Igreja dos Bem Acordados Onde a confissão te mantém consciente e a pregação se torna um espetáculo- Sousa Jamba



No Bailundo, aninhada no Planalto Central,  varridas pelo vento de Angola, uma pequena igreja no Chilume ostenta uma placa pintada à mão acima do púlpito. Não durma na casa do Senhor, implora. Não durma na casa do Senhor. A mensagem, meio aviso teológico, meio dica de higiene do sono, reflete uma crise crescente nos bancos da igreja: a sonolência congregacional.


Não é só no  Bailundo. Dois vídeos viralizaram na internet — um do Quénia, outro de Angola — ambos capturando uma cena tão antiga quanto o próprio sermão: alguém adormece, e um pastor, visivelmente farto, reage. No Quénia, a abordagem é à moda do Antigo Testamento: o homem adormecido é fisicamente repreendido, como se o sono fosse um demónio a ser expulso. Na versão angolana, a coisa é mais suave, mas não menos teatral — uma escolta lenta e humilhante para fora da igreja, como se o homem tivesse sido apanhado com um charro num seminário. Nenhum dos dois parece considerar que o próprio sermão possa ter contribuído para a ofensa.



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Claro, todos nós já divagamos. Que atire a primeira pedra quem nunca, no meio de uma longa meditação sobre os profetas menores — Obadias, Naum, ou aquele que soa sempre como um prato de massa — imaginou o Vinícius Júnior a driblar três defesas e a mandar uma bola curva para o canto superior da baliza.! 


Paul Kagame, pouco conhecido pela sua leniência ou tolerância a sestas, insistiu uma vez que todos os pastores deveriam ter um diploma em teologia. E talvez tenha razão. A homilética — a arte de pregar — é mais do que ficar atrás de um púlpito e perder lentamente a atenção da sala. É um ato de performance, timing, até gestão de multidões. Os melhores pastores são parte teólogos, parte comediantes de stand-up (Gilmario Vemba)  parte professores de jardim de infância exaustos.


Nos Estados Unidos, foram ainda mais longe: transformaram a pregação num desporto. Competições de pregação são um fenómeno real — o púlpito encontra o pódio encontra os playoffs. Se eu tivesse um voto, a Dra. Ruth Catala varreria o circuito. Confesso — sou viciado nos seus sermões. Esta é uma mulher que consegue falar, longamente, sobre coser um botão na camisa do marido e fazer com que pareça um momento de revelação espiritual. Ela não repara apenas roupas — ela tece parábolas. Num vídeo viral, segura a camisa como se fosse uma relíquia, declarando que uma mulher virtuosa sabe como “selar a batalha” do seu lar, ponto a ponto.

Noutro momento — visual e teológico — ela revistou os bolsos das calças do marido antes de lavar a roupa. Encontrou dinheiro. E então, perguntou: o que deveria fazer com ele? A questão não levou a uma disputa doméstica, mas a uma exegese surpreendentemente matizada sobre Provérbios 31 e a ética da virtude doméstica. É quase impossível adormecer quando ela prega — ou, como ela diria, propaga o evangelho.


Claro, há abordagens menos magnéticas. E para esses pastores, há estratégias. Conta histórias. Varia o tom. Mexe-te. Faz perguntas, mesmo retóricas. Usa visuais. (Jesus tinha parábolas; tu podes ter PowerPoint.) Se o sermão for durar mais que um voo de Lisboa á Luanda, considera um intervalo. E café. Sempre café.

Além disso: mantém a igreja fresca. Uma sala quente, cheia de sol matinal e sete horas de Levítico, é basicamente um spa para os inconscientes.


A verdade é que um paroquiano a dormitar raramente é uma protesta teológica. É biologia. São as más escolhas de sábado à noite a alcançarem a piedade de domingo de manhã. Os bons pregadores sabem disso. Não levam a peito. Seguem em frente. Silenciosamente. Com graça. Com apenas um leve toque de agressividade passiva.


Quando viajei pelo planalto central de Angola, visitei igrejas onde os cultos começavam às dez e terminavam por volta das cinco, como uma epifania em câmara lenta. Numa dessas igrejas, havia uma sessão chamada okulitavela — confissão pública. Era fascinante.

Um homem levantou-se e confessou ter dançado demasiado colado a uma mulher depois de beber demais no Alto Hama. (Os detalhes eram vagos, a vergonha não.) Outro admitiu ter-se servido de espigas de milho do campo de um vizinho — um pequeno furto com um toque rústico. Uma mulher confessou ter deixado o Diabo tomar conta da sua língua durante uma discussão, o que, a julgar pela expressão dela, talvez ainda estivesse em curso.

Mas o que mais me impressionou foi isto: ninguém dormiu. Nem uma cabeça a balançar. Na presença do pecado, aparentemente, o espírito — e as pálpebras — permanecem alerta.


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