A aparição da sexóloga Dr.ª Lwinizia Fernandes no Fly Podcast tornou-se um fenómeno mediático nacional. Com uma franqueza desarmante — falando de orgasmos fingidos, masturbação diária e brinquedos sexuais utilizados até durante os engarrafamentos em Luanda —, Fernandes abriu espaço para uma discussão urgente sobre sexualidade e saúde íntima no contexto angolano. No entanto, a linha entre pedagogia e espetáculo foi, por vezes, ultrapassada.
Num país onde a educação sexual continua envolta em tabus e mitos, sobretudo no que diz respeito ao corpo feminino, é salutar que existam vozes que desafiem o silêncio. A juventude angolana carece de informação precisa, científica e livre de preconceitos sobre os seus corpos, desejos e responsabilidades. Neste aspeto, a intervenção de Fernandes tem mérito e merece reconhecimento.
Contudo, o momento em que afirmou usar brinquedos vibratórios enquanto conduz nas estradas tumultuosas de Luanda é mais do que controverso — é um exemplo flagrante de irresponsabilidade. A mera sugestão de que se possa inserir e operar dispositivos vibratórios nas partes íntimas enquanto se conduz, não só desafia o bom senso como coloca em risco a segurança rodoviária. A condução exige atenção plena. As nossas estradas já são suficientemente caóticas — não precisamos de acrescentar distrações íntimas motorizadas.
Fisioterapia ao domicílio com a doctora Odeth Muenho, liga agora e faça o seu agendamento, 923593879 ou 923328762
Não podemos, enquanto sociedade, enveredar por um caminho onde seja necessário criar unidades especiais da polícia de trânsito para verificar se mulheres estão ou não a ocultar dispositivos vibratórios nas suas zonas íntimas enquanto conduzem. Esse tipo de modernidade não nos serve. A libertação sexual não pode ser usada como justificação para a imprudência.
Para além da questão da segurança, o impacto emocional sobre muitos homens foi evidente. Em sociedades ainda marcadamente patriarcais, como a angolana, a masculinidade encontra-se muitas vezes ancorada na noção de indispensabilidade. Ver uma mulher a exibir substitutos mecânicos para o prazer sexual — e de fabrico estrangeiro, sem qualquer identificação com a estética ou identidade do homem angolano — provocou, em muitos, um sentimento de humilhação simbólica. Não foi apenas uma provocação: foi lido como um atentado à sua relevância.
Se Fernandes tivesse apresentado, por exemplo, um dispositivo robusto, com uma dimensão simbólica e estética inspirada no imaginário viril do guerreiro Mwangole ou do homem Sakalumbu , o gesto poderia até ter sido interpretado como um tributo irónico, uma homenagem provocadora. Mas o que se viu foram objectos anódinos, importados, sem contexto nem ligação simbólica ao homem comum — e isso feriu, não apenas o ego masculino, mas também o orgulho nacional.
Um conhecido pastor, numa pregação amplamente partilhada nas redes sociais, insurgiu-se contra estes “ídolos de bateria”, acusando-os de subverterem o papel natural do homem na relação. Muitos poderão discordar da retórica, mas poucos deixaram de se rever, mesmo que em silêncio, na angústia subjacente: o receio de se tornarem obsoletos.
Curiosamente, houve um momento durante a entrevista em que Fernandes quase tocou num ponto de grande profundidade — mas que rapidamente abandonou. Referiu-se brevemente ao poder das palavras e ao impacto fisiológico que o afeto, o respeito e a escuta ativa podem ter no corpo feminino. Teria sido esse o verdadeiro caminho transformador.
Recordo uma pastora africana que dizia que a intimidade não começa no quarto, mas no quotidiano. No modo como o homem escuta, apoia, partilha o fardo doméstico, encoraja, surpreende, ora com a parceira. Não se trata do tamanho nem do desempenho, mas da segurança emocional que o homem proporciona — da sua presença constante, da ternura, do cuidado genuíno.
É precisamente esse universo emocional que os brinquedos, por mais sofisticados que sejam, não conseguem reproduzir. Sim, muitas mulheres compram-nos. Mas mesmo essas, muitas vezes em segredo, anseiam por algo mais: por alguém que caminhe a seu lado, que as ouça, que celebre as suas conquistas, que ajude com os trabalhos de casa dos filhos, que vá com elas à igreja, que cozinhe ao fim de semana, que lhes ofereça flores sem motivo. Por alguém que reze com elas de madrugada.
A Dr.ª Fernandes é, além de sexóloga, uma empreendedora sagaz. Compreende a lógica da atenção no espaço mediático. Mas se quiser ser mais do que uma provocadora — se quiser ser uma referência ética e transformadora — deve aprofundar o seu discurso. Passar do choque à substância. Do ruído à nuance. Da exibição ao vínculo.
Porque a verdadeira revolução íntima não está em gadgets. Está no respeito, na escuta, na presença e na ternura.
E isso — mais do que qualquer vibração — é o que transforma relações e sustenta o desejo.
Lil Pasta News, nós não informamos, nós somos a informação
0 Comentários