SIONA CASIMIRO, O CONCILIADOR-EM-CHEFE!

O Siona Casimiro foi o único colega que pelo menos me ouviu, quando, em 1998, salvo o erro, estava a ser alvo duma acção de puro terrorismo psicológico, perpetrada por forças do mal da secreta. A ideia era aterrorizarem-me até ao ponto de ver no suicídio a única salvação.

Tudo começara por causa duma crónica que escrevi no Folha 8, em como o fim da guerra poderia ser conseguido após um «funji de domingo, à sombra da mulemba», entre José Eduardo dos Santos e Jonas Malheiro Savimbi. A sugestão, inspirada na canção de Teta Lando, ia me custando caro. Quer por ter sido mal vista pelos que não desejavam o fim do negócio que o bilo civil proporcionava, como por má interpretação duma palavra (entranhar) que eu usara no texto. Os «inteligentes» de serviço, nabos duma figa, fantasiaram em perspectiva que poderia haver um qualquer plano para se envenenar o então presidente da república e tocam a aplicar uma overdose do «soro da verdade» ao reaccionário do Salas Neto, numa das suas oficinas, a fim do gajo confessar tudo sobre a maquinação.

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Resultado: atiraram-me desacordado, todo nu, diante da casa da minha mãe, passando depois a ser encarado como puro louco. Puseram mais tarde o Papá Kitoko em cena, que Deus o tenha, para darem cabo de mim com uma mocada lá no «manicómio» do gajo no Cazenga, mas consegui fugir a tempo de mandar uma mensagem para fora através dum emissário que enviei ao centro de imprensa Aníbal de Melo, que terá resultado, já que a pressão acabaria por completo assim que foi publicado um relatório dos repórteres sem-fronteiras, no qual figurava como «jornalista perseguido» no seu país por razões políticas.

O estranho é que, depois do fim da acção terrorista, voltei ao serviço como se nada se tivesse passado, quando fora considerado doido varrido, sendo altamente suspeito o facto do William Tonet não ter querido saber do seu editor de sociedade nesse interim, como se estivesse por dentro da missão bofiana contra a minha pessoa. Para mim, ele sempre foi dos «serviços».

Pois, eu fora ter com o Siona Casimiro em sua antiga casa na Vila Alice, que alguns anos depois viria a ser a sede do Semanário Angolense. Já não me lembro se ele estava ou não com o seu inseparável Avelino Miguel. Ele também parecia não acreditar nos relatos que eu fazia, mas só o facto de me ter escutado ajudou muito.

Foi em consideração dele, meu antigo colega na Angop, que seria convencido a engolir um grande sapo, para não beliscar o congresso que haveria de marcar a passagem do testemunho na chefia do sindicato dos jornalistas, do Ismael Mateus para a Maria Luísa Rogério, em 2004 ou 2005. Fazendo parte da lista do saudoso Paulo Maria, que o grosso da malta não queria, afinal, por ser alegadamente «homem do Wadijimbe», eu quis abandonar o conclave com uma confusãozita à mistura, depois que descobri que o meu então Patrão Graça Campos estava legalizado para votar, o que me levou a deduzir que o processo já estava viciado à partida. Estava mesmo para zagaiar, mas lá o velhote, com aquelas falinhas mansas dele, conseguiu convencer-me a consentir um grande sacrifício pela unidade dos jornalistas em torno do seu sindicato, aceitando ir para uma eleição já sabendo que tudo estava preparado para a minha turma perder. Foi muito doloroso.

O pior é que, quando chega a hora das homenagens, o sacana do Teixeira Cândido só me coa. E nem ao menos me convida para os jantares celebrativos, preferindo distinguir representantes do patronato, algo contranatura, fidacacha de merda. Que a terra seja leve para o velho Siona, o nosso decano!

Salas Neto