À primeira vista, a manifestação de protesto que teve lugar neste sábado no município do Tômbwa, na província do Namibe, contra a exploração do petróleo naquela região do Sul do país, pode parecer um acto sem grande relevância do ponto de vista político.
Provavelmente, não faltarão vozes que irão minimizar o assunto, apontar o dedo à oposição ou aos movimentos cívicos acusando-os de terem estado por detrás da referida manifestação.
A manifestação do Tômbwa, que foi dispersada pelas forças policiais, revelou que nem sempre o petróleo é sinónimo de felicidade para os povos, sobretudo em África onde existem elevados níveis de corrupção e os milhões dos seus habitantes sobrevivem na mais extrema indigência.
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Quando, em meados da década de 1950, o «ouro negro» foi descoberto em Angola, o então ditador António de Oliveira Salazar não se entusiasmou com o achado, antes pelo contrário ficou triste e perturbado. Premonitório, lamentou que a partir daquela altura iriam aumentar os apetites estrangeiros sobre a antiga «jóia da coroa» de Portugal em África.
Apesar da importância do crude na economia mundial, o então chefe do governo luso decidiu apostar seriamente no fomento da agricultura e da pequena e média indústria, tendo produzido o chamado «milagre económico». Só em 1973, um ano antes da derrocada do império colonial lusitano em África, o «ouro negro» viria a ser a maior fonte de receitas da economia angolana.
Os habitantes do Namibe, sobretudo os que se dedicam à actividade piscatória, não só receiam que a extracção do petróleo provoque a escassez ou a morte da sua maior riqueza, como também venha a promover a corrupção, com todas as consequências negativas daí decorrentes.
Mais de seis décadas depois de o petréleo ter sido descoberto em Angola e dos pronunciamentos premonitórios do antigo ditador português, a má sina do petróleo volta a ensombrar o futuro dos habitantes Tômbwa e, por arrasto dos angolanos, com a diferença de que o crude não aguçou os apetites das potências estrangeiras, mas dos que governam e dos que gravitam à volta do poder.
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