Jeff Brown Culanda emerge como uma figura cativante na música angolana, entrelaçando resiliência, orgulho cultural e uma profundidade espiritual em constante evolução. Desde os primórdios com a banda SSP até seu atual mister como artista gospel, Culanda usa a música como espelho de suas provações e triunfos, deixando uma marca indelével na paisagem cultural de Angola.
Nascido em Bié, Angola, numa casa modesta, o Umbundu moldou seu universo inicial, mais que o Português. Seus pais, do leste e da região Ganguela, incutiram-lhe orgulho pela herança — base que ecoaria em sua arte. Aos doze anos, partiu para Cuba para estudar economia, imergindo por uma década numa cultura vibrante. Lá, rejeitou álcool e tabaco, escolha de disciplina que impregnou sua criação artística de propósito. Esse período afiou sua visão, adicionando o Espanhol ao seu repertório e expondo-o a influências musicais que ampliaram seu espectro criativo.
Sua resiliência foi testada cedo, no treino militar em Angola. Escapando por pouco à captura após um confronto tenso, caminhou sozinho até a segurança, guiado por instinto e um sinal codificado. “Até hoje ignoro se ele me libertou,” reflete, atribuindo à providência divina sua salvação. Esse episódio solidificou sua fé na perseverança, temas que ressoariam em suas letras.
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Em 1992, com Angola emergindo da guerra, Culanda co-fundou a SSP, banda que capturou o imaginário nacional. Com carisma e presença cénica, trouxeram energia renovadora a um país em convalescença. Culanda destacou-se com raps impecáveis em Umbundu, fundindo ritmos afro-americanos como rhythm and blues com sintetizadores e sons digitais. Seus álbuns, criados em estúdio para as pistas de dança, elevavam espíritos e incitavam movimento, mas também carregavam profundidade.
As composições da SSP abordavam temas densos. Uma faixa comovente retrata o sonho de um jovem navegante, ofuscado pela guerra, evocando perda e justiça. Sonos de Rua exalta inocência e ambição, com matizes espirituais. Outra implora salvação, lamentando um mundo cruel — influência gospel que harmonizava seu som. Usando Umbundu, conectaram-se ao sul de Angola, ancorando sua obra na identidade cultural.
Além disso, a SSP explorou amor e herança. Uma melodia blues captura a angústia de um amor não correspondido; outra homenageia mães com delicadeza. Uma peça exalta o orgulho negro, destacando penteados tradicionais e citando Martin Luther King e Nelson Mandela. Seu sucesso em Espanhol, sensual e global, uniu o espírito angolano a um apelo universal. A estreia solo de Culanda, Ondaka, misturou jembé e rap, reverenciando raízes enquanto se projetava além. “Canto em várias línguas para a mensagem viajar mais,” disse, vendo a música como ponte cultural.
Seu caminho tomou rumo transformador com o gospel, fruto de um despertar espiritual gradual. “Não foi de um dia para o outro,” explica, destacando a metamorfose que impulsionou essa mudança. Em “Meu Deus do Céu”, ele entrelaça lutas — como navegar “um mundo repleto de leões” — com sabedoria bíblica. Suas letras, incisivas (“Sei quem sou e para onde vou”), refletem busca por santificação. Ele resiste ao rótulo gospel, mirando inspirar amor, honrar a família e combater o desalento.
Essa evolução foi pessoal e artística. Evitando álcool e tabaco — salvo um deslize em 1992 —, advoga uma vida com propósito. “As coisas do mundo não se largam fácil,” confessa, oferecendo seu testemunho como guia à juventude. Hoje, sua música funde Afrobeat e tambores Ovimbundu, vibrando com gratidão e orgulho, como numa obra que celebra as paisagens e a história de Angola.
Culanda rejeita o vitimismo na arte. “O artista não precisa do palco,” afirma, citando Mozart e Bob Marley como prova de que a criatividade floresce na adversidade. Cantar para tropas durante o conflito angolano — entoando cânticos em meio ao caos — mostrou-lhe o poder da música para unir e curar. “Cantávamos enquanto o combate grassava,” recorda, evidenciando sua força.
Atualmente, ele guia talentos, priorizando impacto sobre fama. Seu próximo álbum, refletindo sua jornada — de Bié a Cuba, do rap ao gospel —, espelha sua trajetória musical. Da fusão vibrante da SSP ao seu gospel solo, Culanda moldou o som de Angola, provando que a arte reflete a alma de um homem e eleva uma nação.
Conheci Culanda em 1993, no aeroporto de Lisboa. Primeira superestrela angolana que vi, cercado por fãs pedindo autógrafos, ele permaneceu humilde. Falava com cortesia, sua sofisticação e boas maneiras marcantes. Em encontros posteriores, apreciei sua profundidade intelectual. Fluente em Inglês, Espanhol e Francês, é um poliglota educado. Seu virtuosismo musical e erudição discreta, aliados a um humor autodepreciativo, o tornam afável.
Ele se vê com modéstia. Apesar de compor para outros, evita autopromoção, o que pode explicar sua relativa obscuridade em Angola. Sua música, complexa e sofisticada, evoluiu para um gospel singular. Misturando jazz, house e sungurra, cria um som rico que desafia ouvintes habituados a melodias simples. Sua autenticidade cultural, por vezes vista como rural, não atrai a elite urbana, mas encapsula uma Angola essencial. Espero que a reunião da SSP destaque essa riqueza, dando à sua arte o palco merecido.
Uma canção com Umbundu, patoá jamaicano, europop e riffs sul-africanos pode desconcertar ouvintes casuais. Exige dedicação, mas recompensa quem valoriza o esforço musical. Sem espaço em playlists ou grandes palcos, Culanda encontra consolo na arte genuína. A mediocridade usa fórmulas; a verdadeira arte perdura por mérito. Um solo de guitarra em sua obra lembra que a beleza, bem moldada, ressoa com o tempo.
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