OS BALI CHIONGA- Kamalata Numa



Num continente rico em nomes, histórias e simbolismos, há sempre quem confunda a beleza da aparência com a beleza do pensamento. Nome sonoro e corpo vistoso não garantem lucidez política — esta exige substância, e substância nem sempre acompanha o brilho intelectual.


Chegar finalmente à conclusão de que, em eleições que se dizem democráticas, ninguém vence com 90% dos votos sem um aroma de irregularidade não é exactamente um feito intelectual; é apenas o despertar tardio para o óbvio. Mas há quem trate esse despertar como iluminação divina, quando na verdade não passa do gesto simples de acender um interruptor esquecido.


A verdade é que as democracias internas dos partidos políticos não funcionam como a democracia institucional do Estado, têm algumas similitudes. Dentro dos partidos políticos, o “consenso” muitas vezes não nasce da pluralidade, mas do interesse conjuntural, cuidadosamente apreendido por uns e estruturado em discursos sobre unidade, estabilidade e visão estratégica por outros. 


Cada congresso é um acto composto por actores experientes, militantes conscientes dos seus interesses e um enredo que raramente surpreende quem nele participa.


Nestas circunstâncias, o consenso não surge porque muitas opiniões diferentes foram debatidas e combinadas.


O consenso surge porque, naquele momento específico, os membros e militantes têm um interesse comum — temporário, estratégico e oportuno.


Esse interesse momentâneo (o interesse conjuntural) faz as pessoas concordarem e convergir, naturalmente, num processo eleitoral interno com universalidade do sufrágio, livre, igual, directo, secreto, justo, onde pesam sempre também:


* o capital político de quem já tem estrada percorrida, como foi o caso de ACJ nestas eleições;


* a força dos resultados anteriores — os 90 Deputados e o terço bloqueante alcançados nas eleições gerais de 2027; e


* a proximidade das próximas eleições gerais, que transforma militantes em súbitos especialistas de probabilidades, com 2027 já ao virar da esquina.


E onde estaria o mal nisso, pergunta-se? Afinal, tudo foi monitorado, observado, desde o início do processo, e legitimado por observadores nacionais e estrangeiros com experiência comprovada neste domínio. 


É nesta perspectiva que surge a pergunta: afinal, que escola de democracia interna nos Partidos Políticos têm os Bali Chionga que com ares de purismo democrático tentam beliscar a legitimidade alheia?


É uma questão curiosa. Esses, falam grosso, pensam raso e criticam alto aquilo que nunca tiveram coragem de praticar. Reclamam da suposta falta de democracia interna dos outros enquanto protegem, com zelo quase sacerdotal, os seus próprios processos opacos e monocromáticos.


No fim, permanece a velha lição: a democracia é bela — não como um nome belo (Bali Chionga) ou um rosto belo (Bali Chionga). Mas, um conceito que precisa de mente lúcida, coerente e corajosa (virtudes que, no caso em análise, não se verificam nos Bali Chionga). 


Sem esses valores, a democracia permanece apenas com um verniz fino sobre estruturas que ninguém deseja realmente mudar, porque os Bali Chionga estão presentes em toda a engrenagem da sociedade, onde estão prontos a obstruir o seu normal funcionamento.


OBRIGADO!


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