HIGINO ANDA A FAZER-SE HÁ MUITO TEMPO- SEVERINO CARLOS



O Semanário “agrafou-o” há 20 anos quando trepava com o impulso que o antigo Presidente, José Eduardo dos Santos, lhe foi dando em doses cavalares.  

(SEMANÁRIO ANGOLENSE EDIÇÃO DE 28 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2004)

Quem é, afinal, Higino Carneiro? BULLDOZER, ALPINISTA  E SALTADOR DE BARREIRAS 

Bailundo, no tempo da “cortina de ferro”, é o cenário. Uma comitiva da Comissão Conjunta Político-Militar (CCPM) estava no quartel-general de Jonas Savimbi, para mais uma sessão das intermináveis discussões sobre o processo de paz. Ninguém sabe o que passou pela cabeça do líder da UNITA, mas certo é que nessa ocasião, para surpresa de todos, Savimbi chamou Higino Carneiro e reuniu com ele em privado, ignorando completamente Faustino Muteka que era o chefe da equipa governamental. 

O sucedido teve o efeito de uma granada de fumo já que serviu para que em Luanda crescessem as desconfianças em torno de Higino Carneiro. Nessa altura, círculos afectos ao MPLA, sobretudo os que eram adeptos da confrontação militar, não viam com bons olhos os rumos das conversações, alegando-se que estavam a ser feitas demasiadas cedências ao Galo Negro. Por conta desse episódio, o número dois do Governo na CCPM teve a cabeça no cepo e só foi salvo graças a um providencial relatório do agente duplo que os serviços de inteligência do Governo haviam plantado no Bailundo. 

Muito pouca gente tem conhecimento desse episódio que por uma unha negra não lançou por terra a avassaladora carreira de Higino Carneiro. Esse mesmo que,  num ápice, passou a ser um dos homens mais poderosos do país. Aos cargos de ministro das Obras Públicas e de coordenador da Comissão de Gestão que tem a missão de tirar a capital do país do caos em que se encontra, ele junta ainda muitas outras funções em importantes “task-forces” designadas pelo Presidente da República. 


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Como um bulldozer, alpinista e saltador de barreiras, Higino Carneiro subiu tanto que acabou por eclipsar literalmente o actual primeiro-ministro, Fernando Dias dos Santos “Nandó”. De sorte que Higino já é conhecido como o “superministro. A ascensão política corre em paralelo com uma não menos meteórica carreira de empresário, com negócios espalhados pelos mais variados domínios. “É dinheiro e património a perder de vista”, como diz o outro. 

Ninguém faz ideia sobre onde e quando terminará a alucinante cavalgada de Higino Carneiro. Mas é dado adquirido que tanto protagonismo acabará necessariamente por cheirar a alho. Já há, de resto, círculos bastante críticos que não acham piada alguma que se atribua, a uma só pessoa, tantos cargos, sobretudo quando se olha para os seus precedentes e não se vê nada de relevante. Pelo contrário, há na sua carreira não poucos passivos que levam, com toda a legitimidade, que muita gente tenha um pé atrás. 

Neste momento, são cada vez maiores as probabilidades de lhe acontecer o fenómeno conhecido como o “princípio de Peter”, que postula que um homem se confronta sempre com as suas imperfeições à medida que vai ascendendo. Com tantos apitos para tocar, mesmo que Higino fosse um super-homem estaria sem fôlego ou, no mínimo, trocaria as notas da partitura. 

Mas independentemente dos méritos e virtudes pessoais que possua, Higino Carneiro é acima de tudo um “produto” do Presidente da República. É em grande medida o beneplácito de José Eduardo dos Santos que lhe dá o impulso. Logo, este é um factor que permite supor que Higino durará o tempo que o chefe permitir. Como as pilhas alcalinas “Duracell” ou apenas como as baterias “made in” Nigéria. Depende...

Está por saber por que razão o Presidente aposta tanto nele, não sendo pelos seus lindos olhos, nem por uma brilhante folha de serviços. Na verdade, a única certeza que há é que quando a sua boa estrela deixar de cintilar, Higino nunca mais será o oficial pouco conhecido do público que, no distante ano de 1991, chefiou a delegação das FAPLA que negociou com o alto comando das FALA o fim das hostilidades nas cercanias de Luena, cidade que as tropas de Savimbi haviam sitiado pouco antes da assinatura dos Acordos de Bicesse. Também não será, nem por sombras, um zé-ninguém que lute pelo pão de cada dia. 


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MANCHAS NEGRAS NO CURRÍCULO


Apesar da sua reconhecida disponibilidade para o trabalho, qualidade com que encantou o Presidente da República, Higino Carneiro tem vindo a semear não poucos desafectos ao longo da sua trajectória. São estes desafectos que põem muita gente de pé atrás e reticente à sua escalada no poder. E, claro está, até se desconfie da pipa de massa que tem vindo a ganhar.

É na sua passagem como governador do Kwanza-Sul que Higino Carneiro mais má fama acabou por semear. Quando se avalia o seu fraco desempenho como governador dessa província, crescem inevitavelmente as reticências dos que não o querem à frente da Comissão de Gestão de Luanda, onde a dimensão das tarefas é bem maior. 

Com efeito, a sua passagem por aquelas paragens não deixou saudades. Sumbe, a capital provincial, continua a ser a mesma cidadezinha sem progresso; de resto, como muitas outras terreolas do país: suja, esburacada e poeirenta. 

