Ainda sobre a Constituição de 2010: a propósito de declarações dos seus alfaiates- Marcolino Moco

É confrangedor o cinismo com que os mandatários (ou pertencerão igualmente à equipa dos mandantes?) da costura da actual constituição formal e material de Angola, na pessoa do Dr. Adão de Almeida, se referem a supostos benefícios dela, nos 13 anos da sua vigência. Muitos, entre os quais eu próprio, tinham percebido que recentes declarações do Dr. Rui Ferreira, dariam início a uma positiva reviravolta, no sentido do reconhecimento do mau serviço prestado à nação angolana em construção, com a contribuição daqueles que são reputados como os mais proeminentes juristas deste país, colocados nos mais diversos graus de responsabilidade. Afinal, não sei se no cimentar do caminho para o terceiro mandato de JLO, ou pior, na sua eternização no poder, vêm insistir na “porrada” ao mesmo “ceguinho”.

Como é que ainda não se percebeu que é esta “constituição”, que nos seus dois referidos sentidos, permite que um chefe de Estado, do Executivo, das chefias militares e secretas, dos tribunais superiores, da comunicação social, dos governadores provinciais e de tudo o mais, não seja directamente responsabilizado perante o eleitorado e um parlamento autónomo, que está levar o país ao descalabro?

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Com esta “constituição” como podem ser respeitados os direitos fundamentais de que tanto se ufanam, se ufana o Dr Adão de Almeida? E estão a ser respeitados os direitos fundamentais, até mesmo de próprios mandatários do poder, como o ouviram na escaldante entrevista do "escaldademente" exonerado Comandante Geral da Polícia? Como, com esta “constituição” algum dia teremos eleito um governo que não tenha essa politica de habitação, por exemplo, que constrói centralidades para “comissões” de alguns, enquanto juízes, jornalistas que podem ser independentes ou nem por isso, professores, médicos, homens e mulheres da cultura se contentam em contemplar apartamentos abandonados ou distribuídos a quem nem presta grandes serviços ao país, a não ser que se predisponham a integrar as renovadas campanhas políticas do partido no poder, também ele rebocado por um sistema deletério?

Que “democracia e estado de direito” é que estão a construir, professor Dr. Adão de Almeida, com uma “constituição” que já se virou contra o seu progenitor político, o PR JES e, vivam os senhores doutores muitos anos, se virará contra vós também?

Vamos todos reflectir com seriedade. Esta “constituição”, de facto, é que “não irá encher a barriga de ninguém". Nunca.