Pela "lupa" do Semanário Angolense
(Semanário Angolense nr 362, 10 de Abril de 2010)
A EQUIPA QUE EMPURRA A MÁQUINA
A aprovação da nova Constituição e a remodelação governamental que se seguiu provocaram um realinhamento entre os homens (e mulheres) que fazem andar a “máquina presidencial”.
Um, Kopelipa, subiu mais alto ainda. Outros “desceram”. Alguns permaneceram onde estavam. Três, nomeadamente Albina Assis, André Pitra “Petroff” e Justino Fernandes, simplesmente desapareceram. Houve também quem, como Carlos Feijó, tivesse reaparecido.
Entre sobreviventes, regressados e estreantes, a relevância do novo arranjo começa na criação do posto de vice-presidente e termina na emergência de dois ministros de Estado dentro da Presidência da República.
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Em relação ao caso particular dos ministros de Estado, a nomeação de Carlos Feijó restabelece o princípio “eduardista” de ter sempre ao seu serviço mais do que um “peso pesado”. Desde o afastamento de Fernando Miala que ninguém fazia sombra a Kopelipa. Nesta condição, “Kopé”, não só solidificou o seu poder como engordou – e de que maneira! – a carteira de negócios .
Mas a nova rearrumação do poder não sugere, desta vez, a repetição da feroz “competição” que se conheceu durante o “futunguismo” protagonizada por Miala, Feijó, Toninho, Kopelipa e José Maria.
Por outro lado, e esmiuçando-se o despacho que dá corpo à nova equipa constata-se que José Eduardo dos Santos volta a não ter um secretário para os assuntos particulares, posto ocupado durante anos a fio pelo veterano Salvador Sebastião, reformado vão para aí três anos.
Diante do que se reserva aos ministros de Estado, diríamos que o “staff” do Presidente da República volta a ter a autoridade que tinha nos tempos do “futunguismo”, com a diferença de que, desta vez, o espaço que vier a ocupar está legitimado por lei. Mas há coisas como comportamento e atitude que não constam de nenhum diploma legal e o “futunguismo” fez história não exactamente por causa de desempenho do “staff” mas por causa do seu comportamento. O que “embriagava” alguns “futunguistas” era o simples facto de estarem ao lado do “chefe”.
Interessa saber por outro lado como é que a (velha) “entourage” vai desempenhar o seu novo papel, sabendo-se, como se sabe, que em nenhum momento da história angolana a Constituição deu ao Presidente da República tanta latitude como a actual. Nunca um Governo neste país se viu livre da obrigação de, uma vez solicitado, responder perante a Assembleia Nacional.
As mudanças observadas no gabinete do Presidente da República ao fim e ao cabo são o prolongamento de uma Constituição que faz de José Eduardo dos Santos uma figura intocável. Já vimos como estás coisas às vezes confundem as pessoas que rodeiam o Presidente.
Vejamos, então, um a um os novos eleitos de José Eduardo dos Santos.
NANDÓ-- Ninguém chega a vice-presidente se não for um homem de confiança de José Eduardo dos Santos. Mas daí a concluir que “Nandó” é um dos homens de confiança de José Eduardo dos Santos vai uma distância muito grande. Não é com ele que José Eduardo dos Santos partilha os grandes segredos.
Por outro lado, não seria mais apropriado que o vice-presidente tivesse um gabinete no Palácio, tão logo fosse nomeado? Não é esse o caso até hoje.
Seja como for, com a crise que vai, confiar a tutela do sector social a uma pessoa diz algo sobre a confiança que está pessoa merece. Por conseguinte, a resposta sobre o “lugar” de “Nandó” nas contas de JES só se saberá quando o PR escolher o homem que vai fazer parelha com ele nas eleições de 2012. Até lá e com o devido respeito, “Nandó” vai continuar no papel da noiva que espera pacientemente que o namorado se decida a pedi-la em casamento.
