Confesso que, a princípio, não prestei a devida atenção ao nome—apenas “Waldemar José”—e, sendo Angola tão bem provida de Josés, concluí que havia três. Havia o Comissário José, que tomei por polícia; as suas publicações eram pequenos despachos da linha da frente, com um subtom jurídico suficientemente reconfortante para nos fazer crer que a lei, afinal, podia estar em boas mãos. Depois, o Professor José, universitário cuja aula vi do princípio ao fim; tratava o direito não como peça de museu, mas como língua viva: menos recitação do código penal, mais explicação do comportamento humano. Estive quase a inscrever-me.
E, por fim, o Agricultor José: prodígio prático que conserta um motor antes do pequeno-almoço, convence tomates e quiabos a portarem-se bem e prega a mandioca com fervor evangélico. As suas lições são hidráulica em traje civil—linhas por gravidade, coluna de água, a discreta geometria da pendente—sempre pensadas para principiantes. Parte do princípio de que há entusiasmo, não necessariamente recursos; tem o dom de indicar a via mais económica e exequível, incentivando a melhorá-la quando sobram alguns kwanzas. Sai-se dos seus vídeos com a agradável sensação de ter sido instruído e, simultaneamente, tomado a sério.
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A autoridade nasce também da biografia. Enquanto estudava Ciências Policiais em Portugal, Waldemar trocou discotecas por betoneiras; os serões foram passados em obras. Resultado: um agricultor que pensa como engenheiro. Mais tarde concluiu um doutoramento em Direito, com Primeira Classe, que deixou o júri cubano de sobrancelha erguida; arrisco dizer que até os lápis terão ficado suspensos no ar por um instante. A sua exposição sobre a construção de um reservatório—duas paredes, armadura adequada, pressão onde mais conta—foi uma aula magistral de como pôr a estrutura ao serviço do propósito. Sem misticismos; sem afetações; a competência tranquila que evita fugas antes que apareçam.
A água, de resto, é o tema preferido dele e meu. Muitas vezes contemplei um rio no sopé e perguntei-me por que razão tanta água útil há de precipitar-se para o Atlântico quando os campos, lá em cima, esperam. Waldemar responde com mistura de energia solar e gravidade: elevar com moderação, armazenar com inteligência e deixar a altura fazer o grosso do trabalho. É irrigação como bom senso, não espetáculo; faz hectares sussurrarem «possível».
Nada disto o priva de humor. Conta, com fleuma, que regressou de Portugal, comprou uma cisterna e passou a vender água. Não há pudor no comércio: as contas têm de fechar, ou as tubagens não fecham. A vertente comercial, admite sem cerimónia, é administrada com disciplina exemplar pela esposa—filha de agrônomo —que mantém os livros imaculados e os projetos solventes.
A vida doméstica harmoniza-se com a empresa. Criam cabras; as crianças distinguem trabalho de ar livre; e a esposa, de elegância imune às estações, surge por vezes com um chapéu de abas moles que não destoaria nas páginas da “Country Life”. Ele traz-lhe flores e pitangas; ela traz-lhe balanços. Entre ambos, o campo deixa de ser nostalgia e passa a plano.
Tudo isto fala a uma impaciência maior: a resignação com que se admite que África tolere carências alimentares enquanto os rios correm à porta. Prefiro a aritmética silenciosa de muitas pequenas explorações a produzir com constância, recolhidas por sistemas que pagam com justiça e escoam com eficiência. Os grandes desígnios impressionam vistos do ar; os pequenos é que alimentam pessoas.
Waldemar José encarna essa ética. Ensina com clareza, cultiva com convicção e partilha o saber sem o menor açambarcamento. Os métodos são frugais; o humor, seco; os resultados, visíveis. Comecei a seguir três homens; acabei a aprender com um—e, confesso, um pouco mais inclinado a voltar a meter as mãos na terra.
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