A INTRIGA COMO CURRÍCULO: QUANDO SER ÍNTEGRO É UM RISCO EM ANGOLA- Carlos Alberto



Na sociedade angolana, a intriga passou a valer mais do que a integridade. Em vez de se reconhecer o mérito, promovem-se os que sabem manipular, caluniar, infiltrar e semear desconfiança. Em vez de se valorizar a competência, destaca-se quem sabe destruir reputações. Os que se mantêm sérios, discretos e responsáveis são empurrados para o silêncio - ou para o abismo.


Em Angola, a intriga virou currículo. Há quem suba por saber inventar histórias. Há quem se promova à custa de difamações cuidadosamente sopreadas nos ouvidos certos. E o mais grave é que o Estado, que deveria ser árbitro e garante da moral pública, permanece inerte ou, em alguns casos, cúmplice desse jogo sujo.


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Não há políticas públicas que identifiquem, valorizem e protejam cidadãos honestos. Não há programas de promoção da ética. Não há incentivos para quem serve o país com responsabilidade, sem pedir nada em troca. Em vez disso, o sistema recompensa os que mais sabem contornar os valores.


Nos corredores do poder, o que se ouve são nomes a circular, não por competência técnica ou integridade cívica, mas por alinhamento com certos grupos, por lealdade a determinados chefes ou por saberem "levar e trazer". E quem se recusa a alinhar nestas práticas é tido como ingénuo, instável, perigoso ou “politicamente imaturo”.


Em muitos casos, até o próprio Presidente da República é induzido ao erro (propositadamente), ao receber relatórios distorcidos e enviesados sobre jovens íntegros que poderiam servir bem o país. Esses relatórios são elaborados por figuras com interesses próprios, que temem a ascensão de quem não participa nos seus esquemas. Distorce-se a verdade, exageram-se erros menores ou inventam-se “ligações duvidosas”, tudo para bloquear o acesso de alguém sério a cargos de responsabilidade. A intriga funciona como mecanismo de exclusão institucional.


A consequência disso é devastadora: a integridade passou a ser um risco. Quem mantém uma postura honesta é visto com desconfiança. Quem diz a verdade é tratado como inimigo. Quem não participa na teia de favores, bajulações e sabotagens é simplesmente descartado.


E, como se não bastasse, até as recentes condecorações presidenciais, que deviam mostrar que vale a pena ser íntegro, estão a fazer precisamente o contrário. Há excepções, claro. Mas, em vez de inspirarem os jovens à honestidade, acabaram por passar a mensagem de que basta estar próximo do poder para se ser condecorado, mesmo sem obra, sem carreira digna ou sem exemplo público. A juventude está a ver, e percebe que não vale a pena ser sério num país onde os oportunistas é que recebem medalhas. O que deveria ser símbolo de mérito tornou-se, em muitos casos, motivo de escárnio colectivo. Um país que banaliza as condecorações banaliza também os valores.


E os que ousam dizer isto, como jornalistas ou académicos, são rebaixados ou afastados com orientações expressas. No tempo de José Eduardo dos Santos, muitos jornalistas foram expulsos das redacções por não concordarem com o rumo do país. Hoje, repete-se o mesmo padrão: camuflado, mais discreto, mas não menos violento. Quem se recusa a participar no “bungle bang” - essa lógica de bajulação, auto-promoção e silêncio cúmplice - é tratado como ameaça. O castigo pode vir sob a forma de censura, marginalização ou exoneração. Nada mudou, na prática, apenas se mudou o estilo de exclusão. 


Até em órgãos de Defesa e Segurança, como o SINSE, onde se devia manter e valorizar pessoas íntegras, fez-se - e ainda se faz - exactamente o contrário. Afastam-se os honestos, colocam-se em posições-chave os bajuladores, os manipuladores e os que garantem fidelidade cega ao chefe, mesmo em prejuízo da verdade e da legalidade. Isto prejudica gravemente o país: sabota o interesse público, corrompe o Serviço de Inteligência e transforma a Segurança do Estado num instrumento de protecção de interesses pessoais e políticos, em vez de um verdadeiro pilar da soberania nacional.


Há casos concretos - e muitos - de pessoas sérias que perderam cargos por não terem aceitado ordens ilegítimas. De técnicos que viram as suas carreiras congeladas por não se sujeitarem à corrupção. De quadros que foram afastados por se recusarem a assinar relatórios fraudulentos. E, o mais caricato, em vez de se investigar quem mente, persegue-se quem diz a verdade.


O Estado angolano deveria criar mecanismos formais e funcionais para proteger os íntegros. Não basta proclamar o combate à corrupção - é preciso institucionalizar a valorização da ética. É preciso fazer da integridade um valor de Estado, e não apenas um discurso político de ocasião.


A juventude que observa tudo isto aprende rápido: se o honesto é punido e o intriguista é promovido, então por que razão deveria seguir o caminho da rectidão? Se não for feita uma inversão de prioridades e de valores, a médio prazo Angola tornar-se-á totalmente refém dos mal-intencionados - e será demasiado tarde para corrigir o rumo.


A responsabilidade maior é do Estado. Mas a sociedade, os partidos, as igrejas, as universidades e os meios de comunicação social também têm o dever de reconhecer, divulgar e defender quem mantém a dignidade intacta. Não há "prémios" para os honestos e íntegros e isso é muito grave para a moral pública. Sem integridade reconhecida, o país afunda-se na cultura do cinismo.


Não basta lamentar o comportamento dos "espertalhões" e "espertalhonas": é preciso proteger os justos.

E, em Angola, proteger os justos é, hoje, uma urgência nacional.


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