A discriminação que fui alvo na TPA- Salas Neto

 


EM DIRECTO DA «HO-CHI-MIN»

Em Janeiro ou Fevereiro de 1991, entre ser humilhado por um director-geral  filipado no Jornal de Angola e arriscar uma aventura na TPA, mesmo tendo já consciência de que seriam quase nulas as hipóteses de vir a fazer uma grande carreira na televisão, como já adiantei por que razão no outro dia, decidi-me pela segunda opção, que sabia transitória, em defesa da minha dignidade.

Não tinha ilusões, porque sabia que, sendo a televisão um mundo «que na qual» uma cara limpa é o principal activo, partia com uma desvantagem insanável, mesmo sem ser um feião daqueles, por portar uma deformação no rosto, decorrente da perda dum olho, assunto que já aqui tratei, também em preparação para a conversa de hoje. Havia ainda a agravante da imobilidade da prótese ocular que usava fazer parecer que era estrábico.



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Portanto, em face dessas nuances, não tinha hipóteses de vir a ser, por exemplo, apresentador do telejornal ou dalgum outro espaço informativo importante, em que será imprescindível um rosto fofo, algo que deixaria de reclamar desde os 11 anos, idade com que perdi o olho e um bom pedaço da beleza facial, embora continuasse a ter traços finos, sem contar com o corpo escultural e a cor de pêssego da minha pele, que sandacaiavam as garinas lá da sanzala, modéstia à parte.

Aliás, se calhar foi por isso que já não me surpreendeu, nem um bocado, a discriminação de que terei sido alvo, assim que cheguei na TPA: Adelino de Almeida, o A. Matxiânvua, atirou-me como simples repórter estagiário para «A Capital», um programa de segundo plano da direcção de informação, o equivalente ao actual «Ecos e Factos», quando sabia que eu tinha «cabedal» para patamares superiores.

Na altura, as atenções estavam viradas para a grande política, girando tudo à volta das negociações que levariam aos acordos de Bicesse, com todas as implicâncias mediáticas da anunciada abertura à democracia multipartidária. Gostava de estar ligado a isso, ainda que não viesse a aparecer no ecrã nenhuma vez, pouco importava, como editor já estaria de bom tamanho, mas não me deram esse ar. Acusei o toque e quase me arrependi de lá ter ido parar.

Além de mim, faziam parte da equipa que Adelino de Almeida levara para a TPA os jornalistas Graça Campos, Alexandre Gourgel, Alves Fernandes, Francisco Alexandre e António Nascimento. Exceptuando este último, que iria desterrado comigo para «A Capital», os demais seriam integrados na «task force» da estação que se ocuparia das grandes reportagens e debates políticos, assim como dos telejornais e doutros espaços informativos pontuais.

Entre eles, nunca havia trabalhado já com o Alves Fernandes, o Alexandre Gourgel e o António Nascimento, sendo que a este sequer conhecia nem jamais ouvira falar como jornalista, o que causaria certas suspeitas. De resto, o facto dele ter saído mais tarde da televisão para adido de imprensa no Zimbabué, sem mais nen ontem, seria um sintoma «daquilo que é», coisos e tal. No entanto, parece que não passou de mera impressão.

Já o Graça Campos, de quem eu era panco incondicional, funcionava como meu «kisoco», pois, onde ele surgisse, eu acabava por aparecer. Seria assim na ANGOP, Jornal de Angola e então na TPA. Anos depois, voltaríamos a nos dar encontro no Folha 8, Angolense e Semanário Angolense, jornal fundado por ele em 2003, no qual eu viria a pendurar as chuteiras como seu último director em Maio de 2016.

Contudo, a vida dá tantas voltas, que hoje não nos passamos cartão, sei lá porque, noves fora o meu xinguilamento por ter sido escandalosamente injustiçado na hora da compensação que o gajo me atirou pela contribuição dada para a valorização estratosférica do título que paiaria por quatro milhas, como se sabulou nos mentideiros, xé, era muita massa.

Eu que dava sangue todos os dias, apanhei apenas 15 paus, enquanto o Sousa Jamba, que escrevia uma crónica por semana, lhe atirou uns 100 paus. Assim é de bem? Não, nem na China. Por isso é que acho que o Felito sempre «madeve» algo algum.

Quanto ao Chico Alexandre, lembro-me de o ver a entrar e a sair, fardado, do desk especial que o KB Gala passara a chefiar na ANGOP, em meados dos anos 80, donde partiam os editoriais oficiais mais duros contra a guerrilha de Jonas Savimbi e outros «lacaios do imperialismo», nos tempos quentes da kitota civil. É de sua autoria a célebre expressão «Custe o que custar!».


Artigo do jornalista Salas Neto, título da autoria da redação do Lil Pasta News 


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