Quando o Estado usa um cidadão que serviu o país, não é só uma dívida: é uma grave injustiça.
No plano internacional, Angola tenta mostrar-se como um exemplo de democracia e estabilidade, com o Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço, na liderança da União Africana, a criticar publicamente golpes de Estado e a defender a lei em África. Mas esta imagem diplomática esconde uma realidade histórica menos conhecida, mas muito grave: entre 1997 e 2004, Angola envolveu-se diretamente nos eventos que derrubaram dois governos na África Central, em Brazzaville e Kinshasa, mudando completamente a política da região. Mais do que um apoio, o Estado angolano participou ativamente nas ações militares que levaram à saída de Pascal Lissouba e Mobutu Sese Seko, garantindo a chegada de Denis Sassou Nguesso e Laurent-Désiré Kabila. Neste contexto, pessoas e empresas privadas foram chamadas a desempenhar papéis importantes, e o tratamento injusto que receberam mostra o lado obscuro de um Estado que, neste caso, agiu como um verdadeiro enganador. Entre essas pessoas destaca-se o empresário Fernando da Costa Velasco Galiano, cuja vida e negócios foram muito prejudicados pela forma como Angola geriu estas operações.
Fernando da Costa Velasco Galiano, dono da Aerogalia Transporte Aéreo e da Inovadora Trading Lda., teve um papel essencial e único nas operações militares angolanas que resultaram na queda de dois governos na África Central. Entre 1997 e 2004, a sua empresa garantiu o transporte de armas e soldados, usando uma frota de cinco aviões – a única frota privada no país com essa capacidade. Cada voo, cada missão, envolvia grandes perigos e um planeamento cuidadoso, feito através de um contrato com a Simportex, a empresa de logística da Casa Militar da Presidência da República. Sem Galiano e a Aerogalia, as operações em Brazzaville e Kinshasa dificilmente teriam tido sucesso; a saída de Pascal Lissouba e Mobutu Sese Seko seria difícil, e a chegada de Denis Sassou Nguesso e Laurent-Désiré Kabila poderia ter falhado. A responsabilidade e o risco assumidos pelo empresário foram enormes: não se tratava apenas de transportar coisas e pessoas, mas de cumprir ordens que decidiram o futuro de governos, a vida de muitas pessoas e a estabilidade da região. A sua participação mostra que pessoas privadas em Angola foram usadas em operações militares do Estado, colocando as suas empresas e dinheiro em risco total, sem qualquer garantia de segurança no contrato ou pagamento imediato.
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Apesar de toda esta dedicação e dos riscos corridos, o Estado angolano não cumpriu os acordos legais e morais com Fernando Galiano. O pagamento pelos serviços prestados só aconteceu oito anos depois, durante uma crise financeira nacional, gerando juros de mora superiores a 4,5 milhões de dólares, que ainda não foram pagos. Este atraso, juntamente com a pressão para que desistisse dos seus direitos, levou à falência da Aerogalia, à perda de mais de oitenta empregos e à destruição de um projeto empresarial que poderia ter continuado a ajudar a economia do país. O que devia ter sido um reconhecimento e uma recompensa pelo serviço prestado tornou-se um engano do Estado: o Estado usou os recursos privados de um cidadão, colocou-o em risco pessoal e financeiro, e depois recusou-se a cumprir as suas obrigações. O caso mostra uma prática antiga do MPLA e do Estado angolano: transformar promessas do partido em dívidas do Estado, usando pessoas e empresas para interesses regionais, mas recusando-se a assumir responsabilidades. Esta dívida não é apenas financeira, mas moral, histórica e do Estado, e qualquer governo futuro terá de reconhecê-la e cumpri-la, independentemente de quem estiver no poder.
O escândalo torna-se ainda mais grave quando se analisa a ética e a política desta situação. João Lourenço, enquanto Secretário-Geral do MPLA, ajudou a desbloquear o pagamento do valor principal devido a Fernando da Costa Velasco Galiano, mas não garantiu o pagamento total dos juros de mora, ignorando a promessa formal de apoio feita ao empresário. Hoje, como Presidente da União Africana, Lourenço critica golpes de Estado noutros países, mas esteve ligado a um regime que participou diretamente na queda de dois governos, em Brazzaville e Kinshasa. Ao mesmo tempo, o Estado angolano enganou Fernando Galiano, usando os seus recursos e colocando-o numa situação financeira difícil, mostrando uma total falta de coerência entre o discurso internacional e a prática interna. O que se vê é uma atitude antiga do Estado angolano: pessoas privadas foram chamadas para operações militares muito perigosas, colocadas à disposição do interesse nacional e do partido, e depois abandonadas, sem qualquer compensação justa. Este comportamento revela uma forma de agir repetida de exploração e deslealdade, mostrando claramente um engano do Estado, que não pode ser esquecido ou ignorado pelas novas gerações.
O caso de Fernando da Costa Velasco Galiano não é apenas um problema pessoal, mas uma dívida histórica e moral do Estado angolano que vai além de governos e regimes. Qualquer futuro presidente ou governo, seja do MPLA ou de outro partido eleito, terá de reconhecer e assumir totalmente esta dívida. O MPLA, ao transformar promessas do partido em obrigações do Estado, criou uma situação perigosa: cidadãos que servem o país podem ser explorados e abandonados, enquanto o Estado se livra das suas responsabilidades. Esta dívida, que inclui não só o valor principal, mas os juros de mora e a compensação pelos danos causados à empresa e aos trabalhadores, é uma dívida histórica e ética, que mostra a injustiça do Estado e que prejudica a reputação de Angola no mundo. Reconhecer e pagar esta dívida não é só fazer justiça a uma pessoa, mas restaurar a credibilidade e a honra do país, mostrando que Angola pode reconhecer os erros do passado, reparar os danos causados aos seus cidadãos e honrar aqueles que sacrificaram o seu tempo, recursos e segurança para servir o Estado. Enquanto esta dívida não for paga, o Estado angolano continuará a ter a imagem de enganador, perpetuando uma injustiça que afeta não só pessoas específicas, mas a integridade e a confiança na administração pública do país.
Henda Ya Xiyetu
Criador de Opinião | Opinion Maker | Créateur d’Opinion .
“As opiniões expressas são pessoais e visam provocar reflexão crítica e construtiva sobre temas que impactam nossa sociedade.“
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