A Ética e o Poder Transformador do Reconhecimento no Panorama Comemorativo de Angola- Sousa Jamba



Ao assinalar o cinquentenário da sua independência, Angola recorre à outorga de condecorações por parte de uma instituição governamental dedicada como gesto simbólico de reflexão nacional e reconhecimento público. Estas distinções, atribuídas a 645 personalidades provenientes de diversos sectores — das artes, dos negócios, da religião e da sociedade civil —, celebram contribuições significativas para o progresso da Nação, ao mesmo tempo que espelham as complexidades de uma sociedade que continua a definir a sua identidade no período pós-conflito. 


Figurar entre os homenageados constitui uma honra que desperta profunda gratidão, moderada por um sentimento de humildade e uma consciência aguda das questões históricas e éticas mais amplas que este reconhecimento inevitavelmente suscita.

O privilégio de receber esta medalha é profundamente pessoal, mas indissociável de uma narrativa colectiva. A minha gratidão estende-se a muitos, em particular ao meu saudoso irmão, Jaka Jamba, cujo exemplo perene moldou o meu compromisso com o progresso de Angola. 


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Embora grande parte da minha vida tenha decorrido no estrangeiro, o meu vínculo com Angola permanece inquebrantável, forjado nas memórias de infância vividas nos fervorosos dias da independência em 1975. 


A partir de longe, fui testemunha dos triunfos e das provações do país, das suas aspirações persistentes ensombradas por desafios estruturais. Nas minhas modestas contribuições ao discurso nacional, procurei honrar este laço, mesmo tendo de me mover nos limites impostos pela distância geográfica e, mais recentemente, pela neutralidade exigida pelas funções que desempenho numa organização internacional.


Não é a primeira vez que sou distinguido pela liderança de Angola. Em 2019, o Presidente João Lourenço concedeu-me uma medalha de mérito pelo trabalho desenvolvido no jornalismo e na promoção do diálogo nacional — gesto que, embora profundamente apreciado, gerou críticas em certos sectores. Essas reacções revelam a delicadeza inerente ao acto de reconhecimento numa sociedade ainda marcada por divisões políticas. 


O meu apoio declarado à UNITA nas eleições de 2022, exercido no pleno uso das minhas liberdades cívicas, acrescenta uma camada de complexidade à narrativa que rodeia esta mais recente distinção. Todavia, a decisão do Presidente Lourenço de estender reconhecimento a cidadãos de diferentes quadrantes políticos é um gesto de grande significado. Representa um compromisso com o pluralismo e a reconciliação, reconhecendo que o futuro de Angola depende da inclusão de vozes diversas, mesmo aquelas situadas fora da órbita do partido governante. 


Ao aceitar esta medalha, reafirmo a minha crença nesta visão e reitero a convicção de que todos, à sua maneira, almejam o êxito de Angola.


A atribuição de condecorações em Angola, inevitavelmente, atrai escrutínio, sobretudo num país em que as feridas do conflito civil continuam abertas. 


A omissão de certas figuras históricas — especialmente aquelas que desempenharam papéis determinantes na luta de libertação e na evolução política do país — gerou, de forma compreensível, descontentamento em alguns sectores. Em sociedades pós-conflito, a política da memória é intrinsecamente contenciosa, dado que o reconhecimento (ou a sua ausência) pode ser interpretado como validação ou apagamento de narrativas, comunidades ou ideologias específicas. Para os que se sentem preteridos, tais omissões podem parecer uma desvalorização da legitimidade das suas lutas históricas.


Contudo, importa distinguir entre a busca da justiça histórica e o reconhecimento das contribuições contemporâneas. A ausência de homenagem a uma figura histórica reverenciada não invalida, por si só, o mérito daqueles que hoje são distinguidos. Recusar uma honra nestes moldes corre o risco de confundir duas exigências distintas: a reconciliação do passado complexo de Angola e a necessidade premente de valorizar os que, no presente, têm contribuído para o seu avanço. O reconhecimento, neste contexto, não é um jogo de soma zero, mas um processo multifacetado que deve conciliar prioridades concorrentes — honrar o passado, celebrar o presente e lançar os alicerces de um futuro mais inclusivo.


Mais do que simples distinções pessoais, as condecorações e honras são instrumentos de edificação nacional. Reafirmam os laços de cidadania, oferecendo uma via simbólica para colmatar as fracturas de uma história turbulenta. Ao aceitar esta medalha, não abdico da necessidade imperiosa de justiça histórica, nem ignoro a urgência de um reconhecimento mais abrangente de todos quantos moldaram o destino de Angola. Pelo contrário, vejo neste gesto uma oportunidade para me envolver, de forma construtiva, na contínua transformação da Nação. A aceitação pode ser, ela própria, um acto de advocacia — uma plataforma para amplificar apelos por maior reconhecimento, promover o diálogo e recordar an Angola que a sua história é irredutivelmente plural.


Quando atribuídas com ponderação, as honras têm o poder de ultrapassar divisões. Podem enaltecer narrativas de resiliência e propósito partilhado, lembrando aos cidadãos que todos têm uma parte no futuro do país. Para os distinguidos, o verdadeiro desafio reside em encarar tal reconhecimento não como um triunfo pessoal, mas como um mandato para promover uma sociedade que valorize a dignidade de cada cidadão, independentemente da sua filiação política ou circunstância histórica. Nesse sentido, a medalha não representa um ponto de chegada, mas sim um apelo à acção — um lembrete do trabalho que ainda está por fazer para forjar uma identidade nacional suficientemente ampla para acolher a diferença e o dissenso.


A decisão de homenagear determinados indivíduos enquanto se adia o reconhecimento de outros reflecte o cálculo delicado que caracteriza a política comemorativa. As figuras históricas, sobretudo aquelas que se destacaram no contexto da luta de libertação e da guerra civil, legaram heranças simultaneamente veneradas e controversas. Actos considerados heróicos por uns poderão ser vistos como divisivos por outros, consoante os imperativos do seu tempo. A decisão de não prestar homenagem a certas figuras neste momento pode resultar de um desejo prudente de não reabrir feridas ou de permitir o surgimento de uma memória colectiva mais matizada.


A construção de uma narrativa nacional mais inclusiva é um processo gradual, que exige paciência e persistência. Devemos continuar a pugnar pelo reconhecimento de todos os que contribuíram para o desenvolvimento de Angola, sem permitir que as limitações do presente ofusquem os avanços já alcançados. A atribuição destas medalhas constitui um passo em direcção a um espaço público mais plural, onde se reconhecem as contribuições de um leque alargado de cidadãos, mesmo daqueles com perspectivas políticas divergentes.


Ao aceitar esta honra, faço-o não apenas como indivíduo, mas como representante de inúmeros outros — nomeados e anónimos — que trabalharam incansavelmente para o bem de Angola. Esta medalha é uma homenagem aos seus esforços e um lembrete da responsabilidade colectiva que partilhamos na construção de um futuro em que cada contributo seja valorizado e cada voz, ouvida. Aproveitemos este momento para renovar o nosso compromisso com o diálogo, a inclusão e o reforço da nossa cidadania partilhada. No fim de contas, todos torcemos por Angola — não como uma ideia monolítica, mas como uma Nação viva, plural, capaz de abraçar o seu passado complexo e de forjar um futuro promissor.


Muito obrigado, Senhor Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço!


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