Denúncia contra a Rede Girassol: Precarização laboral, incumprimento salarial e silêncio do Conselho de Administração



A Rede Girassol, empresa anteriormente gerida pela Ginga Comunicações e actualmente sob a alçada da Victória Press, entidade ligada à estrutura de gestão do MPLA, tem sido alvo de sérias denúncias por parte dos seus trabalhadores, que relatam um quadro persistente de violação dos direitos laborais e de desrespeito institucional.


A empresa encontra-se sob orientação directa dos secretários para a Informação do partido no poder. Antes de Esteves Hilário, a gestão esteve a cargo de Rui Falcão. Actualmente, o Conselho de Administração tem como Presidente do Conselho de Administração (PCA) Tatiana dos Anjos, filha de Isaac dos Anjos. Internamente, Tatiana dos Anjos é descrita por funcionários como uma jovem figura próxima de círculos da elite social e cultural, mantendo relações com artistas e figuras públicas, entre os quais o músico Preto Show.


Nos últimos tempos, a nova liderança tem vindo a ocupar espaços ideológicos e decisórios dentro da plataforma Girassol, impulsionando projectos como o Girassol Kuduro e discutindo a implementação de um reality show previsto para 2026. Contudo, este foco no entretenimento e na projecção mediática contrasta fortemente com a realidade vivida pelos trabalhadores da empresa.

O centro desta denúncia não são os projectos culturais nem os artistas envolvidos, mas sim o que vários funcionários descrevem como um verdadeiro regime de opressão laboral e sofrimento humano.


Principais denúncias dos trabalhadores:

1. Falta de pagamento à Segurança Social

A empresa é acusada de não efectuar, de forma regular, os pagamentos obrigatórios à Segurança Social, colocando em risco os direitos futuros dos trabalhadores, nomeadamente no que respeita à reforma, assistência médica e outras garantias sociais previstas por lei.

2. Não pagamento dos subsídios de férias e de Natal

Os funcionários denunciam o incumprimento sistemático do pagamento dos subsídios de férias e de Natal, um direito consagrado na legislação laboral angolana, agravando a já frágil situação económica de muitas famílias.

3. Atrasos salariais prolongados

Os salários têm sido pagos com atrasos significativos, chegando, em alguns casos, a 40 ou 45 dias. Apesar disso, os trabalhadores continuam a ser obrigados a cumprir jornadas intensas, sem qualquer compensação adequada.

4. Descontos indevidos e ausência de pagamento de horas extraordinárias

Existem relatos de descontos salariais aplicados de forma arbitrária por alegados atrasos, ao mesmo tempo que as horas extraordinárias prestadas não são pagas nem compensadas, configurando uma prática abusiva.

5. Encerramento total ao diálogo institucional

O Conselho de Administração é descrito como completamente fechado ao diálogo com os trabalhadores. Recentemente, um grupo de funcionários promoveu um abaixo-assinado com o objectivo de solicitar uma reunião com a direcção. No entanto, a PCA optou por reunir apenas com directores e coordenadores que, segundo os denunciantes, em vez de defenderem os colegas que sustentam o funcionamento diário da empresa, preferiram adoptar uma postura de bajulação, agravando ainda mais o clima interno.


Desafio às instituições e resposta irónica

De acordo com informações recolhidas, mesmo após a emissão de um comunicado do Instituto Geral do Trabalho a exigir a regularização dos salários e dos subsídios em atraso, o Conselho de Administração terá reagido com ironia, afirmando:

“Podem juntar o subsídio de Natal para comemorar o dia 31 e o salário de Dezembro para cobrir o Janeiro.”

Esta declaração, se confirmada, evidencia um profundo desrespeito pelas instituições do Estado e pelos trabalhadores.

Uma dramaturgia nacional em curso

Enquanto a Rede Girassol investe em imagem, espectáculos e projectos de visibilidade pública, os seus trabalhadores continuam a enfrentar incerteza, instabilidade financeira e ausência de direitos básicos. O contraste entre o brilho mediático e a realidade laboral levanta sérias questões sobre ética, responsabilidade social e respeito pela dignidade humana.

Os funcionários esperam que estas denúncias não caiam no silêncio habitual e que as entidades competentes actuem com firmeza. O país assiste, mais uma vez, a uma dramaturgia nacional onde o poder comunica, mas não escuta, e onde quem trabalha continua a pagar o preço mais alto.


Estaremos atentos a novos desenvolvimentos.


Ernesto Kinavuide Dos Santos (Jurista)

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