Auria Machado Rainha dos Porcos- Sousa Jamba



A dor espalhou-se esta manhã por Angola, com a partida de Áuria Machado — a mulher que criou porcos e, nesse gesto, elevou o saber de uma nação. Nunca foi apenas agricultora; foi narradora da terra, a sua voz a ressoar do curral ao estúdio, da aldeia à capital. Nas suas mãos, o labor humilde de cuidar dos animais transformava-se em parábola de dignidade, perseverança e pertença.


Confesso que sempre temi a criação de porcos. Trago comigo a lembrança dura de uma febre que, em poucos dias, devastou a criação de um amigo no Planalto Centr. Percebi então a fragilidade e a exigência dessa arte: os animais pedem cuidados constantes, pedem conhecimento, pedem paciência. Por isso admiro ainda mais aqueles que a dominam — porque não é apenas um ofício, é também uma prova de resiliência e entrega.


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Áuria Machado compreendeu o poder da imagem. Tinha humor, tinha presença, e construiu em torno de si uma imensa comunidade. Tornou-se persona, tornou-se referência, e assumiu com orgulho o título de rainha dos porcos em Angola. Esse título, aparentemente leve, tinha um peso maior do que muitos imaginam. Noutras geografias, como na Zâmbia, país que também me pertence, os grandes agricultores são respeitados, mas o reconhecimento recai sobretudo sobre fazendeiros discretos, muitas vezes de origem estrangeira ( zimbabueanos, britânicos, sul-africanos) que produzem em escala, mas raramente partilham.

O que distingue Áuria  Machado  (e outros agricultores africanos emergentes)  é precisamente a generosidade em partilhar saberes. Não era preciso uma escola especializada: bastava acompanhar os seus registos, ouvir os seus relatos, perceber os obstáculos que enfrentava e as soluções que inventava. Esse gesto simples, essa abertura, prestou um serviço a milhares de pessoas, mais profundo do que se imagina. Cabe ao Estado compreender o valor desta partilha e estimular quem, como Áuria, transforma experiência em bem comum.


As nações gostam de proclamar intenções estratégicas com eloquência: escrevem-nas em parlamentos, difundem-nas em canais de rádio e televisão, repetem-nas em fóruns internacionais. Mas toda essa visão, por mais inspiradora que seja, esvai-se se não for transformada em prática. Os países que avançam são os que contam com pessoas capazes de passar do plano à obra, da ideia ao gesto. Nesse sentido, Áuria Machado foi também líder: possuía visão, mas igualmente a tenacidade de implementar; tinha intuição intelectual para compreender o que estava em jogo, mas também a paciência de quem trabalha com as próprias mãos. Essa combinação rara é lição que devia ser ensinada — porque ela é, de facto, uma heroína do nosso tempo. A sua vida permanece como exemplo; o seu nome, como semente para as gerações futuras.


A nação angolana precisa de celebrar figuras assim. O verdadeiro empreendedor não é o que se deslumbra com carros de luxo ou férias distantes; é o que transforma a terra e, com ela, transforma vidas. Recordo-me de uma entrevista em que Áuria falava com inquietação não do seu lucro, mas dos postos de trabalho que poderia perder, das famílias que dependiam do seu esforço. É essa generosidade que importa guardar: o trabalho como serviço, o negócio como comunidade, o lucro como dignidade partilhada.


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