KOPELIPA-- Foi até aqui o mais influente de todos os assessores de José Eduardo dos Santos. Agora partilha com Carlos Feijó parte do reconhecimento que tinha fora do palácio e a responsabilidade decorrente da execução da agenda de José Eduardo dos Santos. A acumulação dos cargos de ministro de Estado, chefe da Casa Militar e de director do Gabinete de Reconstrução Nacional fazem dele uma figura incontornável na engrenagem do Governo. Também por esta razão não de se surpreender se no exercício das suas funções “voar” para além de questões essencialmente militares.
CARLOS FEIJÓ-- Festa de ferro da reforma constitucional, o que lhe valeu um elogio do Comité Central do MPLA, Feijó será, ao mesmo tempo, o fusível que o Presidente da República precisará para conter as oscilações e a peneira que vai tirar a palha e a gordura que aparecem em muitos documentos e propostas institucionais. Ele será ainda o martelo que vai manter sob pressão algumas áreas do Governo. Em suma, uma peneira e um martelo. Está mais rodado, mais maduro e melhor preparado.
MANUEL VICENTE-- A posição que ocupa nesta grelha de notáveis não faz justiça à sua influência e à posição que tem no “coração” de José Eduardo dos Santos. Esteve à beira de ser ministro de Estado, mas o Presidente da República mudou de ideias a meio do processo.
Nesse entretanto Manuel Vicente vou chumbada a proposta que fez para que a sua cadeira na Sonangol fosse ocupada por Baptista Sumbe. Depois disso levou um “amarelo” por causa dos custos da Refinaria do Lobito, a SONAREF, que de três mil milhões de dólares passou para 8 mil milhões.
Contudo, alguns “insiders” dizem que a sua cotação na bolsa de valores continua altíssima. Não parece haver ninguém mais próximo de vir a ser o “delfim” de José Eduardo dos Santos.
ADELINO PEIXOTO-- É quem responde pela logística e pela administração do palácio. Cabe a ele evitar que ensombram a cidade não cheguem à casa do Presidente, “como aconteceu vão para aí sete anos. A descontração que irradiafazem dele a pessoa certa no lugar certo. Não se lhe conhecem alianças com ninguém lá dentro. De resto, parece que o tempo das facções já passou.
ALDEMIRO CONCEIÇÃO-- É, juntamente com o general José Maria, o mais antigo entre os assistentes de José Eduardo dos Santos. Foi durante anos a fio a voz do Presidente da República, embora na maior parte do tempo parecesse afónico. No novo cargo de chefe dos recursos humanos da Presidência da República não vai precisar da voz, se não para explicar exactamente o que vai fazer.
O despacho que o nomeia fiz que é o Director de Gabinete de Quadros dos Serviços Auxiliares do Presidente da República e Chefe do Executivo, ou seja, chefe do pessoal da Presidência. Porém, o que sectores próximos dele fazem constar é que vai herdar a comissão para levantamento sobre a situação dos quadros do país, que JES confiou a Frederico Cardoso.
FLORBELA ARAÚJO -- Reconduzida ao cargo de secretária para os Assuntos Judiciais e Jurídicos do Presidente da República, é um dos símbolos da discrição. Não é expansiva como era Toninho Van-Dúnem nem (demasiado) académica como o seu antecessor, Carlos Teixeira.
ANDRÉ MINGAS-- Ausente do país durante quase um ano por razões de saúde, André Minhas regressou exactamente em cima da hora. Reconduzido no cargo de secretário para os Assuntos Locais, André Minhas tem o benefício de contar com a disposição do Governo de “responsabikizar” mais o poder local. Já agora que venha daí o esperado disco.
MENA ABRANTES-- Sem ser um porta-voz como tal, o secretário para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa do Presidente da República fará a vez de “porte parole” sempre que for caso disso. As suas impressões digitais continuarão a aparecer nos discursos de José Eduardo dos Santos.
FRANCISCO QUEIROZ-- Com a reforma constitucional concluída, e diante da maioria que o MPLA tem no parlamento, é quase seguro que o ora nomeado secretário do Presidente da República para os Assuntos Políticos e Constitucionais tenha um grande volume de trabalho.
