Considerados os mais abastados ministros do Executivo de João Lourenço, João Baptista Borges e Ricardo D´Abreu não deverão fazer-lhe companhia até ao final da caminhada.
No Executivo de João Lourenço, os Ministérios da Energia e Águas e dos Transportes têm abocanhado gordas fatias em virtude de faraónicos projectos muito ao gosto do megalómano chefe.
Invocando doenças, verdadeiras ou imaginárias, cansaço e outros motivos, João Baptista Borges (JBB) e Ricardo Sandão D’Abreu, ministros da Energia e Águas e dos Transportes, respectivamente, deverão “saltar do barco” antes das próximas eleições, em Agosto de 2027.
Aos dois ministros são atribuídas convicções de que a “nau”, em que viajam ou se afundará antes de chegar a porto seguro, ou fá-lo-á em muito precárias condições.
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Como os ratos, que geralmente não se deixam afundar com o barco, Borges e Ricardo D’Abreu não estão interessados em submergir numa nau que dá inequívocos sinais de desgoverno.
Dos ministros mais protegidos pelo Titular do Poder Executivo – os dois trocam de secretário de Estado com a mesma frequência com que convencem o “dono” do País a consignar milionárias empreitadas aos respectivos pelouros – , Borges e Ricardo D’Abreu também conhecem profundamente as debilidades do chefe deles. Ambos têm como certa a incapacidade de João Lourenço de driblar a sufocante crise económica e social em que o país mergulhou.
Decano dos ministros (entrou no Governo de José Eduardo dos Santos como vice-ministro da Energia, em 2008, passou a secretário de Estado da mesma pasta em 2010, e desde 2012 que é o titular do Ministério da Energia e Águas), pessoas próximas a João Baptista Borges atribuem-lhe desabafos como ”estou farto disso” e muita ansiedade para se entregar a um tranquilo desfrute do respeitável pé de meia que terá resguardado fora de portas, nomeadamente na Europa.
Em Janeiro de 2021, uma estação televisiva lusa, TVI, anunciou que o Ministério Público português estaria a investigar negócios envolvendo o ministro angolano de Energia e Águas.
Embora reclame para si pioneirismo no combate à corrupção e à impunidade em Angola, não há nenhuma evidência de que o Presidente João Lourenço tenha dado instruções à Procuradoria-Geral da República para averiguar as denúncias da TVI ou, de, como foi com Manuel Vicente, exigir de Portugal o processo que envolverá o ministro Borges.
JBB está associado a algumas das principais empreitadas energéticas de Angola nos últimos anos. Sob a sua tutela Angola, empregou biliões de dólares para a construção da Barragem de Laúca e para o alteamento da Barragem de Cambambe, aumentando-lhe a capacidade. Outros tantos biliões de dólares estão a ser empregues na construção da Barragem de Caculo Cabaça e no chamado ciclo combinado do Soyo.
Há pouco anos, ao pelouro de JBB foram confiadas várias centenas de milhares de dólares para adquirir e montar geradores a diesel para compensar a insuficiente oferta de energia hídrica.
Em 2017, João Baptista Borges negociou com a americana General Electric um empréstimo de 1,1 mil milhões de dólares para a cobertura de projetos do sector da Energia e Águas, “devidamente identificados e aprovados pelo Governo angolano”, segundo um despacho do então Presidente José Eduardo dos Santos.
Todos esses empreendimentos, cujos frutos continuam distantes da maior parte dos lares angolanos e das indústrias, proporcionaram a JBB generosas comissões.
No domínio da água, JBB também manuseou vários milhões de dólares para o programa “Água para Todos”, uma empreitada que o Governo levou a cabo com a comparticipação financeira do Banco Mundial.
Apesar dos milhões gastos, hoje resistem escassas “provas de vida” desse milionário programa.
O milionário barrete em que se constituiu o Canal de Cafu, no Cunene, também foi construído sob a égide de João Baptista Borges.
