos estúdios (havia problemas de energia na província e a TPA sobrevia com ajuda de um gerador).

Chegou a paralizar os estudos por três anos tendo retomado após a morte do seu irmão. No regresso a Universidade criou  o  primeiro boletim da Universidade Agostinho Neto, com ajuda de um outro colega de curso, Carlos Figueiredo. Voltou a leccionar  mas desta vez dando aulas de ecologia aos alunos do 12.º ano, do Médio agrário Ho chi Min. Deixou  o Huambo em 1987.

De regresso a Benguela, após a conclusão da  Licenciatura em agronomia foi admitido  no Gabinete de desenvolvimento do vale do Cavaco – Benguela onde trabalhou durante dois anos. O  director era um antigo colega  da faculdade, Isaac Francisco  dos Anjos. Desentendeu-se com o mesmo e acabou por se demitir registrando assim a sua desvinculação, nas estruturas do Estado,  para mais tarde aderir ao associativismo cívico.

Nas vestes de activista cívico, José  Patrocínio  revelou-se em 1998, no  grande impulsionador para criação de um projecto de nome “União”  cuja expressão na língua Umbundo é OMUNGA. O projecto terá nascido do antecedente da   ONG Okutiuka. Fazia parte da mesma uma activista, Sonia Ferreira que é hoje  a coordenadora do Okutiuka – Huambo.

Em finais da década de 90, ao  tempo do conflito armado  estabeleceu os primeiros contactos (clandestinos) com as áreas da UNITA para a ajuda humanitária. O objectivo seria convencer  a  missão da ONU (UNAVEM) a criar  corredores  humanitários para abastacer  a populção  do Caimbambo e Chongoroi que estavam sob ocupação das forças de Jonas Savimbi.  ele reunia com os sobas  "do outro lado" à noite ou seja Percorria de  bicicleta por longos Km durante a madrugada para ter  reuniões com os sobas  e ver  como as estradas estavam a ser arranjadas. O objectivo era terem  todos os argumentos para que o PAM não pudesse negar ajuda aos populares daquela área.

Ainda através da OMUNGA, José  Patrocínio  virou as  baterias em torno dos interesses de jovens moradores de rua no Lobito. Esteve em vias de perder a vida  pelas mãos das  forças policiais do regime do MPLA. Em Janeiro de  2006,  um policia em Benguela  deu um tiro na  cabeça de um jovem de rua, Antoninho Tchsiwugo que acabaria por morrer. O autor dos disparos se manteve  impune e o coordenador da OMUNGA moveu influencia trazendo advogados de Luanda para que o caso do policia  assassino não ficasse em nada. No seguimento da sua acção, recebeu ameaças para mais tarde ser interceptado por  três elementos, trajados de  branco que invadiram, de madrugada,  a varanda da sua casa, onde seria brutalmente   espancado. 

No seu trabalho pelos direitos dos sem tecto, criou o Centro de Informação e Documentação (CID) da OMUNGA,  que serve de instrumento para dar  formação de informática e de jornalismo  aos moradores de rua. Faz parte do CID, um corpo designado  Jovens da Brigada de Jornalistas (JBJ) que através de reportagens fazem registro de ocorrências na província. A época das eleições de 2008,   fiscalizaram  as mesmas tendo ele despachado um grupo de repórteres aos Municípios da Baia farta e Bocoio. A OMUNGA teve também na altura,    um espaço  radiofônico na radio comercial morena onde eram abordados temas  reflectidos na  sua causa.)

Enquanto coordenador da OMUNGA foi actor de um trabalho inédito em Angola. Conseguiu convencer o  Gabinete Municipal Eleitoral do Lobito para que os moradores de rua  exercessem  direito de voto nas eleições de 2008. Os elementos da OMUNGA serviram de testemunha  para que se pudessem emitir cartão de eleitor para os referidos jovens de rua.

José   Patrocínio deu corpo   a congressos  internacionais fora do país e internamente. O auge da sua carreira de activista terá se evidenciado ao ganhar através da OMUNGA, o estatuto de Membro da comissão de observadores dos direitos humanos da União africana. Conseguiu levar ao Lobito, o então  Embaixador da União Européia, João Garcia,  para ver a situação dos jovens moradores de rua do bairro da lixeira.

A acumulação do seu prestigio externo causou   ciúmes as autoridades da província. Em carta endereçada a um dos parceiros externos desta ONG, o director provincial do  Instituto Nacional da Criança Angolana (INAC), Ricardo Lourinho chegou a insinuar  que a OMUNGA é “uma organização que não tem  boas referencias na província”.

Foi também, José   Patrocínio,  que antes da aprovação  da  nova constituição defendeu  a necessidade de se alargar os debates políticos fora da Assembléia Nacional devido ao desequilíbrio existente dentro da casa das leis porque de contrario segundo  a sua posição na altura  poderia  restringir as discussões de questões decisivas na consagração dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos. 

A sua área de acção estendia-se  para outras localidades para onde se  deslocava  com realce a província do Huambo e a Huila. Nesta última viu-se chocado com a forma desumana que um grupo de populares estava a ser desalojado do seu habit. Em gesto de solidariedade ou repulsa mobilizou correntes fora e dentro do país para uma marcha de protesto no Lobito que fora sabotada pelo governo do MPLA que  em comunicado  ameaçou responder com agressão.

No trato pessoal, foi   uma figura “muito” frontal e sem complexo na abordagem de diferentes temas. Tinha   um consistente discurso   quanto as matérias da sua área de trabalho. Ainda quanto a marcha vetada pelo regime, o mesmo e os seus companheiros davam-se por vencedores   por terem conseguido fazer um comício  para 200 pessoas e outras acções. Argumentava  que: “O espírito da marcha ficou ainda mais forte em cada carro da polícia,  em cada cão bem alimentado,  em cada granada de gás nas mãos de cada policia e ainda fizemos comício  nas barbas deles,  levámos a mensagem a pelo menos 10 comunidades”.


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