É também no Kwanza-Sul que este general tem revelado um carácter promíscuo que dificilmente separa a sua condição de governante do cidadão e empresário. Não poucas vezes, Higino tem sido acusado de colocar ao serviço dos seus interesses privados a sua posição de servidor público. Negócios que vão da hotelaria e restauração à aviação comercial podem ter contado com o dedo do governante. 

Num caso que se soube recentemente, enquanto foi governador do Kwanza-Sul, Higino Carneiro terá privilegiado uma empresa na qual se presume que tenha interesses. Diz-se que afectou à empreiteira portuguesa Conduril, a referida empresa, uma empreitada de reconstrução da ponte-cais do Porto Amboim. No final, a ponte-cais ficou 400 metros mais curta e, em consequência, sem calado para permitir a acostagem de navios de pesca. Os barcos passaram a fazer a descarga do pescado por meio de baldeação no alto-mar, com prejuízos para a economia, uma vez que esse processo diminui as margens de arrecadação fiscal. 

Presentemente, já como ministro das Obras Públicas, Higino ordenou a arrematação dos 400 metros de ponte. Adivinha-se, como é evidente, que só por milagre a Conduril não ficará com a empreitada, a avaliar pelos interesses que alegadamente o ministro terá nessa empresa. 

Mas estes não são os únicos estragos provocados por Higino no Kwanza-Sul. Na qualidade de coordenador de uma entidade encarregue de gerir a problemática das terras -- tarefa que em princípio deveria ser assacada ao ministro da Agricultura -- já amealhou alguns diferendos naquela província, onde há muita gente que vem reclamando da sua actuação a esse nível. 

Apesar de já não ser o seu governador, o kwanza-Sul permanece uma coutada de Higino Carneiro. Serafim do Prado, o actual governador, é um dos seus homens de confiança. É uma lança através da qual Higino continua a exercer uma influência esmagadora naquelas paragens. 

A forma como tem vindo a “militarizar” o pelouro das Obras Públicas é outro dos seus desamores. Arregimentou algumas altas patentes na reserva que colocou ao seu redor no ministério. Presume-se, todavia, que ao proceder dessa forma, Higino estará a cumprir escrupulosamente uma das incumbências que o levaram a ser titular desse importante cargo: proteger os interesses castrenses num sector que, em virtude de ocupar um papel central nas tarefas de reconstrução, deverá movimentar muito dinheiro. 

Ainda assim muitos pensam que era escusado que numa das suas primeiras medidas como titular do MINOP, ele tenha chamado para gerir o seu gabinete jurídico uma personagem de reputação não muito recomendável. 

Mas esse é exactamente o perfil de Higino Carneiro que os angolanos, aos poucos, têm vindo a conhecer. Uma personagem ambivalente que trepa, salta e, quando necessário, não hesita em morder. 


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VIRTUDES E DEFEITOS DE HIGINO 

POR BAIXO DA ALMOFADA DO PR 


No pouco que se sabe a esse respeito, está visto que o Presidente da República tem um fraco por Higino Carneiro, responsável em grande medida pela sua ascensão na política e no mundo empresarial. Entre as qualidades de Higino que mais mexem com José Eduardo dos Santos avulta a sua honestidade política. Por exemplo, ele não tergiversa quando tem de definir os seus interesses, mesmo que seja em matéria de dinheiros. Numa palavra, não é um sonso nem faz nada às escondidas do PR. 

Higino também é uma pessoa batalhadora e engajada. Aliás, com as imperfeições e o risco que isso envolve, só uma pessoa com essas características pode ter disponibilidade para aceitar as múltiplas tarefas em que anda envolvido. Mesmo sem ser um intelectual propriamente dito, Higino geralmente colmata esse “gap” antepondo outras qualidades. É conhecido, por exemplo, como uma pessoa muito perspicaz e de elevado raciocínio. É mais rápido a raciocinar que muitos dos seus pares no Governo. Tem demonstrado essa faceta em muitas sessões do Conselho de Ministros onde, parece que não, argumenta e expõe como não fazem muitos dos seus colegas. 

Mas também tem muitos defeitos. No plano material, comenta-se que é um “insaciável”. “Quer sempre mais e mais...” Também é tido como “vaidoso e exibicionista”, carácter que se ilustra, profusamente, por não ter pestanejado para adquirir um “Hummer”, provavelmente o carro mais caro do momento: custa “só” 200 mil dólares americanos. Trata-se de um automóvel de gama elevadíssima criado logo após a guerra do Golfo. Só estrelas do jaez do craque brasileiro Ronaldo ou o governador-actor Arnold Schwarzenegger se dão ao luxo de possuir.

Em Angola, Higino Carneiro é o único a ter semelhante bólide. Num país como o nosso, onde diariamente morrem pessoas por não terem o que comer, esse gesto é não só indecoroso como chocante. Mas este é um defeito que deve contar pouco para quem decidiu fazer dele uma das estrelas mais cintilantes do actual poder. Para esse, provavelmente valem mais virtudes geralmente associadas a Higino como a grande capacidade de diálogo. “Ele ouve e conversa com muita gente”, diz quem o conhece. 

O grande público já teve a oportunidade de observar essas qualidades nas suas intervenções como ministro das Obras Públicas e coordenador da Comissão de Gestão de Luanda. É evidente a facilidade de comunicação. Pelo menos não gagueja nem se embrulha na exposição das suas ideias, algo que se vê amiúde nos círculos governativos. 

Por último, deve-se registar que é disciplinador. Quase marcial. É próprio dos generais.

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