QUEM CONVOCOU ESSA MANIFESTAÇÃO ? - Hitler Samussuku



Por trás da manifestação, não há um partido, uma ONG, ou uma liderança carismática com megafone em punho. Quem convocou o povo para as ruas em Angola tem um nome antigo, um rosto conhecido e um grito que não precisa de microfone: a fome.


Foi ela, a fome, quem acordou primeiro. Antes do sol nascer, já batia nas portas e janelas das casas humildes, perguntando pelos filhos sem jantar, pelos pais sem emprego, pelas mães que há semanas improvisam refeições com o que não existe. Foi ela quem sussurrou aos ouvidos dos jovens desempregados: “Vocês ainda estão vivos, vão lutar”. Foi ela quem empurrou os pés cansados para a rua, quem estalou o chicote invisível nas costas dos que há muito deixaram de acreditar em promessas.



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Não foi a UNITA, nem a ANATA muito menos o Movimento Cívico Mudei , nem os activistas de sempre. Foi a fome. Foi ela quem ensinou ao povo que esperar é morrer em silêncio. Foi ela quem rompeu o medo e soprou coragem nos becos de Luanda, nas praças do Moxico, nas ruas poeirentas do Huambo.


Foi a fome quem invadiu as lojas, não por maldade, mas por desespero. Foi ela quem arrancou os braços da inércia e fez com que se atirassem contra o vidro, não para roubar, mas para sobreviver. Não há crime na sobrevivência — há grito.


E a quem pertence a resposta dura do Estado? A quem serve a repressão? Ao ditador, claro. João Lourenço, encastelado na sua bolha de luxo, cercado de bajuladores e generais milionários, talvez nunca tenha conhecido o som que faz um estômago vazio quando se mistura com a revolta. Talvez não saiba que há algo mais forte que o medo das balas: o medo de morrer lentamente sem pão, sem dignidade e sem esperança.


As medidas neoliberais — aquelas que o FMI aplaude e que os ministros copiam com orgulho de aluno obediente — são gasolina no fogo. A retirada de subsídios, o aumento do combustível, a destruição do pouco que restava do Estado social… Tudo isso são decretos assinados por mãos que nunca apertaram um corpo faminto.


A fome, senhores, é uma convocadora impiedosa. Ela não imprime panfletos, mas mobiliza multidões. Ela não usa redes sociais, mas espalha sua mensagem com mais eficiência do que qualquer propaganda. E quando ela diz basta, o povo vai. Vai sem líderes, sem bandeiras, sem ensaios. Vai porque não há mais nada a perder.


O governo pode mandar a PIR, o SIC, o SINSE e a Polícia  pode prender, pode censurar. Mas não pode prender a fome. Não pode algemar o vazio no prato. Não pode silenciar o estômago. E muito menos pode vencer o povo que decidiu escutar o chamado da única coisa que ainda fala mais alto que a repressão: a fome.


E quem quiser saber quem convocou essa manifestação, que olhe nos olhos da multidão e pergunte:

“Por que estás aqui?”

A resposta será unânime, crua e devastadora:

“Porque estou com fome.”


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