ROSA PACAVIRA MATOS-- Em condições normais, e perante os problemas sociais que há neste país, a secretária paraol os Assuntos Sociais não teria mãos a medir.
CARLOS A. FONSECA-- É entre os membros do “staff” do PR o mais discreto. Diz-se ser mais talhado para conceber estudos do que para gizar propostas para questões do dia-a-dia. Pelos vistos, José Eduardo dos Santos não se incomoda com isso, se de facto é este o caso.
ARMANDO MANUEL-- Antigo quadro do Ministério das Finanças, de onde saiu voluntariamente porque já não podia com Severim de Morais, Armando Manuel é a nova estrela do palácio presidencial. É, provavelmente, entre todos os economistas, que serviram o gabinete de José Eduardo dos Santos o mais respeitado aqui fora.
Passou por Londres, não exactamente pela “escola de York”, de onde vieram Manuel Nunes e Job Graça. Por altura da constituição do Governo o seu nome chegou a ser proposto para o cargo de ministro das Finanças. José Eduardo dos Santos pô “barra”, porque queria tê-lo por perto. Com o novo modelo de Governo será ele a sugerir ao Presidente quais as prioridades dos próximos OGE’s.
NITO CUNHA-- Se a Carlos Feijó cabe peneirar os dossiês, a Nito Cunha, director do Gabinete do Presidente da República, cabe decidir quando e que documentos vão à secretária do Presidente da República. É um dos homens mais importantes deste país. Não há quem não o conheça. A sua influência vai para lá da gestão da agenda do Presidente da República.
JOSÉ FILIPE-- Gere todo o cerimonial do Presidente da República. Não se lhe conhecem falhas. Os anos ajudaram-lhe a gerir o “stress”, pelo que já não tem aquele semblante carregado que o identificava, fosse segunda-feira, fosse domingo. O seu adjunto, Pedro António Saraiva, é um veterano da casa, exactamente o que ele precisava.
ANTÓNIO JOSÉ MARIA -- Permanece sólido como uma rocha, com a vantagem de não ter que lidar com correntes que lhe faziam frente tanto nas Forças Armadas, quanto na própria secreta militar.
SEBASTIÃO MARTINS -- Pode ser apenas uma coincidência, mas desde a morte de Serra Van-Dúnem, que o tirou do ministério, o de era vice, que “Potássio” (como também é conhecido) não pára de subir. A criação do Serviço de Inteligência e de Segurança do Estado, que ficará sob sua alçada, coloca toda a “inteligência” deste país sob o controlo directo do PR.
ANDRÉ SANGO-- Sem a sombra de Gilberto Veríssimo, tem agora tudo para devolver aos Serviços de Segurança Externa a tranquilidade que perdeu desde que Fernando Miala foi afastado.
FREDERICO CARDOSO -- Nomeado chefe da Casa Civil logo após Pitra Neto ter deixado o posto de vice-presidente do MPLA, Frederico Cardoso confirma um caso “subir descendo”. Secretário do Conselho de Ministros, cargo que ocupa desde 16 de Março, é seguramente menos visível do que o de chefe da Casa Civil. Mas, vamos e venhamos, mesmo que o Conselho de Ministros de hoje não seja o de ontem, este posto continua a ser dos mais importantes deste país. Por ali passa o estabelecimento e a execução de parte da agenda do executivo.
ANA MARIA DE SOUSA E SILVA -- José Eduardo dos Santos, pelos vistos, nunca foi com a cara de Joaquim Carlos dos Reis Júnior, secretário do Conselho de Ministros cessante, mas decidiu reconduzir a sua adjunta, conhecida por não ser trapalhona como ele. Bom reconhecimento.
LEOPOLDINO DO NASCIMENTO “DINO”-- Por qualquer razão o nome do chefe das Comunicações da Presidência da República não constou da lista de nomeados por José Eduardo dos Santos a 16 de Março. Não se pense, porém, que o general Dino perdeu terreno dentro da cerca. Continua influente como vem sendo há anos. Nos últimos anos ganhou rodagem por força de repetidas viagens com Manuel Vicente.
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