Estranhamente, o “flop” de Cafu estreitou os laços entre o ministro da Energia e Águas e a Omatapalo. Hoje, JBB viaja a bordo de um avião da construtora para qualquer destino interno, numa promiscuidade que não incomoda o “campeão” da luta contra a corrupção…
Em Luanda, é atribuído a familiares de JBB o controlo das “girafas”, a partir das quais se abastecem de água as cisternas que vendem o precioso líquido à maior parte da população da capital do país. É do monopólio desse negócio que nasceu a alcunha ”Borgirafa”, como o ministro da Energia e Águas é, “carinhosamente” chamado na EPAL e nos musseques de Luanda.
A decisão de JBB de saltar do barco é, sobretudo, encorajada pelo exemplo de alguns dos seus antigos colegas no Governo de JES, que, depois da mudança de “fuso horário”, isto é, depois da mudança na condução do leme, não só foram perseguidos judicialmente como viram confiscadas ou arrestadas as fortunas que acumularam no passado.
Em perfeita sintonia com o seu colega da Energia e Águas, Ricardo D’Abreu também saltará do comboio no mais próximo e adequado apeadeiro.
No Governo de João Lourenço, o ministro dos Transportes deu a cara a milionários projectos, que, contudo, não frutificaram.
Em Fevereiro de 2020, o ministro dos Transportes disse que o Metro de Superfície de Luanda começaria a ser construído naquele mesmo ano.
O início da empreitada foi anunciado depois que o ministro dos Transportes assinou um memorando de entendimento com o director executivo da alemã Siemens Mobility.
A construção do Metro seria financiada por um parceria público-privada, em que o Estado angolano comparticiparia com pouco mais de mil milhões de dólares.
As obras não arrancaram na data prevista.
Em Julho de 2021, ministro dos Transportes disse acreditar que as obras iriam, finalmente, arrancar no primeiro semestre de 2022.
Não arrancaram.
Em Março do ano passado, o Presidente da República autorizou o contrato de empreitada da Linha Amarela do Metro de Luanda que ligaria o Porto de Luanda ao Kilamba, numa extensão de 39 KM.
Com um valor de investimento de 1 300 milhões de euros, a empreitada seria executada pela Siemens Mobility.
A pouco menos de duas semanas, o Presidente da República esteve de visita à China e de entre outros vários propósitos para os quais pediu novo dinheiro à Pequim incluiu a construção do Metro de Superfície de Luanda.
Nem o Titular do Poder Executivo e nem Ricardo D’Abreu se dignaram explicar á “manada” que somos “nosotros” o que aconteceu com o negócio com os alemães.
Também nada disseram sobre se o dinheiro da empreitada da Linha Amarela já foi ou não “torrado”.
O ministro dos Transportes também já envolveu o Estado angolano em bilionários gastos. Para a pretensa modernização e eficiência da TAAG, pediu e obteve dinheiro para comprar novos aviões e contratou gestores estrangeiros. Mas, a TAAG afunda-se diariamente.
Não são credíveis os valores referenciados pelo ministro dos Transportes para a conclusão das obras do Novo Aeroporto Internacional de Luanda.
Há pouco mais de três anos, Ricardo D´Abreu tentou vender ao Governo dois prédios de um amigo a preços cinco vezes superiores aos do mercado. Sobreviveu, intacto, à tentativa de roubalheira.
É com bolsos muito recheados que os dois ministros vão saltar de um comboio já em marcha trôpega.
Borges e Ricardo não são entusiastas do profeta S. Tomé, autor do celebérrimo ver para crer.
Eles não querem estar no país para se certificarem, com os próprios olhos, se o futuro Presidente da República fará com ministros do seu antecessor o que João Lourenço fez e faz com Augusto Tomás, Leopoldino Fragoso (Dino), Kopelipa, Manuel Rabelais e outros antigos colaboradores de José Eduardo dos Santos.
O Presidente João Lourenço não se surpreenderá com a iminente deserção de dois dos seus mais protegidos ministros.
Fontes muito confiáveis disseram ao Correio Angolense que os Serviços de Inteligência já puseram o Presidente da República a par dos passos dos seus dois ministros.
Aparentemente, João Lourenço atribuiu essas informações à inveja e despeito.
Correio Angolense
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