UNITA, A DIPLOMACIA E A PAZ POSSÍVEL: UMA CONVERSA QUE A GUERRA CALOU



No difícil percurso da história recente de Angola, a procura pela paz nem sempre se fez com armas depostas. Houve quem, mesmo em pleno conflito, abrisse caminhos de diálogo, acreditasse na força da palavra e apostasse em soluções políticas para uma guerra que já durava demasiado. A UNITA — União Nacional para a Independência Total de Angola — foi, em diversos momentos, a voz que clamava por negociações, por pontes de entendimento, por um país reconciliado.


Recordo, com clareza e emoção, um desses episódios pouco conhecidos, mas profundamente revelador da vontade de paz que animava a Direção do nosso Partido. Em meados de 2001, o Eng.º Adalberto Costa Júnior, então representante da UNITA na Itália, conseguiu uma audiência com Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Nessa conversa histórica, o Engenheiro expôs, com coragem e verdade, o drama angolano: a guerra prolongada, as dificuldades da reconciliação nacional e a necessidade urgente de uma mediação internacional credível. Pediu, em nome da UNITA e do povo angolano, a intervenção do Papa para pôr fim ao conflito.



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O Papa escutou. E respondeu com sabedoria e disposição. Disse que tudo faria para interceder pela paz, desde que pudesse ouvir diretamente, da voz do Dr. Jonas Savimbi, um compromisso firme com esse objectivo. Esse contacto, garantiu o Santo Padre, seria o passo que permitiria avançar com uma mediação da Igreja Católica em nome do fim das hostilidades.


Dias depois, o Eng.º Adalberto transmitiu essa informação ao Presidente Fundador da UNITA. O momento era promissor. Uma janela de esperança se abria. Mas a guerra tem as suas crueldades, e a história não se escreve apenas com boas intenções.


Poucos dias após este avanço, dois oficiais superiores dos serviços de inteligência da nossa coluna desertaram e entregaram-se às forças inimigas. A consequência foi uma violenta perseguição, dia e noite, que impediu qualquer possibilidade de retomar o contacto com Roma. O que estava em vias de ser um marco no processo de paz tornou-se num capítulo interrompido pela brutalidade do conflito.


Mesmo assim, continuámos a tentar. Algum tempo depois, já nas imediações do Luvuei, nas áreas do Pastor Sá Roma, junto ao rio Luoli, conseguimos uma breve pausa. Foi ali que o Vice-Presidente da UNITA, António Sebastião Dembo, estabeleceu o último contacto telefónico com a diáspora, dias depois da sua derradeira entrevista à Voz da América, conduzida pelo jornalista João Santa Rita.


Nessa chamada, voltou-se ao tema da mediação papal. O Eng.º Adalberto confirmou: tudo estava a postos. O Papa aguardava apenas a última conversa com o Dr. Savimbi, marcada para os dias seguintes. Do nosso lado, sentíamos que algo de novo se desenhava. A esperança renascia. Mas a pressão militar intensificava-se. O cerco apertava. E a comunicação foi finalmente cortada num ataque devastador, nos primeiros dias de fevereiro de 2002, quando perdemos os telefones e muitos dos nossos homens.


A conversa entre o Papa João Paulo II e o Dr. Savimbi jamais aconteceu. Ficou por acontecer. Mas não foi por falta de esforço, de vontade ou de fé no diálogo.


O que importa sublinhar, sobretudo para as novas gerações, é que a UNITA nunca abandonou a ideia da paz. Lutou, sim, mas também procurou incessantemente caminhos de entendimento. E o Eng. Adalberto Costa Júnior desempenhou, nessa frente, um papel que merece ser reconhecido: como interlocutor firme, articulador junto da Igreja Católica e defensor de uma solução política para Angola.


Hoje, à distância de mais de duas décadas, revisitar estes episódios não é um exercício nostálgico. É uma homenagem à coragem diplomática, à persistência pela paz e à memória dos que deram tudo por um país reconciliado. A história talvez não tenha seguido o rumo que queríamos naquele momento. Mas que fique claro: a UNITA esteve do lado certo da história. Do lado do diálogo. Do lado da paz.

Fica também o reconhecimento do papel desempenhado por Adalberto Costa Júnior. Muito antes de liderar a UNITA, já era um construtor de pontes, um homem de Estado, um agente da paz. O seu compromisso com Angola e com os angolanos, nessa fase crítica da história nacional, não pode — nem deve — ser esquecido.


A paz em Angola viria mais tarde, mas não por acaso. Foi semeada por gestos como este — silenciosos, discretos, muitas vezes apagados das narrativas oficiais. Mas reais. E profundamente patrióticos.


O Vosso Major Djeff Dembo 


Luanda, 15 de Abril de 2025


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