Sob o sugestivo título “Diz, e depois diz que ninguém disse isso”, corre em várias plataformas de redes sociais um vídeo em que o Presidente João Lourenço contraria o...Presidente João Lourenço!
No dia 29 de Setembro de 2017, por ocasião do seu discurso de investidura como primeiro Presidente democraticamente eleito pelos angolanos, João Lourenço disse que “corrupção e a impunidade têm um impacto negativo directo na capacidade do Estado e dos seus agentes executarem qualquer programa de Governação”. Por essa razão, exortou “todo o nosso povo a trabalhar em conjunto para extirpar esse mal que ameaça seriamente os alicerces da nossa sociedade”.
Em toda a campanha que culminou com a sua eleição a Presidente da República, João Lourenço mencionou a corrupção, a impunidade, a bajulação e as “ordens superiores” como males a que daria combate sem tréguas.
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No dia 13 de Dezembro de 2017, pouco mais de dois meses depois da sua investidura como Presidente da República, João Lourenço, nas vestes de líder do MPLA, presidiu ao encerramento de um semanário sobre o combate à corrupção, organizado pelo seu Partido. No discurso de encerramento, ele disse esperar que a realização daquele evento fosse “entendida como um sinal claro da vontade política e da determinação do MPLA em levar a cabo uma verdadeira cruzada de luta contra a corrupção, o nepotismo, o compadrio em todas as esferas da nossa sociedade e a todos os níveis até algum dia podermos declarar o nosso país livre destes males, a exemplo de quando se declara livre de uma epidemia que a todos ameaça (...)”.
Na sua primeira visita de Estado a Portugal, em Novembro de 2018, João Lourenço reafirmou a sua determinação de incinerar o ninho dos marimbondos, designação com a qual a partir daquele momento passou a referir-se aos angolanos, maioritariamente membros do seu Partido, que roubam recursos públicos.
“Quando nos propusemos a combater a corrupção em Angola, tínhamos noção de que precisávamos de ter muita coragem, sabíamos que estávamos a mexer no ninho do marimbondo, que é a designação, numa das nossas línguas nacionais, do terminal da vespa”, sublinhou, assegurando que não irá recuar porque “é preciso destruir o ninho do marimbondo”.
No dia seguinte à declaração do Presidente da República, o Jornal de Angola trasvestiu-se em papagaio e na sua manchete repetiu: “É preciso destruir o ninho do marimbondo”.
Seguiram-se inúmeras “juras” de combate sem tréguas à corrupção e sua irmã gêmea, a impunidade.
Mas, no dia 27 de Fevereiro de 2025, por descuido ou porque, como dizem os portugueses, “'«fugiu-lhe a boca para a verdade»',
o Presidente João Lourenço despiu-se da máscara e expôs todo o cinismo que tem acobertado o seu propalado combate à corrupção.
Intervindo na inauguração da chamada Casa do Kwanza – mais uma artimanha dos reciclados marimbondos para continuarem o saque – o Presidente da República anunciou ao País e ao mundo com a afirmação de que “nunca ninguém disse que vamos acabar com a corrupção em Angola”. Segundo ele, a luta contra a corrupção “é quase inglória”, e que não “existe país nenhum que tenha conseguido fazê-lo”.
Nesse dia, tivemos o Presidente João Lourenço a negar tudo o que pregou desde 2017. O dia 27 de Fevereiro entra nos anais da História de Angola como o dia em que o Presidente João Lourenço confessou que, no seu consulado, a luta contra a corrupção sempre foi uma treta para encobrir o voraz assalto à coisa pública.
A declaração do dia 27 não é nem chocante e nem surpreendente.
Os casos de Manuel Vicente, Eduarda Rodrigues, João Baptista Borges, Ricardo de Abreu, Joel Leonardo, Exalgina Gamboa e tantos outros larápios atestam que o combate à corrupção é apenas uma artimanha para afastar uns e chamar outros à selecta mesa onde é servido o repasto público.
Pessoas avisadas ou membros das (novas) famílias reinantes sempre souberam que a ladainha da luta contra a corrupção e a impunidade não é para levar a sério.
É por isso que, avisados da brincadeira, os filhos e afilhados do regime se entregaram à pilhagem descarada.
A roubalheira na AGT, Instituto de Bolsas, Ministério do Ambiente, Instituto de Supervisão de Jogos e noutras instituições públicas ganha tracção à medida que se se esfumam as hipóteses de um terceiro mandato.
A caminho, irreversível, para o fim dos seus dois tortuosos mandatos, ainda sobra tempo para colocar duas questões ao Presidente da República: a) contradiz-se porque lhe falha a memória ou b) contradiz-se porque não é coerente?
Nenhuma – quanto mais as duas – das hipóteses é aceitável num líder.
É por isso que os mandatos dele são marcados pelo desastre total.
Um país que se pretende institucionalmente normal não pode ter sucesso quando tem sob seu comando alguém que troca a palavra com a mesma facilidade com que o faz com uma camisa.
A verdade é dura, pode magoar, mas tem de ser dita: o Presidente João Lourenço nunca teve nenhuma intenção de combater a corrupção e a impunidade.
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