Em política, números raramente são apenas números. Eles contam histórias, revelam tensões, expõem disputas internas e iluminam a trajetória de líderes que, a cada congresso, têm de provar não apenas que existem, mas que resistem. Foi isso que aconteceu com Adalberto Costa Júnior ao longo dos últimos seis anos dentro da UNITA — um percurso marcado por batalhas silenciosas, vitórias ruidosas e uma persistência que desafia a engenharia política da Cidade Alta.
O ano de 2019 foi o primeiro capítulo dessa novela. Num congresso intensamente disputado, enfrentando figuras históricas e respeitadas do seu partido, Adalberto venceu com 55% dos votos. Uma victória que dividiu opiniões, consolidou posições e ao mesmo tempo despertou receios no regime. Dois anos depois, em 2021, aquele congresso seria anulado por decisão judicial, numa intervenção amplamente interpretada como obra dos Serviços de Informações e Segurança do Estado — um gesto que, mais do que alterar a legalidade interna da UNITA, sinalizou o desconforto das estruturas do poder diante de uma liderança que ganhava projecção nacional.
Ironia da história: no mesmo 2021, Adalberto concorreu sozinho no congresso repetido, mas obteve apenas 85%. Era o partido expurgando tensões internas, reequilibrando facções, digerindo feridas ainda abertas. Mas era também a prova de que liderar a oposição angolana continua a ser um exercício de sobrevivência política num terreno inclinado.
Chegamos então a 2025. Desta vez, com Rafael Savimbi como adversário — um nome simbólico e carregado de memória — Adalberto Costa Júnior conquista 91% dos votos, o seu melhor resultado. A curva ascendente revela mais que um crescimento matemático: revela consolidação. Revela que, para boa parte da militância e da sociedade civil, Adalberto deixou de ser apenas um candidato interno; tornou-se uma figura de projeção nacional, simultaneamente admirada e detestada, mas incontornável. Ao lado de Jonas Savimbi, é talvez o opositor que mais dores de cabeça provoca no regime.
Reeleito, Adalberto anunciou agora uma nova Frente Patriótica, mais ampla, mais plural e desta vez com forte ênfase na sociedade civil. É uma tentativa de unir descontentamentos, alinhar agendas e criar algo que vá para além dos partidos: um movimento político e social capaz de enfrentar o MPLA em 2027, ano que a UNITA já assume como uma espécie de “tudo ou nada”.
A ambição é clara e não tem sido escondida: conquistar o poder, reformar o Estado, despartidarizar as instituições, institucionalizar as autarquias locais e restabelecer a separação efetiva dos três poderes. Para o partido do Galo Negro, estas reformas não são luxos democráticos; são “condições sine qua non” para o desenvolvimento do país e para a redução das desigualdades que se agravaram ao longo das últimas décadas.
Mas há algo novo no discurso: a defesa aberta da necessidade de um processo de transição política responsável, uma discussão que, embora sensível, começa a ganhar espaço entre juristas, acadêmicos e sectores da sociedade civil. A pergunta não é se Angola precisa mudar — isso parece consensual — mas como a mudança deve ocorrer, de modo a preservar a continuidade do Estado e evitar rupturas que possam comprometer a estabilidade do país.
A trajetória recente de Adalberto Costa Júnior mostra algo raro na política angolana: resistência organizada. Os números dos congressos contam uma história de crescimento, mas contam também uma história de bloqueios, receios e tentativas de contenção. O líder da UNITA tornou-se, quer o regime queira quer não, um actor central no tabuleiro político angolano.
E a partir de agora, com 2027 no horizonte, a crônica já não se escreve apenas nos congressos. Escreve-se nas ruas, nas instituições e, sobretudo, na esperança — ainda tímida, mas crescente — de que a alternância democrática possa finalmente deixar de ser uma miragem.
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